Convido o amigo leitor a fazer uma pesquisa muito simples e interessante. Sentado em frente ao computador, faça uma rápida consulta ao grande oráculo Google para acessar os sites de algumas prefeituras de cidades históricas brasileiras. Tenho algumas sugestões: Congonhas (www.congonhas.mg.gov.br), Ouro Preto (www.ouropreto.mg.gov.br), Sabará (www.sabara.mg.gov.br/site/), Olinda (www.olinda.pe.gov.br) e Diamantina (www.diamantina.mg.gov.br). Provavelmente esse é o comportamento da maioria dos turistas que pretendem fazer uma viagem para conhecer uma cidade histórica. Afinal, a internet é atualmente uma das principais fontes de informação para quem pretende viajar para um lugar desconhecido.
Uma análise superficial será suficiente para fazermos algumas considerações iniciais e chegarmos a uma conclusão. No aspecto estético, Diamantina destaca-se negativamente. Não sou especialista em web design, mas percebe-se claramente que as demais cidades utilizam os vários recursos tecnológicos para valorizar os seus atrativos. Congonhas e Ouro Preto apresentam de forma dinâmica as belas fotos de seus prédios históricos. Olinda abusa das cores para dar leveza e beleza ao seu portal. No site de Sabará é possível até acessar a TV Sabará, com vídeos institucionais sobre a cidade e a administração municipal. Na contramão das cidades irmãs, o site de Diamantina é pesado, estático e conservador.
Um olhar mais atento para o conteúdo disponibilizado nos sites oficiais nos permite outras descobertas e reflexões. Em Congonhas o cidadão pode acessar vários serviços públicos pela internet, tais como a segunda via de IPTU, diário oficial eletrônico, licitações, recolhimento de impostos e outros. Demonstrando transparência e interatividade, lá estão disponíveis leis, estatutos, organogramas, prestação de contas e até um canal de comunicação do prefeito coma população. Mas o que mais nos chama atenção é a qualidade das informações que valorizam a cultura e o patrimônio histórico da cidade. Destaque especial é dado para a vida e obra do grande Mestre Aleijadinho. Fica a impressão de que em Congonhas o turismo parece ser levado a sério, pois o visitante pode encontrar vídeos, fotos e informações sobre as opções de hospedagem e alimentação na cidade. O site de Ouro Preto mantém o mesmo padrão, recheado de informações sobre atrativos turísticos, hospedagem, alimentação e, principalmente, uma agenda cultural organizada, atualizada e repleta de opções. Sabará segue a mesma linha, disponibiliza muita informação para o cidadão e o seu visitante. Atualmente, a cidade está realizando o 13º Festival do Ora Pro Nobis, divulgado pelo site como um dos maiores festivais gastronômicos de Minas Gerais. Um belo exemplo de valorização de um produto local.
Para não ficarmos somente em Minas Gerais, se formos para Olinda, em Pernambuco, encontraremos um site muito bonito e bem desenvolvido; com informações detalhadas e bem organizadas para o cidadão e para o turista. Destaque especial fica por conta da abordagem dada ao carnaval de Olinda, provavelmente o melhor carnaval de rua do país.
Por fim, vamos fazer um rápido tour pelo site oficial de Diamantina. Clicando em suas opções teremos algumas surpresas não muito agradáveis. Vamos começar pela barra superior, na seção “histórico”. Por se tratar de uma cidade histórica, espera-se algo melhor. Constata-se que a história de Diamantina, tão rica e importante, é descrita de forma tão pobre e reduzida em um texto de cinco parágrafos. Ao ler as informações do item “localização”, verificamos mais um equívoco, o turista desavisado vai pensar que é preciso obrigatoriamente passar por Belo Horizonte para chegar a Diamantina. Em “hospedagem” e “gastronomia” as informações estão claramente desatualizadas. Os dados sobre os “pontos turísticos” são pobres, sem indicação de localização ou horário de funcionamento. Para uma cidade com pretensões turísticas, tudo deixa a desejar.
Vamos agora para a barra lateral esquerda, começando pela opção dos “dados políticos”. Lá estão as fotos oficiais do prefeito e seu vice. Porém, o espaço da mensagem do prefeito está em banco. Será que não há nada para dizer aos cidadãos e possíveis visitantes? Descendo, verificamos que “estrutura administrativa” está totalmente desatualizada. Na seção de “contas públicas” os dados são inexistentes. Em “hinos e símbolos” verificamos outra contradição. A cidade da vesperata, de Lobo de Mesquita e que se orgulha de sua musicalidade não tem a letra do seu hino disponibilizado. As “fotos” disponíveis na “galeria” são de baixa qualidade, distorcidas e desatualizadas. É triste saber que a cidade, que já foi fotografada por Chichico Alkimin, Assis Horta e tem entre seus moradores Eustáquio Neves, um dos maiores fotógrafos brasileiros da atualidade, seja apresentada ao mundo de forma tão descuidada. Na seção chamada “eleições municipais” os dados dos vereadores estão desatualizados. Na área de “educação” chegamos ao absurdo de não ser mencionado que somos uma cidade universitária, que temos uma universidade federal, privilégio e orgulho para qualquer cidade. E por último, a “agenda cultural” é um caso especial, desatualizada e sem grandes opções.
Ficam, então, algumas perguntas: que Diamantina queremos mostrar para o mundo? Uma cidade desorganizada, improvisada, desatualizada e onde as coisas não acontecem? Uma cidade que não respeita seus símbolos e riquezas? Será um problema de incompetência técnica ou descaso? Não acredito na primeira opção, pois as novas tecnologias estão cada vez mais acessíveis e baratas, além de termos na cidade vários profissionais competentes e alunos do curso de Sistema de Informação da UFVJM. Será que a cidade não tem uma história bonita para contar? Não temos belezas naturais para mostrar? Não temos personagens interessantes? Definitivamente não são esses os motivos, basta lembrar o fato de que a cidade e a sua gente são constantemente escolhidas como tema e cenário de belos filmes, documentários, livros, novelas e até minisséries globais.
Enfim, vivemos em um mundo globalizado, estamos sob o novo paradigma da sociedade informacional. É preciso saber que valorizar o passado não é fechar os olhos para o presente, nem se esconder do futuro. Diamantina precisa urgentemente de novas idéias, precisa assumir seu posto de vanguarda e ousadia. Precisa mostrar para o mundo a sua história, suas riquezas, seu povo e sua cultura. Diamantina precisa abrir sua janela para o mundo, respirar o ar da contemporaneidade e jogar-se nesse grande mar virtual.
Foto: Wallace Faria, no Flickr