A riqueza da cultura e da religiosidade diamantinense sempre esteve umbilicalmente ligada à Festa do Rosário. A própria igreja a ela dedicada, construída no século XVIII pelos homens pretos, então escravos, é marca muito forte e inseparável de um arraial que surgiu a oxigenar-se das crendices populares, do sincretismo religioso e da malemolência que se sobrepuseram aos horrores dos navios negreiros, à chibata do colonizador, à opressão das senzalas. Não é por acaso que Diamantina é uma cidade alegre, colorida, gostosa de ver-se, de palmilhar-se, de descobrir-se. O cheiro de pólvora, de incenso, de gente, o reboar de bandas, de matracas, de tamborins, o sussurro de rezas, de terços, de benzeduras, o tempero de cravo, de canela, de manjericão - todos estes conjuntos de odores, de gostos e de costumes compõem o multifacetado caleidoscópio de uma Diamantina sacra e profana, sisuda e regateira, mundana e espiritual.
Pude sentir a energia da aura que exala deste velho e miscigenado burgo ao visitar o Bar Brasil, na Rua da Linha. Não o Bar do Tniel que eu conhecia. Mas o ateliê em que Otniel Ribeiro de Souza e Purpurina Borges, o rei e a rainha do Rosário, haviam transformado aquele ambiente. Sobre mesas, cavaletes e varais que ocupavam todo o espaço, cadarços, fitas, enfeites, estandartes, panos coloridos e tantos outros ornamentos iam compondo o rascunho do cortejo no Rosário, a partir do tradicional quadro destinado ao rei, à rainha e seus principais súditos. A poucas horas da grande festa, ali se montava o arcabouço do Reinado. Simples. Despojado. Fiel às suas raízes. Como deveria sempre ser a Festa do Rosário, na visão de Tniel. E, se possível, com a participação e a valorização da gente simples que ela representa. Panos doados pela Estamparia e artisticamente pintados por assistidos do Caps e por meninos da Funbem é que fariam toda a diferença do cortejo. Cortados, alinhavados e sem nenhuma costura, estavam prontos para vestir damas, princesas, mártires e heróis, enlaçados apenas como saias, mantos, echarpes e turbantes, a serem guardados para outras cerimônias.
Início do editorial da Voz de Diamantina - Edição 688, de 18 de outubro de 2014
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