Diferentemente dos anteriores, o carnaval deste ano da graça de Deus de 2014 não sairá facilmente da memória do diamantinense. Menos ainda, de suas preocupações. E, para surpresa de alguns, de suas esperanças também. Só os menos atentos não vislumbraram o início de um novo tempo para o maior dos nossos eventos. Aí é que está! Até no convite para a folia do grupo Me Ampara Senão Eu Caio deixou de constar, abaixo do dia e hora da concentração, que o bloco sairia pouco antes ou depois da chuva. Mera distração? Nada disso! A própria natureza desejava participar de um carnaval que já estava fadado a reinventar-se. Bastando para tal revirar o riquíssimo baú dos carnavais de antigamente. E retirar dele, camada por camada, as infindáveis rodas de serpentinas, as nuvens coloridas de confete e o mundo de lembranças de uma festa em que se dançava, se brincava e se atiravam para o alto as preocupações, as ansiedades, os tormentos d’alma. Sem grandes gastos, sem tolas sofisticações, sem ensaiadas poses. Apenas com a vontade de vestir uma fantasia e sair por aí festejando a alegria de Momo. Ligeiramente inebriado pelas etílicas tentações de Baco. Mas sem perder a leveza, o donaire, a delicadeza do cortejo sutil de Arlequim, dos olhares cúpidos de Pierrô e da irresistível sensualidade de Colombina, triângulo amoroso que se apaixona a cada passo de dança, a cada piscar de conquista, a cada aurora e ocaso de todos os carnavais. Principalmente deste que tem tudo para simbolizar a reconstrução do mais alegre, seguro e organizado carnaval do país.
Início do editorial da Voz de Diamantina - Edição 656, 08 de março de 2014
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