O renascimento deste jornalzinho do Pão de Santo Antônio em julho de 2002, como parte das comemorações dos 100 anos do asilo criado pelo benemérito Zezé Neves, coincidiu com uma nova e exuberante fase de conquistas que a até então perdedora Diamantina nem de longe vislumbrara. Assim é que este enxerido escrevinhador que se meteu a jornalista pôde tecer loas a este velho e respeitável burgo sem nenhuma sombra de pudor. Pela simples razão de que a cidade foco de seus enaltecimentos despertava de longo período de torpor, qual fênix a emergir gloriosamente das cinzas como Patrimônio Cultural da Humanidade distinguido pela hospitalidade de sua gente, pelo palpitar espontâneo da musicalidade e pela saciedade do conhecimento que a criação de uma universidade lhe prometia. Inumeráveis editoriais desta voz solitária e já enrouquecida exaltaram as profundas e notáveis transformações por que a cidade passava, alimentadas pela onda de autoestima que, de início, apenas excitou a altivez do diamantinense, para, em seguida, espraiar-se por becos, esquinas e ladeiras a reabastecer de nova e inextinguível riqueza seus exauridos cascalhos e grupiaras.
Tais digressões vêm à tona misturadas com o sentimento de que Diamantina, cantada em prosa e verso pela sua cultura, musicalidade e potencial turístico, está perdendo o bonde da história. Em lugar da animação de uma década atrás, quando empresários, intelectuais, artistas e o poder público investiam numa cidade cujo encantamento crescia na mesma proporção dos cuidados que lhe eram dispensados, aumenta a percepção de que ainda há muito que fazer e - mais ainda - do que não se fez. Diamantina mais parece hoje uma linda e atraente mulher que se descuidou da própria elegância.
Início do editorial da Voz de Diamantina - Edição 641, 23 de novembro de 2013
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