Autor: Joaquim Ribeiro Barbosa - “Quincas”
Quase mudei o título deste editorial por achá-lo muito batido. Mas não há como negar: lençóis lembram leito, intimidade, concórdia; revestem entrega, confiança, fidelidade; simbolizam núpcias, companheirismo, entrelaçamento. Por que então não usar peça tão largamente apreciada para expressar o grande, desprezível e sofrido desencanto da traição? Relacionar esta expressão às artimanhas da política pode parecer desrespeito à sacralidade do leito, das núpcias, da fidelidade. Mas o momento de tensão vivido por este velho e sofrido burgo está implicitamente atrelado aos princípios e aos sempre alardeados ideários dos partidos políticos. Pelo que se sabe, havia um pacto entre gente aparentemente séria e confiável. Único motivo, aliás, para que a sigla apoiasse a eleição de um de seus vereadores à Presidência da Câmara e, automaticamente, à posição de prefeito interino. Palavra que não deixa dúvida de que seu titular ocuparia o cargo temporariamente, guardando o lugar para quem, de fato e pelo peso do grande número de votos com que se elegeu, teria precedência. O que ocorre, entretanto, quando o interino desdenha sólidos compromissos e cai na tentação de permanecer na função para a qual não foi eleito pelas urnas? Em termos partidários - nada! Pois a classe política, com honrosas exceções, já de muito vem desmoralizando estatutos, tratados e promessas assumidas.
Muito se diz que Maia - o interino - foi mordido pela mosca azul. Esta alegoria descreve pessoas que se mostram deslumbradas pelo poder. Em um poema de Machado de Assis, nosso escritor maior, um plebeu, ao deparar-se com misteriosa mosca azul, vislumbra-se como soberano de vasto império, um rei cercado por mulheres e empregados, amado por todos, glorioso vencedor de batalhas. Ilusão que lhe custa a sanidade. Como se suas entranhas pudessem explicar o motivo de tamanha beleza, a mosca é dissecada pelo pobre carpinteiro, que nada vê além de um inseto morto, baço, asqueroso. "Dizem que ensandeceu, e que não sabe como perdeu a sua mosca azul". Literatura à parte, Maia não foi picado pela mosca azul. E nem apenas por um solitário inseto dessa espécie. Mas por um bando de moscas varejeiras. Com seus anestesiantes ferrões, nojentas moscas verdes, tão comuns ultimamente em nossa degradada Diamantina, inocularam ovos do parasitismo na frágil e desprotegida epiderme de um governo provisório. Em menos de dois meses, transformaram-se em resistentes bernes, cuja maléfica ação já resultou na criação de quase 130 novos postos na prefeitura. A generosidade de Maia para dar empregos públicos, em tão pouco tempo, suplantará com folga esse mesmo tipo de irresponsabilidade que marcou a gestão do padre. Maia dispensou os protegidos do pseudoreverendo para inchar a máquina pública com seus preferidos e indicados.
Continua na Voz de Diamantina edição 603 de 02 de março de 2013
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