Fonte: Jornal Hoje em Dia (clique aqui)
A libertação de Paris do domínio nazista desencadeia uma reação popular de júbilo em Diamantina. A carreira política de JK – bem como seus hábitos notívagos – é acompanhada em seus mínimos detalhes. Já a publicidade – por meio de ilustrações – aponta para uma fonte de estudos de variedades dos costumes e hábitos de consumo daquela época.
Esses fatos, que já fazem parte da história mundial e brasileira, estiveram sob o olhar vigilante de “O Pão de Santo Antônio”, jornal fundado em 1906 e sucedido, após a década de 1930, pelo “Voz de Diamantina”. Pois bem, cerca de 4 mil exemplares desses jornais tipográficos, impressos por esse método até 1990, passam, agora, por um processo de restauração, já em sua fase final.
Professora do curso de Conservação-Restauração da UFMG, Ana Utsch lembra que, além da importância dos jornais, relativa ao modo de produção tipográfica, o acervo tem uma relevância grande exatamente pelo fato de ser uma fonte da história do século 20 no Brasil e no mundo com a dimensão do olhar local. “Por exemplo: recentemente, identificamos, em um exemplar da década de 1940, uma exaltação que aconteceu em Diamantina para comemorar a retomada de Paris e a resistência francesa, e há uma narrativa descritiva com personagens. E todo o percurso político de Juscelino Kubitschek pode ser também identificado nesses jornais, desde o início de sua carreira política, na qual é apresentado quase sempre como um herói”.
Até anedotas da vida íntima de JK são encontradas nos exemplares, como o seu hábito de “não dormir”, explica Ana Utsch, que reforça a necessidade de conservação desse material histórico. “O projeto nasceu do desejo de conservar, restaurar preservar e divulgar um acervo relativo ao patrimônio gráfico de Diamantina que foi constituído através de longa atividade editorial com o nascimento do jornal ‘Pão de Santo Antônio’, criado pela associação Pão de Santo Antônio, em 1906, e impresso em tipografia até 1990”. De 1906 a 1933, o jornal circulou com o nome de “Pão de Santo Antônio”, mas sua edição foi interrompida e, quando voltou às bancas, como já dito, adotou o nome de “Voz de Diamantina”.
Em 2015, o Museu da Casa do Pão de Santo Antônio
O projeto de resgate é ambicioso: todo o acervo documental já foi totalmente digitalizado e vai se transformar numa espécie de biblioteca eletrônica, podendo ser consultada em qualquer lugar do mundo.
Não só. “Todo o material tipográfico está passando por um processo de restauração, os equipamentos remanescentes do jornal como prelo de provas, cavaletes com títulos para composição tipográfica, uma grande máquina impressora do século 19”.
Responsável pela coordenação de equipe de restauradores, designers, historiadores e museógrafos, Ana Utsch ressalta também que será criado um “museu ativo”: o Museu da Casa do Pão de Santo Antônio, previsto para o início do ano que vem. Nele, será produzido um jornal de memória dedicado à imprensa tipográfica e a temas específicos da história do jornalismo de Minas Gerais e do Brasil.
O jornal “Voz de Diamantina” circula aos sábados, é impresso em gráfica moderna – e mantém cativa uma legião de leitores. Caso de José Walter da Silva, assinante do jornal há mais de 40 anos. “O principal (motivo) é ajudar a instituição. Mas o interessante é que é uma voz local, que traz as coisas pitorescas da região”, diz o aposentado, 81 anos, assíduo leitor das crônicas do Quincas. Vale lembrar que a associação Pão de Santo Antônio, proprietária do jornal, mantém um asilo.
Editor do jornal há 14 anos, Joaquim Ribeiro Barbosa diz que a preocupação é abastecer o semanário com notícias da cidade e da região. “E também ter um senso crítico sobre a administração da cidade, principalmente por ser um patrimônio cultural da humanidade”, reforça Barbosa, 72 anos.
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