Excerto do Capítulo XXII do livro Angu, Feijão e Couve, de Eduardo Frieiro*
(...) Viajando por Minas, em 1840, notou Gardner, todavia, o uso imoderado da cachaça na região de Diamantina, e não só entre os pretos que tinham motivos de sobra para ingerirem álcool com frequência, mas entre os brancos de ambos os sexos, em todas as camadas sociais, os quais lhe pareceram também largamente viciados. Viu contudo poucos casos de embriaguez.
Richard Burton referiu-se também à nossa cachaça: “A aguardente, disse, citando o Dr. Johnson, é bebida de heróis e aqui os homens bebem heroicamente a sua cachaça; o resultado é a hepatite, a hidropisia e a morte!” Seu emprego lícito, aduziu, é no banho depois de insolação ou para afastar os incômodos insetos. Reconhecia que, bebida com moderação, especialmente em manhãs frias e tardes úmidas, fazia mais bem do que mal. O homem do povo, francamente a seu favor, reconhecia-lhe as virtudes de refrescar o calor, aquecer o frio, secar o úmido e umedecer o seco. Bons pretextos – se acaso fossem necessários – para um gole. O hospedeiro brasileiro, geralmente, mandava ao seu hóspede uma garrafa dela com a tina de água quente, para o banho.
Gardner não mentia: os diamantinenses granjearam a fama de amigos da pinga e ainda a conservam em nossos dias. Exigência do clima frio, provavelmente. Pelo norte de Minas correm estes versinhos folclóricos:
Montes Claros dá toucinho,
Bocaiúva dá feijão,
Buenópolis dá dinheiro,
Diamantina dá pifão.
Os diamantinenses, ao menos os dotados de senso de humor, não o negam. Como aquele que cantava:
Na Diamantina nasci,
É minha terra, pois não.
Bebendo pinga cresci
E hei de morrer no pifão.
Aires da Mata Machado Filho cita no seu livro Arraial do Tijuco, Cidade Diamantina os versinhos de um coreto que, no dizer dos antigos, era cantado pelos pretos de São João da Chapada:
Óia como bebe
Esse povo do Brasi:
Inxuga um garafom
Mai depressa qu’um funi.
*Gentilmente enviado por Valéria Miranda e Sâmia Abbas.
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