sábado, 28 de fevereiro de 2009

O livro da capa verde

Quando em Portugal o rei recebeu notícia do descobrimento de diamantes no Brasil, não coube em si de contente. Logo que a novidade se espalhou por Lisboa, foi tamanha a alegria dos portugueses que mandaram repicar os sinos, organizaram procissões, celebraram Te Deum e renderam graças ao Todo Poderoso.

D. João V mandou de presente algumas amostras de diamantes ao Papa, e recebeu muitas congratulações dos outros monarcas da Europa.

Ora, antes de se descobrirem as minas de diamantes, já Portugal nadava em riqueza por causa do ouro do Brasil. A capital do reino tornara-se uma das mais ricas e mais belas da Europa. O rei mandou edificar o palácio de Mafra e o aqueduto de Lisboa com o ouro que foi de Minas, e fez ainda muitos outros gastos. Imagine-se agora com o descobrimento do diamante, sabendo-se que o diamante valia mais que o ouro!

Doloroso contraste! Enquanto os portugueses deliravam de contentamento, os brasileiros ralavam-se de tristeza, imaginando que, assim como tinham sofrido da Metrópole tantos vexames por causa das minas de ouro, — maiores vexames iriam agora sofrer por causa das minas de diamante. Se assim os brasileiros pensavam, pior veio a acontecer.

A princípio a mineração do diamante era livre: cada um podia minerar, desde que tivesse carta de data. “Carta de data” era um papel que dava direito à pessoa de minerar. Mas durou pouco.

Não levou muito tempo, o rei proibiu que se tirassem diamantes: quem minerasse escondido e fosse descoberto, seria degredado para a África por 10 anos, e perderia todos os seus bens. Essa proibição durou 7 anos.

Depois foi criado o imposto da capitação, isto é, por escravo que trabalhasse na mina o senhor teria de pagar um tanto de imposto.

Depois o rei nomeou um funcionário encarregado de fiscalizar a mineração — chamava-se Intendente dos Diamantes.

Foi criada uma lei ordenando que o diamante de mais de 24 quilates pertenceria ao rei: o escravo que o achasse e o entregasse ficaria forro. Se fosse encontrado por homem livre, este receberia 400$000 de gratificação.

Finalmente, o rei resolveu conceder a mineração dos diamantes só a uma pessoa. Essa pessoa ficaria sendo o único que poderia minerar. Em compensação teria de pagar ao rei, todos os anos, uma grande soma — muitos milhões de cruzados. Durou 32 anos este sistema.

O 1º arrematante foi o sargento-mor João Fernandes de Oliveira. O 2º foi este mesmo, associado a Francisco Ferreira da Silva. O 3º foi Felisberto Caldeira Brant, de quem falaremos na história seguinte. O 4º foi o desembargador João Fernandes de Oliveira, filho do primeiro contratante de igual nome.

Todos os contratadores de diamantes, exceto Felisberto Caldeira Brant, impediam que mais alguém minerasse: de sorte que, enquanto enriqueciam, o resto do povo vivia na miséria. O desembargador João Fernandes de Oliveira enriqueceu tanto que veio a ser o homem mais rico de Portugal e do Brasil!

A pessoa que minerasse escondido chamava-se garimpeiro. O garimpeiro que era pilhado tinha de entregar todos os seus bens. E se não tinha bens? Nesse caso era preso e metido no tronco. Às vezes acontecia o garimpeiro fugir na hora em que era descoberto. Que sucedia então? Os rondantes das minas o perseguiam até prendê-lo. Se o garimpeiro resistia à prisão, ali mesmo o matavam sem mais nem menos, como se mata um animal acuado. Os mais felizes eram enterrados na estrada. Quando não, lançavam seus corpos no ribeirão mais próximo, ou os deixavam insepultos para serem devorados pelos urubus.

Não levou muito tempo e o rei anulou o contrato com João Fernandes, obrigando-o a entrar para os cofres com onze milhões de cruzados. João Fernandes entrou com essa quantia. Seus haveres ficaram um pouco abalados, mas ele não deixou, por isso, de continuar a ser o homem mais rico da Colônia.

Depois desse fato, o rei mandou que a extração de diamantes se fizesse por conta dele. Chamava-se Real Extração. Para isso criou-se um regulamento especial, denominado Regimento Diamantino. Esse regimento continha as proibições mais absurdas, e impunha penas severas aos contrabandistas de diamantes. O povo chamava-lhe Livro da Capa Verde, porque o único exemplar dele que veio ao Tijuco (Diamantina) fora encadernado com capa de marroquim verde. Qualquer pessoa podia ler o Livro da Capa Verde, pedindo licença, mas era proibido tirar uma cópia.

Não obstante, muitas cópias foram tiradas, e algumas ainda existem em Diamantina. Durou 56 anos a Real Extração. Os diamantes extraídos durante esse tempo montaram a 1 milhão e 320 mil quilates.

O povo do Tijuco tinha horror ao Livro da Capa Verde. Eram tais os vexames e violências mandados executar por esse livro que só pronunciar o nome — Livro da Capa Verde — enchia de medo a quem ouvisse.

Cansado de sofrer a opressão do Regimento Diamantino, — um dia o povo do Tijuco revoltou-se. Foi no ano de 1821, um ano antes da Independência do Brasil. Por toda parte, nas ruas, nas sacadas das casas, o povo gritava:

— Fora o Livro da Capa Verde!

— Abaixo o Intendente!

Não levou um ano e proclamou-se a Independência do Brasil. A nossa pátria respirou livre e desafogada. Agora as minas de diamante seriam de seus legítimos donos, e cada um poderia minerar em suas grupiaras.

Quando chegou ao Tijuco a notícia da proclamação da Independência por D. Pedro, quando lá repercutiu o brado do Ipiranga — foi um delírio. O povo celebrou grandes festas. As ruas encheram-se de gente que, acima e abaixo, gritava:

— Viva a Liberdade!

— Viva a Independência!

— Viva o Brasil!

— Viva o Império!

— Viva D. Pedro!

Não tardou muito que um homem do povo fizesse um discurso, lançando a idéia de queimar-se na praça pública o “Livro da Capa Verde”, o livro renegado que durante cinqüenta anos vexara o povo daquela região. Todo o povo apoiou. Dirigiram-se em massa para ir buscar o livro amaldiçoado. Fez-se uma fogueira na praça pública. O livro foi lançado às chamas no meio do regozijo de todos.

Enquanto isso se dava, uns gritavam, outros aplaudiam, outros batiam palmas. Ao mesmo tempo os sinos repicavam, as bandas de música tocavam, os foguetes espoucavam no ar! Foi uma hora de festa!

Em poucos segundos o Livro da Capa Verde ficou reduzido a cinzas.

Só depois que a fogueira acabou de arder é que o povo se dispersou. Mas o entusiasmo não parou.

Os gritos continuaram:

— Viva a Liberdade!

— Viva a Independência!

— Viva o Brasil!

— Viva D. Pedro!

 Fonte: Carlos Góis, Histórias da Terra Mineira

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Vissungos: vozes da África


Chico Xavier e Paulo - vissungueiros - Foto de Spirito Santo  (1981).

A Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais lançou em outubro de 2008 uma edicação especial do "Suplemento Literário de Minas Gerais. O tema da publicação são os vissungos: cantos de tradição banto em língua africana ouvidos nos serviços de mineração. Essas cantigas, com "evidente teor religioso", relatam o cotidiano dos negros no garimpo.

Em 1943  o pesquisador Aires da Mata Machado Filho publicou o livro  "O negro e o garimpo em Minas Gerais" e identificou 65 vissungos nos povoados de São João da Chapada e  Quartel do Indaiá, em Diamantina. 

Em 1982, quatorze desses vissungos foram gravados por Clementina de Jesus, Doca e Geraldo Filme no LP "O Canto dos Escravos", hoje disponível em CD. Recentemente a pesquisadora  Lúcia Valéria Nascimento investigou a sobrevivência dos vissungos na região do Serro e Diamantina. 

Infelizmente, o alerta de Aires da Mata Machado está se concretizando: os vissungos estão desaparecendo. Os mais novos não têm interesse em preserva essa importante patrimônio histórico brasileiro.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

São João da Chapada: hospitalidade, beleza e história



O distrito de São João do Chapada, localizado a 27 Km de Diamantina, foi fundado em 1833 após a descoberta de grandes quantidades de diamantes na região. O local está situado no alto divisor das águas das bacias do Rio Pardo, afluente dos Rio das Velhas, e do Ribeirão Caetemirim, tributário do Rio Jequitinhonha.

Logo na entrada, o que nos chama atenção é o cruzeiro da cidade, provavelmente um dos mais altos do país, construído em peça única de madeira e com uma vista muito bonita da toda a região. Além da hospitalidade dos habitantes, São João da Chapada tem uma grande importância cultural pelos registros dos vissungos, cantos de trabalho escravo que eram ouvidos nos serviços de mineração, característicos da região. O tema é alvo de várias pesquisas devido a sua importância como expressão música africana em extinção.

Saindo em direção à localidade de Macacos, uma das entrada do Parque Nacional das Sempre Vivas, podemos apreciar paisagens maravilhosas formadas por imensas formações rochosas, além de belos exemplares da flora, especialmente as sempre-vivas (pepalantus). Estranhamente, no meio daquela bela paisagem, nos deparamos com uma pista asfaltada de aeroporto, aproximadamente 1500 metros, utilizada pelos empresários diamantíferos. Além da pista abandonada, a extração do diamante deixou algumas áreas totalmente degradas que podem ser vistas eventualmente.

Sobre as formações rochosas, de aparência notável, contituem-se de paredões dispostos em cordões mais ou menos paralelos, que se estendem por gande extensão, com aspecto ruiniforme e grande presença de fendilhamentos na rocha. Área de grande interesse para caminhadas em cristas de serras.

Enfim, um lugar muito interessante, com belas paisagem, habitado por um povo mineiramente hospitaleiro, gentil e cheio de histórias. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Programação do Carnaval de Diamantina 2009

DESFILE DE BLOCOS

SEXTA-FEIRA

A partir das 17h Bloco Sapo sequinho, Unidos da Pena Branca ,Bloco Chega Chegando, Bloco Casa da Sogra

SÁBADO

A partir das 19h30 Bloco Palhassada, Bloco As Domésticas, Bloco Casa da Sogra

DOMINGO

A partir das 10h00 Bloco Vila Formosa, Bloco Onósakitravez, Bloco Infantil Rato Seco

16h Bloco Sapo Seco, Bloco Xica da Silva, Bloco Galoucura

SEGUNDA-FEIRA

A partir das 16h00 Bloco Apolo XIII, Bloco Xai-Xai, Bloco As Domésticas, Bloco Casa da Sogra 

TERÇA-FEIRA

A partir das 10h Bloco Vila Formosa, Bloco Onósakitravez, Bloco Infantil Rato Seco

16h Bloco Sapo Seco, Bloco Xica daSilva, Bloco Galoucura

                                                       

SHOWS

 SEXTA-FEIRA

Praça Mercado Velho

22h Banda Axé Mineiro & Bartucada 2

 SÁBADO

Largo Dom João

16 às 23h Banda Tio Tomás & Banda Axé Mineiro

Praça Mercado Velho

17h Bat Caverna

 24h Bartucada

 DOMINGO

 Largo Dom João

16 às 23h Nino Aras Bartuquebrados Minas Show Brasil

Praça do Mercado Velho

17h00 Bat Caverna

24h00 Bartucada

 SEGUNDA-FEIRA

 Largo Dom João

16 às 23h Acorde Mineiro & JK Samba

Praça do Mercado Velho

17h Bat Caverna

24h Bartucada

TERÇA-FEIRA

Largo Dom João

16 às 23h Destilados & Firmanu Corpety

Praça do Mercado Velho 

17h Bat Caverna

24h Bartucada

Fonte: Prefeitura de Diamantina

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sebo virtual

A proposta do Passadiço Virtual não é financeira e também não gostaria de fazer propaganda no blog. Porém gostaria de compartilhar com vocês a dica de um serviço muito interessante que, apesar de já conhecê-lo há algum tempo, somente agora o utilizei. Trata-se do site Estante Virtual, que se propõe a interligar vendedores de livros usados de  todo o Brasil. Confesso que fiquei impressionado com a facilidade, rapidez e a economia  do processo de compra. Consegui comprar cinco livros com preços bem baixos, todos em bom estado e que chegaram rapidamente em minha casa.  Para quem gosta de boa leitura vale a pena dar uma garimpada.

Vitrais neogóticos da Basílica Sagrado Coração de Jesus

Na primeira metade do século XIX a arquitetura religiosa mineira foi fortemente influenciada pelo estilo neogótico. "As altas torres, os vitrais coloridos, os arcos de ogivas e as colunas longilíneas que dão ao templo uma notável sensação de leveza eram entendidos como o estilo ideal para as igrejas, mesmo sendo algo tão distante da cultura brasileira. 

As congregações religiosas estrangeiras que começam a chegar em Minas Gerais a partir de 1820 tiveram uma grande responsabilidade na adoção do neogótico. Essas congregações eram principalmente italianas, francesas, holandesas e alemãs. Com o advento do Império, as ordens religiosas que dominaram no período colonial - carmelitas, dominicanas e franciscanas - estavam enfraquecidas. As congregações estrangeiras estavam voltadas para a assistência social, como os hospitais, asilos e orfanatos, mas, o objetivo da maioria de quase todas era a questão educacional com a instalação de colégios internos. Em 1849, D. Viçoso obteve do governo federal autorização para a vinda dos Lazaristas franceses, que se instalaram na diocese de Mariana.   

As construções neogóticas perduram por um bom tempo. No inicio do século, o estilo ainda se mantinha. Como exemplo, citam-se as igrejas de Nossa Senhora da Boa Viagem e de Nossa Senhora de Lourdes em Belo Horizonte. A tendência permaneceu até a década de 40. È comum encontrar no interior mineiro igrejas ao gosto neogótico. Elas estão longe da pureza dos estilemas góticos, mas guardaram estruturas como longas torres, janelas com arcos em ogivas e vidros coloridos.

A Basílica Sagrado Coração de Jesus , em Diamantina, é um exemplo dessa influência. O projeto deste templo foi elaborado pelo padre Júlio Clavelin e sua pedra fundamental  lançada em 1884. No ano de 1890, aconteceu a sagração da igreja por D. João Antônio dos Santos. Os vitrais foram doados por famílias e instituições religiosas francesas. "

Qualquer dia desses, quando você estiver passando perto da Igreja do Seminário, dê uma paradinha para apreciar esses vitrais. Independente de suas crenças ou descrenças, invitavelmente você será surpreendido pela beleza das luzes coloridas penetrando no interior da igreja.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Zona Franca de Diamantina?

Senadores que compõem a bancada nordestina no Congresso Nacional, apresentarão Projeto de Lei no próximo mês, para criação e instalação da Zona Franca do Semi-Árido Nordestino. A afirmação é do presidente nacional da União Brasileira de Municípios(UBAM), Leonardo Santana, idealizador do projeto.

Segundo Leonardo, a iniciativa de grande parte dos 27 senadores do Nordeste significa um compromisso com o povo nordestino que serábeneficiado com a geração de meio milhão de novos postos de trabalho.

A idéia inicial do projeto da Zona Franca é a instalação de oito pólos industriais, contemplando todos os Estados inseridos no Polígono das Secas, inclusive Minas Gerais. Cada pólo será composto de um significativo número de indústrias têxteis, automobilísticas, tecnológicas e agropecuárias, atendendo a vocação econômica de cada Estado, região e micro-região.

Serão realizados nove Seminários em municípios que poderão sediar os pólos industriais. O primeiro será dia 02 de abril de 2009, no plenário da Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, passando pelos municípios de Campina Grande, Patos, Sousa, Cajazeiras, Mossoró(RN), Juazeiro do Norte(CE), Garanhuns(PE), Teresina(PI), Paulo Afonso(BA), Arapiraca(AL), Propriá(SE) e Diamantina, no Estado de Minas Gerais, onde nasceu o presidente Juscelino Kubtischek, idealizador da interiorização do desenvolvimento no Brasil, quando lançou a instalação da capital federal, Brasília, em pleno cerrado.

Leonardo Santana foi recebido pelo presidente do Senado, José Sarney(PMDB) e pelo governador de Minas Gerais, os quais garantiram apoio irrestrito ao projeto.

"O presidente do Senado, José Sarney, ficou muito satisfeito com o convite que formulei para que integrasse a comissão técnica do Projeto da Zona Franca, declinando sua vontade de trabalhar pelo crescimento econômico da nossa Região", disse Leonardo.


domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Casa dos Loucos

Na rua da “caridade”, no anexo da “santa” casa de misericórdia, o antigo prédio da Casa dos loucos (portadores de sofrimento mental) em Diamantina, pede socorro. O prédio desperta a curiosidade dos estudiosos da psiquiatria, pois na longínqua cidade do interior de Minas Gerais já se aplicava, em pleno século XIX, muitas teorias sobre o adoecimento mental produzidas em diferentes partes do mundo. Na exposição Olhar Diamantina, organizada pela UFMG, Clébio Maduro participa tendo o casarão da Casa dos loucos (para portadores de sofrimento mental), hoje em processo acelerado de depredação física, como referência inicial. 

No livro Hospício da Diamantina: a loucura na cidade moderna,  a autora Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani analisa a loucura e as práticas psiquiátricas em Diamantina, no Brasil e no mundo nos séculos XIX e XX. A linha tênue entre  ser normal e ser louco aparece nítida nas páginas do livro de Magnani e revela que o abandono do prédio pode significar algo mais do que o simples abandono de uma edificação histórica. A reconfiguração das estratégias de tratamento dos portadores de sofrimento mental, expressa na luta antimanicomial, deve significar o abandono material da história da saúde mental entre nós? A pergunta fica aberta para que as autoridades responsáveis e os estudiosos do assunto nos ajudem a preservar essa história e esse prédio.

Clique aqui para mais informações sobre o livro.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Da janela lateral do quarto de dormir

O disco Cube da Esquina (1972) revolucionou a música brasileira, sendo considerado como um dos mais importantes da MPB. Além de ser o primeiro disco duplo da música brasileira, a obra trouxe uma série de inovações harmônicas e rítmicas até então nunca ouvidas, misturando rock, jazz, erudito e música brasileira de raiz. Uma mistura sonora que, até hoje, é o que melhor representa o espírito de Minas Gerais.

O disco é cheio de clássicos da nossa música: "Tudo Que Você Podia Ser", "Cais", "O Trem Azul", "Cravo e Canela", "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo", "San Vicente", "Nada Será Como Antes" e outras. Uma das mais belas de todas é "Paisagem da Janela". Esta música foi composta por Lô e Fernando Brant em um quarto de hotel em Diamantina, quando os integrantes do Clube foram chamados para fazer uma reportagem para a revista "O Cruzeiro", durante o processo de composição do álbum. A vista para a Serra do Espinhaço influenciou Brant a escrever uma das letras mais bonitas do álbum.

PAISAGEM DA JANELA
(Lô Borges e Frnando Brant)

Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal

Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou

Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
E eu apenas era

Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical

Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Quando olhava da janela lateral
Do quarto de dormir

Você não quer acreditar
Mas isso tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso tão normal
Um cavaleiro marginal
Banhado em ribeirão
Você não quer acreditar


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Dom João VI e as treliças


No livro 1808, o autor Laurentino Gomes comenta que o Rei de Portugal Dom João VI proibiu a utilização de treliças e musharabis (muxarabiê) nas janelas das casas do Rio de Janeiro Colonial. De influência árabe eesse tipo de construção permite que o morador observe o movimento das pessoas na rua sem ser visto pelos pedestres. A razão alegada é que o muxarabiê facilitaria as conspirações e a ação de assassinos. Outros afirmam que a razão é apenas de caráter comercial, pois obrigaria a compra de vidros fabricados pelos ingleses. Independente da razão, trata-se de uma medida extrememente sem sentido. Posteriormente, já no século XX, o arquiteto Lúcio Costa incorporou a sua utilização em várias construções brasileiras.

Ainda bem que essa proibição não foi capaz de impedir a construção e preservação de alguns musharabis em Diamantina. O mais famoso deles está no prédio da Biblioteca Pública, na Baiúca, centro da cidade. Porém, podemos encontar as treliças em várias construções da cidade, como por exemplo na Casa de Chica da Silva.
Fotos: Felipe Marcelo

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Afinal, quantos são os tubos?


Perguntei ao grande oráculo, Google, sobre o órgão de tubos da Igreja Nossa Senhora do Carmo e tive poucas e contraditória infromações. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de ouvir o seu som. Mas há uma esperança, porque ao passar em frente à Igreja posso ver uma placa informando que o mesmo se encontra em fase de restauração.


Um dos pontos interessantes nessa pesquisa é a imprecisão em relação ao número de tubos do órgão. Cada site informa um número, que varia de 500 a mais de 700 tubos. Afinal, quantos são os tubos? O número mais encontrado é o de 549.
Recentemente estive na cidade de Mariana e percebi que o órgão de tubos da Igreja da Sé é uma das principais atrações turísticas da cidade, com vários concertos e visitas. No Google há muitas informações sobre o instrumento: informações turísticas, fotos, vídeos e muitos mais. Um exemplo a ser seguido por Diamantina na valorização de seu patrimônia artístico e cultural.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

La Mezza Notte:uma reflexiva leitura sobre a Vesperata

Recomendo  a leitura do livro  dos professores Antônio Carlos Fernandes e Wander Conceição, La Mezza Notte: o lugar social do músico diamantinense e as origens da Vesperata. O rico texto nos revela  a tradição musical da sociedade do Arraial do Tijuco, destaca a importância do músico Lobo de Mesquita e resgata a origem da Vesperata na década de 30 do século passado pelas mãos do Maestro Piruruca. Outro aspecto muito interessante analisado pelos autores é a importância da Banda do 3º Batalhão da Polícia Militar para a construção e preservação da história musical de Diamantina.
Por outro lado, os autores fazem um importante alerta para os perigos da perda da identidade cultural da cidade por meio do processo de transformação das edificações, tradições e  práticas culturais em produtos turísticos por meio de ações  uniformizadas, mistificadas e reducionistas.
Enfim, uma leitura obrigatória para quem aprecia a Vesperata e gostaria de aprofundar um pouco mais sobre  a sua história e representatividade na sociedade diamantinense.


Foto: Treliça

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Itambé: natureza, cenário e testemunha da história



Na língua Tupi ele significa pedra afiada ou aguda. Em minhas andanças pela região de Diamantina é ele que me orienta. O botânico francês August Saint Hilaire também o descreveu como uma importante referência geográfica em suas pesquisas pelo Brasil na primeira metade do século 19. Está presente em músicas, poemas, fotos e relatos. O Pico do Itambé (2002m de altitude) é o cenário perfeito para essas paisagens e acontecimentos históricos. Além disso, por possuir um rico acervo de fauna e flora, a região foi transformada em Parque Estadual pelo Instituo Estadual de Florestas, em 1998.
De acordo com o IEF Parque Estadual do Pico do Itambé possui riquezas naturais como cachoeiras, cursos d'água e vegetação únicas. Abrange em seus domínios, várias nascentes e cabeceiras de rios das bacias do Jequitinhonha e Doce. No Parque situa-se o Pico do Itambé, com seus 2.002 metros, um dos marcos referenciais do Estado.

Campos rupestres de altitude e cerrado compõem a cobertura vegetal nativa do Parque. Nos fundos de vales ocorrem manchas de solos de aluvião, de maior fertilidade, sobre os quais se desenvolve exuberante mata pluvial altimontana, onde podem ser encontradas espécies como o pau-d'óleo, a sucupira, o ipê, o cedro, o jatobá, o ingá e a candeia, entre outras. Nos campos de altitude ocorrem espécies raras e endêmicas de orquídeas.

Uma fauna bastante rica relaciona-se com a diversidade florística e com os recursos hídricos. Dentre os animais, constantes da lista oficial de animais ameaçados de extinção, destacam-se a onça-parda e o lobo-guará.

Fotos: Gladistone e Treliça 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Acaba Mundo: aventura e marketing

Há muito tempo o nome de um lugar tem chamado a minha atenção em Diamantina: Acaba Mundo. Mais precisamente: Ponte do Acaba Mundo. A curiosidade aumentou ainda mais  quando a ponte foi parar no cartaz do Festival de Inverno da UFMG. O nome nos dá a impressão de que o lugar é muito longe, um fim de mundo. Quando eu observava o estado do ônibus que faz essa linha a sensação do juízo final aumentava. 

Semana passada recebi a visita do meu amigo Lucas, de Belo Horizonte. Quando comentei com ele sobre o Acaba Mundo ele também ficou muito intrigado. Resolvemos, então, encarar o "apocalipse" e partimos em seu Uno 1.0 para o fim do mundo. No início da estrada tudo bem: Gruta do Salitre, Curralinho, Bonsucesso. De repente começamos a descer  cada vez mais em direção a um vale. Aproximadamente 6 km de descida forte em meio a uma paisagem linda para, finalmente, chegarmos à Ponte do Acaba Mundo. 

Lá está ela, firme e  forte sobre o Rio Jequitinhonha. Para ser mais exato, sobre o encontro de duas vertentes do Jequitinhonha: o Preto e o Branco. Ao avistá-la é natural a curiosidade para saber o motivo de uma construção daquele porte naquele lugar.  Provavelmente está ligada à necessidade  de transporte de minério na primeira metade do século passado.

Desfeito o mistério inicial, queríamos saber o que existe depois do fim do mundo. Seguimos um pouco mais da estrada, mas o acesso começou a ficar ruim. Nos restou apenas um mergulho nas corredeiras do Jequitinhonha Preto.

Enfim, concluímos que o Acaba Mundo não é tão longe como estava em nosso imaginário e que há vida depois do "juízo final". Também chegamos à conclusão de que o autor da escolha do nome do local tinha conhecimentos de marketing, pois nos estimulou e criou a demanda por essa aventura.

Polêmica: Cidades históricas vetam axé, funk, rock e música sertaneja

Fonte: Agência Estado

Se você gosta de axé, funk, rock ou música sertaneja, tire as cidades históricas mineiras dos seus planos neste carnaval. Três das mais visitadas cidades do circuito histórico do Estado - Ouro Preto, Mariana e São João Del Rey - vetaram esses ritmos nas folias. Em programações patrocinadas pelas prefeituras e nos espaços públicos, só sambas e marchinhas de carnaval poderão ser executados nas festas. A medida integra o projeto Carnaval das Cidades Históricas para resgatar o "carnaval de antigamente".

"Queremos trazer para essas cidades pessoas que respeitem o patrimônio e a segurança", afirmou o secretário de Cultura e Turismo de São João Del Rey, Ralph Justino. Para 2010, a meta é atrair para o circuito mais duas cidades históricas de Minas - Diamantina e Sabará.

Todas essas cidades atraem milhares de turistas no carnaval. A maior parte deles é formada por jovens. O turismo de estudantes tem causado problemas para as cidades históricas. Além de gastar pouco, alguns grupos causam danos ao acervo colonial - no caso de Ouro Preto, reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco.

Para Ralph Justino, o "carnaval de antigamente" das cidades históricas de Minas tem apelo para se tornar uma grande atração, despertando o interesse de milhares de turistas de outro perfil. O projeto foi anunciado hoje, em Belo Horizonte. O secretário disse acreditar que o carnaval histórico poderá, futuramente, ter tanto prestígio quanto o carnaval do axé
, em Salvador, o carnaval das escolas de samba, no Rio, e o carnaval do frevo, no Recife.

Nas três cidades que já aderiram ao projeto Carnaval das Cidades Históricas, axé, rock, hip-hop e outros ritmos
poderão ser executados somente em lugares fechados e privados que exijam a compra de ingresso ou em lugares mais isolados destinados especificamente para esse fim.

Em São João Del Rey, a prefeitura baixou decreto para regulamentar a execução das músicas durante a folia. Em Mariana, cidade que tenta conquistar o reconhecimento como patrimônio da humanidade pela Unesco, um dos atrativos do carnaval à moda antiga será o desfile de catitães - bonecos gigantes artesanais que fazem parte do folclore da região. Em Ouro Preto, a programação oficial será realizada no centro histórico da cidade Outros ritmos, no entanto, serão executados em festa no estacionamento da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

O tema é polêmico e envolve uma série de aspectos que merecem atenção: a conservação do patrimônio, aspectos culturais e a liberdade. Qual a sua opinião? Você acha que Diamantina deveria seguir esse caminho? Registre abaixo o seu comentário.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cachoeiras da região de Diamantina


A região de Diamantina é muito rica em cachoeiras que nos proporcionam belas paisagens. Mas uma discussão legal é saber qual delas é a mais bonita. Cada um tem sua preferência e indicação. Particularmente, acho as cachoeiras do Telésforo, em Conselheiro Mata, e a do Crioulo, em São Gonçalo do Rio Preto, como as mais interessantes. 

Na verdade, além da beleza natural dos locais, acredito que a companhia da viagem também cria um astral legal do passeio, tornando-o mais agradável. Algumas são mais indicadas para serem visitadas com crianças, outras necessitam de um carro mais apropriado, outras são acessíveis somente após uma grande a caminhada. 

O  mais importante é que são várias as opções e para todos os gostos. Vou colocar no blog uma enquete para saber a opinião dos leitores. Dê o seu voto, faça seus comentários ou indique outra que não foi comentada por aqui.


Fotos disponíveis no flickr : by Edy Luigi, Vitório Miranda e Marcelo Salgado. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Arcos do Mercado e o Palácio da Alvorada



Experimente lançar no Google as palavras arco, mercado, Diamantina e Niemeyer. Muitas serão as citações de uma possível inspiração dos arcos do Mercado de Tropeiros de Diamantina para que o arquiteto OscarNiemeyer projetasse a fachada do Palácio da Alvorada.  Observando as fotos acima percebe-se uma semelhança muito grande entre os arcos das duas construções, porém invertidos.  Como não encontrei nenhuma afirmação do próprio Niemeyer sobre essa influência, permanece, então, a dúvida. Seria apenas coincidência ou mais uma influência de Diamantina na história cultutal do Brasil? 

Lobo de Mesquita e as origens da musicalidade em Diamantina

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (Vila do Príncipe, atual Serro, Sec. XVIII --- Rio de Janeiro,1805), foi um organista, regente e compositor brasileiro. É patrono da cadeira número 4 da Academia Brasileira de Música.Estudou música com o padre Manuel da Costa Dantas, mestre-de-capela da matriz de Nossa Senhora da Conceição do Serro. Foi para Arraial do Tijuco (1776), hoje Diamantina, para ser responsável pela instalação na Matriz de Santo Antônio de um órgão fabricado pelo Padre Manuel de Almeida e Silva, onde desenvolveu sua carreira como organista e compositor (Regina caeli laetare, 1779 até que entrou para a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (1789). 

Alferes do Terço de Infantaria dos Pardos, foi o encarregado de um oratório para a Semana Santa (1792). Regeu a música para o tríduo do período (1798-1799), na matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, e as Quarenta horas, do período seguinte (1800-1801). A partir daí até sua morte, tocou nas missas da igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro, cidade onde morreu. Um de seus ofícios de defuntos foi apresentado na vila de Caeté, MG, em 25 de janeiro de1827, em memória da Imperatriz Leopoldina, o que mostra que o compositor era ainda reconhecido e lembrado mais de vinte anos depois do seu falecimento 

Existem apenas dois manuscritos autógrafos do compositor, a Antífona de Nossa Senhora (1787) e aDominica in Palmis (1782), mas há muitas cópias do restante de sua obra, como ladainhas missas, ofícios e novenas. Todas as outras obras conhecidas de sua vasta produção aparecem em cópias de fins do século XVIII e, em sua maioria, do século XIX.

Clique aqui e veja no youtube  a gravação de Christus Factus Est de Lobo de Mesquita. Essa música foi cantada pelos Meninos Cantores da Catedral de Novo Hamburgo 

Fonte: Wikipedia

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Chichico Alkimin: mestre da fotografia em Diamantinaa




Francisco Augusto Alkmim nasceu em Bocaiúva-MG, no ano de 1886, filho de proprietários rurais da região. Ainda jovem, inicia-se com os mestres padre Manoel Gonzales e Passig no nascente ofício de fotografar, começando a produzir como fotógrafo profissional a partir de 1902, na cidade de Diamantina, seus distritos e municípios vizinhos.    

Em 46 anos de profissão, Chichico Alkmim acumulou um gigantesco e precioso acervo de seu tempo, compondo um notável capítulo da história do povo e da cidade de Diamantina, onde acabou fixando residência em 1917. Este acervo se compõe de cerca de 5 mil negativos de vidro registrados no período compreendido entre 1909 e 1955, a maioria em excelente estado de conservação, apresentando grande diversidade temática e qualidade técnica.    

Utilizando placas de vidro compradas de firmas de material fotográfico já instaladas no Brasil e enviadas a Diamantina via estrada de ferro, Alkmim trabalhava principalmente em estúdio, cuidando detalhadamente do cenário e da composição das pessoas fotografadas: crianças, adultos, defuntos, prostitutas, policiais militares, padres, freiras e membros de famílias tradicionais de Diamantina. Registrou também a arquitetura urbana e a vida social da época, ruas e edificações, procissões e festas religiosas, solenidades cívicas e formas de lazer típicas da cidade, reunindo um variado acervo iconográfico sobre a sociedade e a evolução urbana em Diamantina.


Cachoeiras, Kussú e Cassetão


Se você estiver visitando a região de Diamantina e for convidado a comer  algo no Kussú ou dar uma passadinha no Cassetão, não se assuste. Apesar dos nomes estranhos e passíveis de várias interpretações a experiência pode ser interessante. 

Quando você estiver com muita fome, depois de uma longa caminhada  pelas belas cachoeiras do Parque Estadual do São Gonçalo do Rio Preto, provavelmente você não resistirá ao Cassetão. Um estabelecimento comercial que fica na praça principal da cidade de São Gonçalo do Rio Preto.

Outra local com nome estranho é o Bar do Kussú, localizado no distrito de Conselheiro Mata. O Bar do Kussú é referência obrigatória quem deseja visitar as cachoeiras das Fadas ou do Telésforo. 

Para Milton Nascimento o "Brasil é o Beco do Mota"


Segundo o múscio Ivan Vilela: no início dos anos 60, em Belo Horizonte (MG), jovens músicos começam a se encontrar na cena musical da capital mineira. Eles produziam um som que fundia as inovações trazidas pela Bossa Nova a elementos do jazz, dorock’n’roll – principalmente The Beatles –, de música folclórica dos negros mineiros e alguns recursos de música erudita e música hispânica. Nos anos 70, esses artistas tornaram-se referência de qualidade na MPB pelo alto nível de performance e disseminaram suas inovações e influência a diversos cantos do país e do mundo.


O que muitas pessoas não sabem é a forte ligação dos membros do grupo com a cidade de Diamantina.  Ao visitar o site do Museu do Clube da Esquina podemos encontrar uma série de depoimentos de músicos ligados ao movimento relatando suas viagens e histórias pelas ruas, bares e cachoeiras da cidade. Na foto acima podemos ver um desses momentos:  o presidente JK juntamente com Milton Nascimento, Fernando Brant e Lô Borges.

Diamantina está presente em algumas canções produzidas pelo movimento. As capistranas estão na música "Paixão e Fé" de Frnando Brant e Tavinho Moura.  Mas, sem dúvida, a mais famosa de todas é a canção "Beco do Mota" composta por Milton Nascimento e Fernando Brant.


Beco do Mota

Clareira na noite, na noite
Procissão deserta, deserta
Nas portas da arquidiocese desse meu país
Procissão deserta, deserta
Homens e mulheres na noite
Homens e mulheres na noite desse meu país
Nessa praça não me esqueço
E onde era o novo fez-se o velho
Colonial vazio
Nessas tardes não me esqueço
E onde era o vivo fez-se o morto
Aviso pedra fria
Acabaram com o beco
Mas ninguém lá vai morar
Cheio de lembranças vem o povo
Do fundo escuro do beco
Nessa clara praça se dissolver
Pedra, padre, ponte, muro
E um som cortando a noite escura
Colonial vazia
Pelas sombras da cidade
Hino de estranha romaria
Lamento água viva
Acabaram com o beco...
Procissão deserta, deserta
Homens e mulheres na noite
Homens e mulheres na noite desse meu país
Na porta do beco estamos
Procissão deserta, deserta
Nas portas da arquidiocese desse meu país
Diamantina é o Beco do Mota
Minas é o Beco do Mota
Brasil é o Beco do Mota


A contribuição de Diamantina para a Bossa Nova

De certa forma, pode-se considerar que Diamantina tem sua contribuição na criação da Bossa Nova. A revista Bravo conta um pouco dessa história:

Entre 1952 e 1955, João Gilberto estreou como compositor, com Você Esteve com Meu Bem? (uma co-parceria com Russo do Pandeiro, gravada por Marisa), e como intérprete, com o compacto Quando Ela Sai. Quem ouve este último nem reconhece João, cantando num estilo bem diferente do atual. Foi uma fase, como as de Picasso, definiria depois. E a fase terminou logo que João percebeu que não estava evoluindo. Não tinha renda fixa, morava de favor e passava as noites de bar em bar, tocando violão emprestado. Percebeu que, se quisesse mesmo uma mudança, era ele quem teria de mudar geograficamente. Caetano Veloso, afinal, estava certo: a Bossa Nova nasceu com João em Juazeiro... quando ele voltou para sua cidade natal aos 24 anos.

Antes de voltar a Juazeiro, porém, João Gilberto teve dois outros endereços. Passou sete meses em um hotel em Porto Alegre, RS, sustentado pelo amigo e cantor Luís Telles. Depois, foram mais oito meses em Diamantina, MG, na casa da irmã, Dadainha. Foi uma espécie de ano sabático que não durou um ano e não teve nada de sabático: João trabalhou como um artesão de sua música, obcecado em descobrir aquela batida do violão e aquele jeito de cantar que embalavam seus sonhos. Estava desenraizado do mundo, mas criava as raízes da personalidade profissional que o consagraria sua compulsão metódica, seu experimentalismo repetitivo, sua busca perfeccionista.

Diz-se que os moradores de Diamantina mal viam a cara de João. Ele não saía de casa. Raramente tirava o pijama, um hábito que manteve por vários anos, quando se tornou quase um eremita em seu apart-hotel no Leblon, no Rio, na década de 80. Passava o dia todo no banheiro de Dadainha, cujos ladrilhos proporcionavam uma acústica perfeita. Quando saía de lá era para serenar a sobrinha, Marta Maria, recém-nascida.

Fonte: Revista Bravo (Abril Editora)