sexta-feira, 26 de abril de 2013

Assis Horta: a democratização do retrato fotográfico

Sediada no Centro Cultural e Turístico do Sistema Fiemg, em Ouro Preto, mostra reúne o rico acervo do fotógrafo, pioneiro no registro de representantes da classe operária

A Democratização do Retrato FotográficoEnquanto manteve entre as décadas de 40 e 70, um estúdio fotográfico em Diamantina, Assis Horta, hoje com 95 anos, registrou, em chapas de vidro, praticamente toda a sociedade daquela cidade, além de inúmeras paisagens históricas do entorno. Recentemente, ao pesquisar o acervo, o professor e fotógrafo Guilherme Horta se deparou com outra vertente daquela coleção: centenas de retratos 3x4 feitos para carteiras de trabalho. Foi quando surgiu a proposta da exposição “Assis Horta: a Democratização do Retrato Fotográfico”. A mostra será aberta no dia 1º de maio, às 10h, no Centro Cultural e Turístico do Sistema Fiemg, em Ouro Preto, em homenagem aos 70 anos da C.L.T.

Vencedora do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia de 2012, na categoria Reflexão Crítica, a exposição, com curadoria do próprio Guilherme Horta, recupera, por meio de imagens de retratos daqueles tempos, como ocorreu a democratização da linguagem fotográfica naquele período. Após a Consolidação das Leis do Trabalho (C.L.T.), em 1° de maio de 1943, milhares de trabalhadores sentaram diante de uma câmera fotográfica, provavelmente pela primeira vez, para regularizar o seu registro profissional (art 13.) e aplicar o seu retrato 3x4 na C.T.P.S. – carteira de trabalho e previdência social (art. 16).

A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. Foi o instante em que o retrato entrou na vida do trabalhador comum com várias funções: seja para realizar sonhos, dignificar as pessoas, atenuar a saudade, eternizar esse ser humano e mostrar a sua face. A exposição resgata aquele período do início do uso do retrato pela classe operária brasileira após o decreto em 01/05/1943.

O acervo fotográfico de Assis Horta, sobre a classe operária de Diamantina, representa um “corte” nessa nova possibilidade da fotografia no Brasil ainda pouco estudada. A exposição vai revelar aquela época em três segmentos: “O Decreto”, que apresenta fotografias 3x4 datadas de trabalhadores. Um outro momento é dedicado à “Identidade ou Retrato”, quando o uso da fotografia como identidade é confrontado com o Retrato Fotográfico. Por fim, o “Trabalhador no Estúdio”, série em que são reveladas fotografias de operários com amigos, com a família, em poses que o definem como alguém especial na sociedade.

Além deste trabalho, Assis Horta também realizou, a convite do historiador Rodrigo Melo Franco de Andrade, para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma série sobre a paisagem histórica de Diamantina. As imagens tiveram papel decisivo no tombamento da cidade pelo órgão federal.

Quando Guilherme se viu diante do acervo de Assis Horta, o que mais lhe chamou a atenção não foi a parte mais valorizada por todos, mas, sim, as milhares de chapas de vidro com retratos 3x4 de trabalhadores e, também, algumas outras poses destes mesmos operários que, após realizar o primeiro retrato, resolviam voltar para registrar nova imagem de corpo inteiro. Diante da “descoberta”, resolveu propor o tema da premiada pesquisa que deu origem à mostra “Assis Horta: Democratização do Retrato Fotográfico”.

A intenção, desde o início, foi relacionar o uso do retrato fotográfico pela classe operária por meio da C.L.T. “Vi ali a possibilidade de entender o que a obrigatoriedade do retrato, imposta pela legislação trabalhista, impactou na fotografia do período. Foi quando a classe operária descobriu a foto”, explica.

Assis Horta tinha um método rígido diante da técnica fotográfica. Fazia uma chapa só, o que lhe exigia dedicação e preparo até disparar a máquina. Com sua câmera sanfona, de tripé, usando luz natural, que entrava por uma janela lateral no estúdio, com fundo pintado e tapete persa, ele ajudava os clientes a preparar a pose ideal. Muitas vezes, emprestava a roupa para que a foto saísse aos moldes do padrão francês do início do século 20.

Educativo

Com o objetivo de situar o visitante no tempo, de modo a promover o entendimento das regras usadas por Assis Horta na década de 1940, a exposição reconstituirá o estúdio do fotógrafo em Diamantina. Além de compreender todo o mecanismo técnico do período, o visitante terá a oportunidade de interagir com a mostra, ao reviver a fotografia de época usando sua própria câmera. Fica a dica, portanto: leve seu celular ou sua câmera digital para a exposição. E use sua melhor roupa!


Serviço
Exposição: “
Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico”

Curadoria e Pesquisa: Guilherme Horta

Projeto vencedor do XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte

Abertura: 1º de maio, às 10h, no Centro Cultural e Turístico do Sistema Fiemg

Período de visitação: 1º de maio a 2 de junho de 2013, de segunda a domingo, de 9h às 19h

ENTRADA GRATUITA
Endereço: Centro Cultural e Turístico do Sistema Fiemg - Galeria Fiemg - Praça Tiradentes, 4 - Ouro Preto - MG
Mais informações: (31) 3551-3637

Um comentário:

  1. Parabéns a Fiemg por essa iniciativa “Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico” homenageando um grande fotografo com seu 95 anos de idade e lúcido para contar as historias do seu tempo pela arte de fotografar.
    Orgulhamos de você Papai.
    Sílvia Horta

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