segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Leia nesta semana na Voz de Diamantina


              Gostar ou não de novelas já não é uma escolha livre do brasileiro. Queira ou não, ele tem sido obrigado a assistir - noite e dia - a longos e inconclusivos capítulos de mal engendradas tramas em que se enveredou o Brasil. E não adianta mudar de canal. A qualquer hora, nas mais variadas emissoras de TV, as más notícias pululam. A desnudar a imoralidade, a impunidade e a falta de civismo como os únicos, crescentes e deformados valores que emanam da seara política tupiniquim. Em todos os seus escalões. A contaminação é nacional. Tamanha dimensão vem alcançando este estado danoso de degradação institucional que assassinatos cruéis, assaltos violentos e outros tipos de crimes hediondos já são até vistos com certo desinteresse e tédio, como se naturais no cotidiano das cidades. Em meio a este teatro de horrores, passa até despercebida a grave situação econômica do país.
              Ao largo dos assuntos do momento, como os movimentos a favor do impeachment de variadas e poderosas autoridades, as ameaças de prisão de até então insuspeitos e santificados figurões, as denúncias de rotineiros e já apequenados roubos de bilhões de reais, resta-nos o consolo de morar no interior. Aparentemente imunes às altas da inflação, à perda de empregos, à recessão, que só parecem existir nos grandes centros.
              De fato, em nossa realidade local tudo parece correr bem. Finda a greve da UFVJM, que durou mais de 100 dias, a cidade voltou ao normal. Tanto sucesso têm alcançado as vesperatas que mais algumas foram adicionadas às do calendário oficial. E, mesmo agora, com a chegada mentirosa das chuvas e a temeridade de criar mais uns desses espetáculos a céu-aberto temporãos, a noite diamantinense continua a fluir. Leve, livre e solta. As mesas da Quitanda quase sempre cheias. A sinalizar que nosso mundo é outro.  Ouvem-se comentários de que, já de alguns meses para cá, não se consegue uma só reserva de hotel na cidade em todos os fins de semana, até o réveillon. Com a alta do dólar e a leva de feriados que engordam os fins de semana, a sensação reinante é de que o turismo interno chegou a estes altos de montanha para ficar. Ou, no mínimo, para voltar com inusitada e bem-vinda frequência.
              Pena é que o longo introito deste editorial seja, em parte, tão enganoso como o flanar aparentemente tranquilo da nossa economia. Na verdade - e neste espaço já se comentou esta preocupação mais de uma vez - Diamantina ainda não achou o seu eixo turístico. E (por que não dizer?) dificilmente o achará. Pela simples razão de que não se acha o que não se procura.

Parte do editorial da Voz de Diamantina, edição 743, de 07/11/2015

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