A má fama dos vereadores
torna-se cada vez mais consensual no Brasil inteiro. A remuneração
desse múnus cidadão (de outrora) é um dos ruinosos legados do
golpe de 64. Até então, os vereadores davam algumas horas de um dos
dias da semana por civismo, amor à cidade em que moravam,
constituíam família e tocavam suas vidas. Na última legislatura,
talvez enciumados com a elevação do subsídio dos secretários para
R$ 6 mil, nossos edis aumentaram seu salário em 80%, dobraram o
valor da discutível verba indenizatória e incharam de nove para 13
o número de cadeiras na câmara, sem nenhuma consulta popular. Se
cada um dos membros dessa privilegiada casta de 56.810 vereadores
ganhasse, em média, R$ 1.000,00, quase R$ 60 milhões de reais
seriam necessários para liquidar mensalmente esta perdulária
fatura. Em Diamantina, esta fabulosa cifra teria de ser multiplicada
por cinco. A esta astronômica quantia, cujo montante anual chega a
alguns bilhões de reais, os parlamentares ainda somam a verba
indenizatória sem prestar contas, ou quando muito, valendo-se de
suspeitíssimas notas fiscais de combustível e outros embustes.
Não pretendia voltar ao
assunto nesta semana. Ao ler, porém, a Nota de Esclarecimento,
assinada pelo presidente da câmara e transcrita na página seis
desta edição, senti-me no dever de externar algumas considerações.
A começar pela omissão de desculpas que, penso, deveriam constar do
extenso documento e da dubiedade do presidente em nomear os autores
da proposta da criação de mais um ônus para o município. Acuado
pela intransigência da plateia, ele teve não apenas a coragem de
dizer que não se lembrava de seus nomes e de que a ata da reunião
já fora arquivada, como ainda - num infeliz arremate - ousou afirmar
que a proposta partira da mesa diretora. Mais que um acinte, tal
conivência desnudou um misto de pusilanimidade e de corporativismo.
Os vereadores que votaram a favor da criação do 13º se encontravam
lá. Nenhum deles, porém, teve a hombridade de levantar-se, declarar
e defender sua posição. E nem foi preciso: seu presidente os
livrara dessa obrigação moral.
Parte do editorial da Voz
de Diamantina, edição 732, de 22/08/2015
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