sexta-feira, 6 de março de 2015

Voz de Diamantina: Festival Internacional de Música Antiga, novo alento à cultura de Diamantina

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Muitas vezes passa despercebido o poder que alguns acontecimentos aparentemente corriqueiros têm de sacudir as pessoas. Despertá-las da mesmice cotidiana. E aguçar nelas a percepção de valores que as rodeiam desde sempre. E cuja real importância, como num passe de mágica, emerge vigorosamente e se agiganta em virtuosa ânsia de resgate, de revalorização, de reafirmação da identidade cultural. Tal digressão me veio puxada pelas lembranças da 1ª Semana Ruralista de Diamantina, realizada no arcebispado de dom José Newton de Almeida Baptista nos anos 1950. Menino ainda naquela época, só consegui captar-lhe a beleza dos desfiles, a grandiosidade dos carros alegóricos, a altivez dos bem caracterizados figurantes. Que, de flechas em punho, representavam os puris e a lenda da Acaiaca; a menear carumbés e bateias, destacavam a riqueza do ouro e dos diamantes; de olhos cobiçosos, narravam a história do frade, alta madrugada, a contabilizar o insuspeito tesouro de gemas que serviam de tentos para marcar jogos. Só muitos anos mais tarde, numa Diamantina ainda estática, garimpeira e saudosista de antigo e já de muito inexistente fausto, entendi a mensagem daquele marcante evento. E o esforço de um prelado para acordar toda a extensa arquidiocese para suas potencialidades. Agrícolas, turísticas, culturais. E tão desenvolvimentistas quanto a capacidade de sua gente em aliar à atividade extrativista - sabidamente finita - tantas outras latentes a derredor e dormentes no espírito empreendedor.

Mas o que isso tem a ver com o Festival Internacional de Música Antiga de Diamantina? Tudo. E mais ainda. Como bem nos revelou a voz restaurada do órgão do Carmo. Saída das centenas de tubos de um instrumento não apenas raro, mas único; no âmbito não somente de Minas, do Brasil, mas até mesmo da milenar e musical Europa. As partituras executadas naquela preciosidade setecentista por organistas acompanhados por instrumentistas, tenores, sopranos de renome internacional remeteram o Arraial do Tijuco às suas nobres origens. Extasiadas multidões de todas as idades começaram a entender por que o órgão é considerado o rei dos instrumentos. As filas de comandos que ladeiam seu teclado parecem mágicas. Ora liberam o som do piano, ora o choro da flauta, ora o chilreio de pássaros e, não mais que de repente, o ribombar de toda uma orquestra.

Início do editorial da Voz de Diamantina - Edição 708, de 07 de março de 2015

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