Fonte: National Geographic (clique aqui)
O carro avança pela estrada de muitas curvas. São 292 quilômetros da capital mineira a Diamantina, cidade de onde partiremos para uma jornada de oito dias. Da borda do asfalto, vê-se ao longe os primeiros sinais de que estamos chegando. Paredões rochosos se espalham pelos campos gerais, uma vastidão de terra imponente, repleta de cores e formas. A Serra do Espinhaço é reduto de nascentes d’água, árvores baixas e bichos graúdos. Onças, tatus-canastra, tamanduás-bandeira e lobos-guará são alguns dosanimais que vagueiam pelo raso de vargens. A natureza abundante revela no povo o traço forte de uma região antiga. Das Minas, histórias de combate e prosperidade embalaram gerações. Agricultores, coletores de flores, tropeiros e garimpeiros, todos trazem consigo a herança extrativista.
De Diamantina ao Serro, centro-norte do estado, cerca de 300 povoados se ajustam entre montanhas, cânions e cachoeiras. São comunidades tradicionais que viveram décadas a retirar do meio o seu sustento. A economia de subsistência é a característica predominante do chamado sertão mineiro. Grupos inteiros de trabalhadores subiam a serra à procura de frutos, madeira, raízes e todo tipo de matéria-prima disponível nas campinas. Era a coleta que abastecia as mesas das famílias residentes e o comércio local. Tempos passados. Hoje, parte considerável da extensão territorial que integra o Circuito dos Diamantesfoi transformada em área de preservação ambiental.
Só no perímetro pelo qual circularemos, foram criadas quatro unidades de conservação (UCs). Realidade que há anos gera atritos entre a população – que ficou impossibilitada de fazer uso dos recursos dentro dos limites das UCs – e o governo, cujas ações visam a regenerar inúmeras espécies da fauna e flora do Espinhaço. Foi em meio ao clima de entrave entre as partes que demos os primeiros passos de nossa viagem. Para entendermos melhor o contexto, optamos por percorrer trechos do Parque Nacional das Sempre-Vivas, da APA Rio Manso e dos Parques Estaduais do Biribiri e Rio Preto. São exemplos de reservas nas quais o imbróglio ultrapassa as fronteiras das UCs, multiplica demandas, gera crise de interesses e um desajuste econômico que restringe o desenvolvimento regional. No caminho, conheceremos algumas das vilas situadas nas cercanias das áreas protegidas.
O roteiro escolhido por nós leva o nome de Travessia dos Parques e Vilarejos da Terra dos Diamantes. Trata-se de um corredor ecológico idealizado por moradores como o turismólogo Felipe Ribeiro com a finalidade de conservar a biodiversidade e fortalecer as comunidades do entorno dos parques do Mosaico do Espinhaço: Alto Jequitinhonha – Serra do Cabral. Ribeiro comenta que o principal instrumento para a realização do projeto é a atividade turística e produção associada ao turismo, tais como o artesanato e o cultivo de hortifrutigranjeiros. “Não é a solução para todos os problemas, mas é algo que possibilita um aumento na renda mensal dos habitantes envolvidos.” É um caminho.
Desde 2006, a implantação do Turismo de Base Comunitária aliada à prática do ecoturismo na região amplia horizontes. A promoção da modalidade de receptivo de inclusão social e troca de experiências tem potencial para reverter a situação atual. O modelo de gestão se difere do convencional por incentivar a autonomia das comunidades na formulação de planos estratégicos durante a execução do projeto. Os habitantes, que abrem as suas casas para os turistas, são os responsáveis pelo sucesso do empreendimento, pautado em valores essenciais como a simplicidade e o contato direto com as pessoas e a natureza. Entre os benefícios da iniciativa estão o pagamento imediato dos proventos ao proprietário e a valorização do roteiro, destacado pela vivência mais autêntica oferecida aos viajantes.
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