Autora: Ana Lanza
Uma das coisas que muito me chamou a atenção em Diamantina, assim que nos mudamos para cá foi a falta de manutenção na já escassa opção de lazer para as crianças. Os raros parquinhos e praças estão descuidados: o tanque de areia está repleto de cacos de vidro, os brinquedos estão destruídos e não há qualquer atrativo para as crianças, meio a sujeira, grama alta, bancos quebrados... Por falta de opção, a academia da cidade se tornou um parque alaranjado e azul, nem um pouco adequado para as brincadeiras que auxiliam o desenvolvimento dos pequenos.
Mas, afinal, Por que ocupar uma pracinha?
Talvez o ponto mais importante de se ocupar uma pracinha seja pela infância dos nossos filhos. Para que essa infância contemporânea não se resuma à televisão, computador, escola e mais televisão, computador, joguinhos no celular e, esporadicamente, um pula-pula na feirinha de sábado ou domingo para aliviar nossa consciência.
É necessário que o coletivo encontre formas de manifestar o seu desejo (e o seu direito) por uma infância digna. Assim, ao ocuparmos uma pracinha passamos a fazer parte.
Ao ocuparmos uma pracinha saímos da postura de apenas reclamar para os amigos, gestores (?), família e colegas (mas não fazer nada). Compreendemos que um espaço público sem utilização é sempre uma função social desperdiçada. Aprendemos que é preciso lutar por canais de comunicação efetivos - entre a gestão municipal e os munícipes - uma vez que é preciso solicitar, reclamar - e por que não, demandar? - que o nosso espaço esteja bem cuidado.
Ao ocuparmos uma pracinha aprendemos que esperar por soluções do poder público pode ser um risco. Passamos da postura de quem aguarda por soluções para uma postura propositiva sobre a cidade. Entendemos que esse espaço nos pertence.
Penso que a maior vantagem de se ocupar uma pracinha seja a socialização, que vem se perdendo nesse mundo de cada vez mais correria e de menos gentileza... É gerar oportunidades: de se ler um livro em um lugar seguro, trocar receitas, aprender novas brincadeiras, caminhar, correr, pular. Mudar o ritmo. É a oportunidade de reescrever uma história. Encontrar. Se encontrar. Cabe a cada um a criatividade de usufruir desse espaço.
Só não vale destruir.
Ocupar uma pracinha é necessário, por que é preciso viver com dignidade.
Porque a pracinha nos pertence.
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