Fonte: Ailton Magioli - Cultura Portal UAI Estado de Minas
Debruçado sobre a obra de Marco Antônio Araújo (1949-1986), a imagem que persegue Alexandre Araújo nos últimos tempos é a do duo de guitarras que ele protagonizou ao lado do irmão na turnê de lançamento de Lucas, o derradeiro disco do instrumentista que morreu precocemente em janeiro de 1986, aos 36 anos. “Era fenomenal. Durava de dois a três minutos e era feito em duas Gibsons”, recorda, empolgado, o guitarrista. Aos 53 anos, ele terá a chance de retribuir aquela passagem histórica de carreira em recital de violão solo, nos dias 26 e 27, quando interpretará parte da obra erudita de Marco Antônio, desconhecida da maioria dos fãs do ídolo do rock progressivo.
“Ele deixou muito material escrito. Há partituras para trio, quarteto e até para sinfônica”, revela Alexandre Araújo, enquanto exibe o material, ao lado dos violões Admas (da série especial da Ovation) e Dornelas (do luthier paulista Francisco Dornelas), além de inúmeras fotografias de Marco Antônio Araújo ao lado de companheiros do grupo Mantra, que integrou antes de partir para a promissora carreira solo, interrompida pela brusca morte, provocada por um aneurisma. Responsável pelo acervo musical do irmão, Alexandre lembra que Marco Antônio era detentor da matrícula BM 001 da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), para a qual foi o primeiro músico contratado, como violoncelista.
“Do material que temos, dá para fazer de três a quatro discos inéditos, a maior parte de música de câmara, escrita para os integrantes da OSMG, que, na época, eram em sua maioria estrangeiros”, afirma Alexandre, lembrando que, ao montar o Marco Antônio Araújo Grupo com alguns desses músicos, o irmão acabaria criando o embrião do Mantra, grupo de música progressiva, ao substituir o baixo acústico pelo elétrico. O próprio Alexandre, vale lembrar, era o guitarrista do Mantra, que reunia ainda Max Magalhães (teclados), Ivan Corrêa (baixo), Eduardo Delgado ou Mauro Rodrigues (flautas), Antônio Maria Viola (violoncelo), Mário Castelo, Lincoln Cheib, Sérgio Matos, Fernando Delgado e José Luiz (bateria), além do compositor e líder do grupo ao violão.
Musicalmente expressivo para estudos, o acervo inédito de Marco Antônio tem peças de difícil execução, como o Concerto para violão e violoncelo, de 1979, constituído de três movimentos. De 1973, Marco Antônio Araújo deixou As cinco condições de um pássaro, em cinco movimentos, enquanto O cavaleiro das mil faces, para orquestra de câmara, data de 1978. Escrita no mesmo ano, a sinfonia Fantasia, para orquestra de câmara e banda, foi dedicada a Sérgio Magnani, que, além de primeiro maestro da OSMG, foi professor de Marco Antônio Araújo.
“O acervo de partituras é grande. Nele há também inúmeras obras inacabadas”, antecipa Alexandre, que, ao trazer a público pela primeira vez a obra inédita do irmão, espera despertar o interesse de patrocinadores para a edição em discos e em songbooks. Paralelamente, com a colaboração da jornalista Taís Ferreira, ele acaba de colocar no ar um blog sobre a vida e obra do irmão – http: marcoantonioaraujo.blogspot.com –, por meio do qual o internauta também encontrará link para acesso ao blog do próprio guitarrista, bluesman assumido: http:alexandrearaujoblues.blogspot.com.
Beatles e clássicos
Alexandre tinha 28 anos quando o irmão Marco Antônio morreu. “A memória musical, a experiência e toda a vivência, além de todo o sonho, são herança dele”, confessa o guitarrista, que, para se inteirar da produção erudita de Marco Antônio, voltou inclusive a estudar violão clássico. Pai de dois filhos – Lucas, de 27 anos, e Ana, de 26 –, Marco Antônio gravou e lançou quatro discos , além de reger e produzir outros dois sobre a obra do compositor barroco Lobo de Mesquita. De tiragem limitada, o LP Racional, de 1982, foi outro disco do músico, distribuído como brinde para clientes de um banco mineiro. A ideia de apresentar a obra inédita do irmão para violão solo veio da constatação de que este era o instrumento de composição de Marco Antônio.
A carreira do músico, que se tornou referência da música independente do estado, começa com a paixão pelos Beatles, que o levou a viver na Inglaterra por dois anos na década de 1970. De volta ao Brasil, fascinado pela música erudita, ele começou a estudar composição com Esther Scliar, violão clássico com Leo Soares e violoncelo com Eugen Ranewsky e Jaques Morelenbaum, no Rio. “Insisti nesta memória para ver se consigo eternizar as obras de Marco Antônio como elas foram escritas”, admite Alexandre Araújo, lamentando a constatação de o irmão ser praticamente um desconhecido para as novas gerações. “A memória, infelizmente, se apaga”, lamenta o guitarrista bluesman. E reforça que o irmão foi um dos pioneiros da música independente ao criar a produtora Strawberry Fields, em Belo Horizonte, que acabaria se tornando o selo responsável pelo lançamento de seus discos.
DISCOGRAFIA
. Influências, 1980
. Quando a sorte te solta um cisne na noite, 1982
. Entre um silêncio e outro, 1985
. Lucas, 1985
. Racional, 1982 (tiragem limitada)
Como produtor, Marco Antônio Araújo ainda faria dois discos sobre a obra do compositor barroco mineiro José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805).
ALEXANDRE ARAÚJO – VOO
Sala Sérgio Magnani da Fundação de Educação Artística, Rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários, (31) 3226-6866. Concerto de violão solo com a obra erudita inédita do irmão Marco Antônio Araújo. Dias 26 (quinta) e 27 (sexta-feira), 21h. Ingressos: R$ 25, com renda revertida para a Associação das Voluntárias da Santa Casa (Avosc).
Nenhum comentário:
Postar um comentário