sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Voz de Diamantina: um país descrente de seus homens públicos

Capa (57)

Eu já sou desses idosos que vivem sua última década. Com pouquíssimas chances, aliás, de que a vejam chegar ao seu último ano. Sou também do reduzido grupo de brasileiros obrigados a votar. E, mais ainda, componho o cada vez mais restrito e crédulo punhado de gente que teima em ir às urnas e lá depositar seu voto espontaneamente, apesar de já liberado desse múnus constitucional. Quase todos nós que alcançamos sete décadas de existência praticamos esse ato de cidadania porque fomos criados fiéis a outros valores e nos rendemos, desde cedo, à crença de que o voto - rebaixado a mero dever cívico - é a mais forte, autêntica e pacífica arma da democracia. Assim como o voto em branco e sua anulação se constituem no mais inconsequente aval aos políticos demagogos, de carreira, profissionais. Ou seja, quase todos eles.

À semelhança de grande parte dos brasileiros, nós também repudiamos a propaganda eleitoral gratuita. Do mesmo modo, nos revoltamos com a dinheirama gasta por empresas públicas e paraestatais na embusteira tentativa de endeusar falsos, megalômanos e perdulários patrões governamentais. O que, entretanto, nunca nos esmorece de exercer a prerrogativa cidadã de eleger vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidentes da República, a não ser que nos falte a saúde e se apaguem das nossas consciências os mais elementares fluxos de honradez e vitalidade.

Tais realidades me afloram à mente a poucos dias do início da propaganda eleitoral gratuita, em que minutos de exposição na mídia foram imoralmente comprados ou barganhados por cargos bem remunerados, nomeações em altos escalões num vergonhoso comércio de favores, de prestígio, de facilidades que tanto apequenam a nação.

Início do editorial da Voz de Diamantina - Edição 679, de 16 de agosto de 2014

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