sábado, 21 de setembro de 2013

De Barra do Chapéu a Diamantina, um outro Brasil

Autor: Ricardo Kotscho (clique aqui)

Manhã de sábado, começo de primavera. De volta a São Paulo após uma maratona de viagens, que me levaram à pequena e pacata Barra do Chapéu, no Vale do Ribeira paulista, e depois  a Diamantina, a histórica cidade onde nasceu JK, porta de entrada para o mineiro Vale do Jequitinhonha, dou-me conta, mais uma vez, de como o Brasil é não só muito grande, mas nele coabitam vários países, povos e costumes, que são a grande riqueza da nossa terra, longe dos gabinetes, dos tribunais e das redações.

Rodei mais de 1.600 quilômetros de carro por estradas quase todas boas, algumas em obras e outras precisando delas. Por coincidência, o Ribeira e o Jequitinhonha são duas terras que já foram conhecidas no passado por sua extrema pobreza, chamadas de "Vales da fome", nos tempos em que escrevia longas reportagens para o "Estadão", nos anos 70 do século passado.

Não que agora tenham se transformado de uma hora para outra em "vales da fartura", onde jorram mel e dinheiro, mas pelos lugares por onde passei não encontrei mais gente faminta e vestida com andrajos, ao contrário. Encontrei a maioria das pessoas felizes com a vida que estão levando e orgulhosas dos lugares onde moram. Diamantina, para mim a mais bela e bem conservada das chamadas cidades históricas de Minas, embora fique a meio caminho entre Belo Horizonte e Brasília, cuida de assuntos bem diversos.

Na quarta-feira, por exemplo, para saber o resultado do voto de Celso de Mello, que não surpreendeu a ninguém e reabriu o julgamento do mensalão, tive que perguntar para muita gente que não tinha o menor interesse no assunto até descobrir o que fora decidido em Brasília.

Nem mesmo nos dois debates de que participei no 2 º Festival de História em Diamantina no dia seguinte, diante de seletas plateias de historiadores, pesquisadores, professores e jornalistas, os participantes me indagaram a respeito, preferindo tratar de outros temas da nossa história recente, como as relações da mídia com a ditadura militar.

Tampouco a não ida da presidente Dilma Rousseff para a viagem oficial aos Estados Unidos em outubro, outro assunto que dominou o noticiário nos dias em que estive fora, entrou na pauta das minhas conversas neste outro Brasil, que continua levando sua vida sem maiores atropelos, muito mais preocupado com a organização da "vesperata", uma nova versão das célebres serenatas da terra de JK, agora com os papéis invertidos: nas tardes de sábado, os menestréis aparecem cantando nas janelas dos velhos casarões coloniais e o público fica lá embaixo, nas ruas de calçamento com pedras capistranas, junto com o maestro.

Estas pequenas mudanças na vida nacional, tão importantes para quem habita o Brasil real, a gente só descobre indo lá, assim como é zero este ano, até agora, a taxa de mortalidade infantil em Barra do Chapéu, a cidade do Estado de São Paulo que proporcionalmente mais tem famílias beneficiadas com a Bolsa Família.

Na viagem de volta, fiquei pensando se não seria o caso de organizar uma excursão dos principais jornalistas de Brasília por estas novas realidades do Brasilzão velho de guerra, para ver se muda um pouco o disco do permanente clima de crise do fim do mundo que assola o país nas novas e nas velhas mídias, como se fosse impossível vivermos amanhãs mais venturosos e calmos, em que as crianças tenham saúde e os seresteiros possam cantar sem medo nas janelas das nossas cidades.

Bom final de semana a todos.

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