Quando o Festival de História de Diamantina (fHist) foi criado, há dois anos, os organizadores já sentiam que o evento – único do gênero no país – poderia se firmar, provando que o tema não se limita à academia. Tanto é que o festival, que começa hoje e vai até domingo, cresceu em números e importância. Viabilizado por recursos das leis de incentivo à cultura, deve receber cerca de 3 mil.
A ampliação das atividades e a incorporação de manifestações como música, cinema, poesia e fotografia é outro exemplo dessa consolidação, sem falar na relevância dos convidados. O fHist será aberto por um dos mais importantes brasilianistas: o historiador britânico Kenneth Maxwell. Fundador doPrograma de Estudos do Brasil da Universidade de Harvard, ele vai falar sobre o papel de Tiradentes e sua relação com a Revolução Americana no contexto político internacional do século 18. A conferência de abertura contará também com Bruno Carvalho, professor de estudos brasileiros e estudos urbanos na Universidade de Princeton (EUA), e das historiadoras Júnia Furtado e Heloísa Starling, professoras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A programação tem como eixo a versão dos vencidos para fatos significativos da história brasileira. A agenda oferece mesas-redondas, conferências, oficinas, rodas de conversa, arenas digitais, exposições, lançamento de livros, concertos e shows. “Essa temática permite interessante diversificação de discussões e olhares. Nossa ideia sempre foi esta: criar um festival eclético. Vivemos um momento interessante no Brasil e na América Latina, porque há esforço da academia e da sociedade para recontar a nossa história, abrir baús e tirar a sujeira debaixo do tapete. O foco no que não foi contado permite abordagem bastante ampla”, destaca o jornalista Américo Antunes, coordenador do evento.
Entre os convidados estão os jornalistas e escritores Fernando Morais, Paulo Markun, Lira Neto, Ricardo Kotscho e Mário Magalhães; a historiadora especializada em arqueologia Valdirene do Carmo Ambiel, responsável pela exumação dos restos mortais de dom Pedro I e de suas mulheres, Leopoldina e Amélia; e a pesquisadora Isabel Lustosa, especialista em história da imprensa.
Desembarcarão em Diamantina a crítica cultural argentina Beatriz Sarlo, estudiosa dos dilemas e impasses da contemporaneidade no campo da cultura; o jornalista norte-americano John Dinges, autor de livros sobre os horrores praticados por ditaduras latino-americanas; e o antropólogo congolês Kabengele Munang, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em diáspora africana.
“É muito importante ver que a história, cada vez mais, faz parte do cotidiano das pessoas. Isso tem a ver com os desejos de transformação da sociedade, a necessidade de passar o país a limpo e de tomar outros rumos. Definitivamente, a história se mostra uma ferramenta fundamental de construção do presente”, conclui Américo Antunes.
PROGRAMAÇÃO
» Quinta
10h – Conferência “O outro lado da história: Tiradentes e a constituição da independência dos Estados Unidos da América”, com Kenneth Maxwell, Júnia Furtado, Heloísa Starling e Bruno Carvalho
14h – Mesa-redonda “Arqueologia e patrimônio: vestígios, restos e objetos que recontam a história”, com Rosana Pinhel Mendes Najjar, Marcelo Fagundes, Valdirene do Carmo Ambiel e Andrés Zarankin
16h – Mesa-redonda “Ditadura e jornalismo: a história contada a quente”, com Ricardo Kotscho, Paulo Markun e Fernando Morais
9h – Mesa-redonda “Biografias reveladas: histórias da luta e do front”, com Mário Magalhães, Lira Neto e Ricardo Amaral
16h – Mesa-redonda “Histórias não contadas: memória e verdade em questão”, com Maria Rita Kehl, Heloísa Starling e Dulce Pandofi
21h – Leituras, com Maria Bethânia
» Sábado
11h – Mesa-redonda “Entre a cruz e aeroplano: perfis de mineiros no século 18”, com Guiomar de Grammont, Roberto Wagner de Almeida e Galeno Amorim
14h – Mesa-redonda “O Império do Brasil: nos bastidores da corte”, com Isabel Lustosa, Paulo Rezutti e Andréa Lisly Gonçalves
19h30 – Conferência “Testemunho e história”, com Beatriz Sarlo
21h – “História, cultura e resistência”, com Sérgio Vaz e Flávio Renegado
» Domingo
9h – Mesa-redonda “África/Brasil: histórias da diáspora e da identidade negra”, com Kanbengele Munanga, João José Reis e Petrônio Domingues
Você participou da primeira edição do fHist, em 2011. Ele veio para ficar?
Realmente, vejo um crescimento com relação à estreia. A nova edição está muito melhor, traz nomes importantes do cenário nacional e internacional, como a crítica argentina Beatriz Sarlo e o jornalista norte-americano John Dinges. O festival tem todas as condições de se consolidar. Há público para isso, mas isso depende de outras questões, como a própria infraestrutura de Diamantina.
Por que o festival é tão significativo?
Além de ser evento único no país – não há nada parecido aqui –, ele não se restringe à academia. Além disso, dialoga com várias áreas e manifestações artísticas e culturais. Por causa dessa leveza, desse desprendimento, ele é tão especial.
As histórias não contadas são o tema desta edição. Qual é a importância de revivê-las?
Além da questão da Comissão da Verdade, que vem promovendo um momento de verdadeiro desvelamento no país, há várias histórias desconhecidas de nosso país. Isso vem desde os tempos do Brasil colônia, ocorre com várias rebeliões e revoltas escravas, por exemplo. Há muita coisa que as pessoas não conhecem. Reconstituir essa memória é importantíssimo.
A vez da poesia
Uma das atrações mais esperadas é Maria Bethânia, que vai mesclar leitura de textos com canções pouco comuns em seu repertório. A baiana estará acompanhada pelo violonista Paulo Dafilin e pelo percussionista Carlos César. O espetáculo, em que a cantora declama poesia brasileira, africana e portuguesa, estreou no projeto Sentimentos do Mundo (2009), no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais, em BH. Agora, vai virar DVD e livro.
2º Festival de História de Diamantina (fHist)
Até domingo, em Diamantina
Programação completa no site do fHist
As inscrições estão encerradas
Nenhum comentário:
Postar um comentário