domingo, 19 de maio de 2013

Pesquisadores revelam como lavradores do Jequitinhonha gerenciam a escassez de água

Fonte: (Itamar Rigueira Jr./Boletim UFMG 1819)

capa%20livro%20lavradores.jpgAfetadas de formas diferentes pela escassez cíclica de água, comunidades rurais no Alto do Jequitinhonha, no Nordeste de Minas, criaram estratégias – produtivas e políticas – para lidar com a situação. Lógicas de consumo, critérios de prioridade e técnicas de administração comunitária de abastecimento e acesso às fontes compõem o repertório de gestão da escassez.

Estudos que exploram a relação desses agricultores com a água estão reunidos no livro Lavradores, águas e lavouras: estudos sobre gestão camponesa de recursos hídricos no Alto Jequitinhonha, recém-lançado pela Editora UFMG. A coletânea de artigos analisa, sob diferentes ângulos, os dilemas originados da tensão entre consumo, conservação e regulação da água em comunidades camponesas.

“Esses estudos mostram que existem singularidades locais, regionais e nacionais. E que é preciso transformar cada particularidade de uso, gestão e conhecimento na base da norma geral de regulação das águas”, explica a professora do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG Flávia Maria Galizoni, organizadora da obra.

De acordo com a pesquisadora, as populações rurais e seus sistemas locais de acesso à água inspiram reflexões fundamentais: “Devemos discutir sobre a quem pertence a água, quais as prioridades de uso e como ela deve ser distribuída e partilhada”.

Enfrentamento
A coletânea resulta de trabalho que uniu o Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura Familiar (Núcleo PPJ), da UFMG, o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) e o Centro de Voluntariado Internacional (Cevi). Essas organizações se viram frente a frente com o tema da água por iniciativa de comunidades que, desde o final dos anos 1990, tiveram que lidar com a escassez mais crítica.

“As nascentes secavam, as águas minguavam e o abastecimento já era feito, em parte, por carros-pipa. As famílias, então, se organizaram e articularam apoio externo para compreender a situação”, conta Flávia Galizoni.

A obra começa apresentando a realidade no Alto Jequitinhonha e a rede que envolve comunidades rurais, organizações sociais e universidade. “Esta primeira parte mostra como as comunidades desenvolveram tecnologias para lidar com a água, e os ensinamentos desse esforço, além de abordar inovações metodológicas na relação entre academia e organizações civis”, salienta Flávia Galizoni, que é doutora em Ciências Sociais pela Unicamp.

Capítulos seguintes contêm etnografias e estudos técnicos que sintetizam aprendizados de quase 14 anos sobre aspectos como alterações na dinâmica da água e organização do trabalho familiar a partir da disponibilidade hídrica.

A obra trata também de experiências que uniram comunidades, ONGs e pesquisadores – como as de conservação comunitária de nascentes – e de conhecimentos acumulados por universidades e projetos de cooperação internacional. Além de pesquisadores da UFMG e de outras universidades, os artigos são assinados por agricultores e profissionais ligados a organizações civis.

Em texto de introdução ao livro, Flávia Galizoni lembra que, para boa parte da população rural brasileira, “a partilha da água é mais que um aspecto de regulação: é parte fundamental de sua cultura”. Por isso, é crucial, segundo ela, compreender as formas pelas quais as famílias e comunidades aliam costumes e necessidades para usar, regular, distribuir e conservar a água.

Livro: Lavradores, águas e lavouras: estudos sobre gestão camponesa de recursos hídricos no Alto Jequitinhonha
Organizado por Flávia Maria Galizoni
Editora UFMG
254 páginas/R$ 42 (preço sugerido)

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