Fonte: Jornal Hoe em Dia (clique aqui) e veja o filme no Youtube (clique aqui)
Helena Solberg ainda se lembra, divertida, da primeira exibição de “Vida de Menina” em Diamantina, numa praça pública, ao notar a surpresa dos moradores quando viram sua cidade destacada na tela grande. “Eles não imaginavam que Diamantina era tão linda”, recorda a cineasta. Dez anos após essa experiência, equipe técnica e elenco se reencontrarão em Belo Horizonte para a apresentação especial do filme, no domingo, às 13h, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, dentro da programação da extensão mineira do “Festival É Tudo Verdade”, com início nesta quinta-feira (24).
“Estamos tentando contatar todo mundo, mas os que não encontrarmos já se considerem convidados pela reportagem”, avisa Helena, assinalando que o convite também vale para os muitos figurantes que participaram da adaptação do diário de Helena Morley, escrito na Diamantina do século 19.
“A cidade abraçou o filme. Foi muito interessante iniciar uma filmagem num horário meio ingrato, às 4 horas da madrugada, e ver um batalhão de pessoas já vestidas para participar”, destaca a diretora. Carinho, por sinal, é a palavra à qual todos os integrantes mais recorrem ao falar do filme.
Beco do Mota
Um dos atores do filme, Luciano Luppi lembra de “um período gostoso, no qual a equipe trabalhava com harmonia a partir da condução carinhosa de Helena”. Ele interpreta Mota, personagem histórico que dá nome ao famoso beco da cidade e que cruza o caminho da protagonista.
O diário destila ironia ao acompanhar como as mudanças econômicas motivadas pela decadência da mineração refletiam nas relações sociais e familiares. O livro foi destacado pelo sociólogo Gilberto Freyre (1900–1987) como “único documento que existe no Brasil que fala do cotidiano sem ser memórias”.
Outro integrante do elenco foi o Elvécio Guimarães na pele de um padre rabugento. “Não gosto muito de cinema porque, como todo mundo sabe, é uma arte do diretor. Mas, nesse, fiz as pazes com o cinema. Helena Solberg sempre estava disposta a conversar e a aceitar as nossas sugestões”, recorda.
Os bastidores das filmagens estão também no livro “Helena Solberg, do Cinema Novo ao Documentário Contemporâneo”, escrito pela jornalista e diretora mineira Mariana Tavares, que terá lançamento no sábado, às 16h.
Um carinho que trouxe conforto na volta do exílio
O carinho recebido em Diamantina serviu como um conforto para Helena Solberg, que voltava de um “exílio” de 30 anos nos Estados Unidos, onde assinou importantes obras no gênero documentário e realizava, com “Vida de Menina”, o seu primeiro filme de ficção.
“Uma personagem maravilhosa como Helena Morley não caberia apenas num documentário”, registra a cineasta paulistana, hoje com 74 anos. O que não quer dizer que Helena deixou de flertar com o documentário. “O diário é um documento verdadeiro”, salienta.
A preocupação da realizadora foi a de não fazer uma mera ilustração do texto. Ao lado da roteirista Elena Soárez, chamou a atenção para uma menina de 13-15 anos transgressora, que questionava tudo a seu redor, especialmente a conservadora sociedade mineira do século 19.
A mulher, por sinal, sempre teve um papel relevante em sua filmografia, até hoje pouco conhecida. Autora do livro “Helena Solberg, do Cinema Novo ao Documentário Contemporâneo”, Mariana Tavares assinala que Helena só ganhou destaque na mídia quando lançou “Carmen Miranda: Banana is My Business”, em 1994.
50 anos de cinema
“Esse documentário, que tem um grau de articulação muito grande, não nasce do nada. O seu trabalho anterior, com filmes sobre a política na América Latina, serviram de preparação”, destaca Mariana, que teve como ponto de partida, para o livro, sua tese de doutorado na Escola de Belas Artes da UFMG.
O curta-metragem “A Entrevista”, primeiro título de Helena, foi filmado há exatamente 50 anos. “Ela fazia parte do grupo do Cinema Novo e participava das discussões, mas, ao ir para os Estados Unidos cedo, se tornou o nome menos conhecido, ao lado de David Neves”, registra.
No exterior, Helena se aliou a um grupo de documentaristas estrangeiros preocupados com a situação da América Latina. “Ela trabalhava grandes temas, mas sempre individualiza as questões, elegendo personagens para se aprofundar no tema. O espectador aprendia muito e também se emocionava”, detalha Mariana.
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