Publicado no Divirta-se do Estado de Minas, em 17/12/2011
Instrumentos de teclado históricos e relevantes em Minas Gerais é o que não faltam, e o mais famoso deles é o órgão Arp Schnitger da Catedral da Sé de Mariana. Construído na Alemanha, na primeira década do século 18, esse órgão foi enviado inicialmente a uma igreja franciscana em Portugal, e chegou ao Brasil em 1753, como presente da coroa portuguesa ao primeiro bispo de Mariana. É um instrumento de grande importância, tanto pela sua antiguidade e comprovada autoria – já que Arp Schnitger é tido como um maiores construtores de órgãos de todos os tempos – quanto por ter sido objeto de um amplo trabalho de restauração. Entre os órgãos da manufatura Schnitger que sobreviveram até hoje, esse é um dos exemplares mais bem conservados e o único que se encontra fora da Europa.
Josinéia Godinho, que desde 2000 está radicada em Mariana – onde é uma das organistas responsáveis pela programação de concertos –, conta que seu primeiro contato com este tesouro musical se deu em 1989, logo depois da restauração da peça, em 1984. O trabalho de recuperação fez com que músicos de todos os cantos passassem a vir com certa frequência à cidade mineira para dar palestras, cursos e concertos. Para ela, o mais interessante do órgão é ser o único concebido por Arp Schnitger que se encontra fora do Velho Mundo. “Quando a gente vai para a Europa e conhece outros instrumentos do mesmo construtor, notamos esse parentesco sonoro. Ele tem um som muito bonito e a qualidade é a mesma dos outros Arp Schnitger. Se este tipo de órgão for bem cuidado, dura muitos anos, e principalmente se for muito tocado, já que quanto mais se toca, melhor. Os tubos de órgão funcionam como flautas. A passagem do ar limpa os tubos, por isso é importante seu uso contínuo”, frisa.
Enquanto isso... ... Em Diamantina
Um dos órgãos barrocos mineiros mais relevantes se encontra em Diamantina, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída pelo contratador João Fernandes de Oliveira, a pedido da lendária Chica da Silva. O instrumento foi feito em Minas Gerais entre 1782 e 1787 e era tocado com regularidade pelo compositor Lobo de Mesquita, que coordenou sua construção. Há quase 60 anos parado, aguarda restauração. Segundo Marcela Bertelli, responsável pela gestão do projeto de reforma do órgão, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o instrumento já está desmontado e encaixotado e está sendo analisada qual a melhor alternativa para executar o trabalho.
De acordo com ela, o Brasil tem poucos órgãos que datam do período ibérico (séculos 16 e 17), como os de Mariana, Tiradentes e São João del-Rei, e que por isso não há organeiros (espécie de luthiers de órgãos), para cuidar ou reparar essas valiosas peças. “Então, obrigatoriamente, temos que enviar o instrumento para outro país ou trazer gente de fora. No caso do órgão de Diamantina, até o fim do mês vamos decidir se ele será enviado para a Espanha ou iremos trazer uma equipe de técnicos estrangeiros para Minas. Isso é mais vantajoso para a cidade, pois dá oportunidade de a população acompanhar todo o processo, participar de oficinas, mas é também mais caro”, explica Marcela.
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