Fonte: Divirta-se UAI (clique aqui)
Diamantina – O foco é o passado, mas o 2º Festival de História (fHist), encerrado neste domingo em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, está de olho no futuro. O crescimento e a visibilidade do evento já começam a moldar a próxima edição, prevista para 2015. De acordo com a organização, convidados de renome nacional e internacional atraíram pelo menos 3 mil pessoas à cidade, superando o público da estreia, há dois anos.
“A rede hoteleira ficou totalmente ocupada, mas nosso público é também formado por estudantes, que acabam se hospedando em albergues e repúblicas. Isso nos leva a crer que superamos a estreia. O número de inscritos passou de 620 para 800”, informa o jornalista Américo Antunes, coordenador do fHist.
Aliás, essa pode ser uma das novidades da próxima edição, pois a Grande Tenda tem capacidade para receber 800 pessoas. “Isso nos obriga a remodelar o espaço onde é realizada a programaçãoprincipal, totalmente ocupado desta vez. Gente de todo o Brasil está realmente se interessando por história, tivemos inscrições de 16 estados. Além disso, o festival coincidiu com a vesperata, tradicional acontecimento diamantinense”, acrescenta Américo.
Além das palestras, as oficinas se destacaram, atraindo estudantes, professores e pesquisadores de Diamantina e cidades vizinhas. “A gente se preocupa com o legado que o fHist deixa para a região. Desenvolvemos um trabalho importante de integração com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri voltado para alunos e educadores”, informou o jornalista.
Para Américo Antunes, o balanço do fHist é extremamente positivo, mas as próximas edições impõem desafios. “Houve problemas, como ocorre em qualquer grande evento. Muita coisa deve ser aperfeiçoada, mas, no geral, a iniciativa deu certo. Temos público, profissionais e condições de celebrar a história”, conclui o jornalista.
Música e letra
O 2º fHist acertou em incorporar novas abordagens – como shows, concertos, exibição de filmes e exposições – à discussão da história. Num dos momentos mais emocionantes do festival, Maria Bethânia – em seu show de estreia na terra de JK – alternou poemas e canções. A plateia delirou.
Acompanhada do violonista Paulo Dafilin e do percussionista Carlos Cesar, a baiana mesclou textos e versos de Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Ramos Rosa, Sophia de Mello Breyner Andersen, José Craveirinha, Padre Antonio Vieira e Ferreira Gullar com trechos de conhecidas canções brasileiras e portuguesas.
O repertório musical foi de 'ABC do sertão' (Luiz Gonzaga), 'Romaria' (Renato Teixeira) e 'Último pau-de-arara' (J. Guimarães/Venâncio/Corumbá) a 'Estranha forma de vida' (Amália Rodrigues), passando por 'Marinheiro só' (domínio público, adaptação Caetano Veloso), 'Dança da solidão' (Paulinho da Viola) e 'Menino de Jaçanã' (Luís Vieira/Arnaldo Passos).
A apresentação da cantora na tenda da Praça Doutor Prado, no Centro de Diamantina, foi registrada e faz parte de projeto que engloba DVD e livro, que será lançado pela Editora UFMG e distribuído para escolas da rede pública.
“Tudo começou justamente aqui em Minas, em 2009, quando a Bethânia participou do ciclo de conferências Sentimentos do mundo, no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em BH. Ela se encantou tanto que quis prosseguir com a iniciativa. Diamantina foi o local das primeiras gravações do DVD”, informou o diretor do projeto, o cenógrafo e arquiteto Gringo Cardia. O lançamento está previsto para o ano que vem.
Lições do Passado
A escritora e crítica cultural argentina Beatriz Sarlo, que fez palestra no 2º fHist no sábado à noite, ressalta a importância de eventos dedicados ao debate da história. O fato de o festival mineiro ter como sede Diamantina, expressão do Brasil colônia, torna essa iniciativa mais simbólica e relevante, acredita ela.
“O que vimos aqui em Diamantina reflete o interesse crescente por história. Na Argentina, isso se iniciou com a retomada da democracia, por volta de 1984, quando começaram a ser publicados vários livros escritos por políticos e jornalistas. O fenômeno tem ocorrido não só lá e no Brasil, mas em vários países. As pessoas querem conhecer seu passado, suas origens. Há essa necessidade”, afirma.
Beatriz já conhecia Sabará, Ouro Preto e Belo Horizonte. Diamantina representou para ela nova oportunidade de contato com a obra do arquiteto Oscar Niemeyer, de quem é fã desde a adolescência. Em 1964, Beatriz e amigos saíram de Buenos Aires rumo a Brasília. No meio do caminho, o grupo visitou Minas.
“Sempre fui encantada pelo Niemeyer, mas ignorava que aqui em Diamantina havia prédios projetados por ele (Hotel Tijuco e Escola Júlia Kubitschek). Também descobri que o Mercado Velho serviu de inspiração para os arcos do Palácio da Alvorada. É muito curioso e interessante”, revela a intelectual argentina.
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