sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O anjo de JK

Fonte: Brasília em Dia (clique aqui)

JK de Diamantina ao Memorial”, mais um livro do historiador Affonso Heliodoro, lançado há duas semanas no Instituto Histórico e Geográfico de Brasília, em que junta a sua amizade com o presidente Juscelino Kubitscheck e o amor pela história, em tempo integral.

Para o coronel, que acompanhou o presidente e amigo, ele tem a convicção que nem tudo é festa de áulicos no poder. Existem, sim, pessoas dedicadas que procuram servir e não se servirem das posições que conquistaram, mantendo a fidelidade enquanto o mandato daqueles que os alçaram durar. Mas também existem aquelas pessoas que, sem o menor constrangimento, procuram outra plataforma para suas ambições no caso de o protetor do momento cair em desgraça, porque a ingratidão já produziu amargas decepções na vida pública, o que não é novidade no cotidiano humano.

Antes, durante os anos dourados, e, depois, quando os militares passaram a perseguir cruelmente Juscelino, Affonso Heliodoro esteve sempre ao seu lado, fiel e amigo, também comovido quando desembarcou em Madri para um exílio de três anos na Europa. Juscelino sintetizou-lhe em telegrama toda a sua gratidão: “Deus te pague!”.

O amigo, agora com 96 anos, que todos os dias acordava o presidente para que os dois trocassem as primeiras impressões dos fatos políticos e econômicos do momento, revela como era a sua intimidade com o fundador de Brasília.

Affonso Heliodoro sempre teve a mesma certeza da grande maioria dos brasileiros que viveu naquela época – o Brasil de JK foi muito melhor do que antes, porque existia pleno emprego, e o salário mínimo era o maior pago na história brasileira.

Historiador e coronel, ele guarda na memória alguns fatos importantes, como, por exemplo, o dia da posse de Jânio, quando Juscelino soube que o sucessor faria um discurso ofensivo. Apesar de não ser de sua índole, o presidente que estava para deixar o poder comentou que, se o seu sucessor fizesse esse tal discurso, lhe daria um soco. Quando perguntado sobre isso, Heliodoro, como mineiro, dá sua versão: “Isso é verdade e história! Levaram esse recado ao presidente que falou para dona Sarah: “Se o Jânio me desrespeitar diante do palanque, ele não recebe a faixa, vai receber um soco na cara!”. E ele daria mesmo, embora o presidente nunca tenha brigado com ninguém, mas, naquele momento em que ele passava a Presidência da República, democraticamente, com o Brasil em excelentes condições, ele o faria. Quando Juscelino assumiu o governo, a dívida externa brasileira era de US$ 1 bilhão e 900 milhões para a construção das metas. Ao deixar o governo, a dívida era de US$ 3 bilhões, mas só os juros da dívida externa estavam muito acima desse valor, e esse empréstimo possibilitou ao Brasil o patrimônio que ninguém mais conseguiu fazer.

No começo do governo, Juscelino enfrentou uma efervescência política, mas, mesmo assim, ele decidiu construir Brasília, mas, em algum momento, ele teve o receio de não concluir o projeto. Affonso Heliodoro acrescenta: “Eu posso assegurar que isso deve ter passado pela cabeça dele”. Se você pensar que Brasília estava distante dos centros de abastecimento, no mínimo 800 quilômetros, vê a dificuldade que havia. Tanto que o jornalista Hélio Fernandes, a quem eu faço uma reclamação pública, fez um resumo bom da história e fez um grande elogio a Juscelino, mas dizia que o presidente cometera um grande crime ao construir Brasília, porque aumentou a inflação, como também a dívida externa e que todo o material para a construção vinha de avião.

Foi uma luta tremenda construir Brasília e o presidente jamais deixou de acreditar, porque ele não era só um entusiasta, fazia crer a todos que tudo daria certo.

Juscelino foi só um, nenhum mais surgiu como ele.

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