Publicado no Jornal Hoje em Dia – 19/05/2012 – Clique aqui para ler a reportagem completa.
A recém-instalada Comissão da Verdade vai ter que se debruçar sobre diversos casos ainda nebulosos, mas terá que analisar também um processo há muito considerado encerrado. A seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) quer uma nova investigação sobre a morte de Juscelino Kubitschek e, para isso, enviará nos próximos dias, à comissão, os documentos do caso.
Juscelino Kubitschek morreu aos 73 anos, em agosto de 1976. Segundo a versão oficial, ele foi vítima de um acidente na Via Dutra, em Resende (RJ), depois de o motorista Geraldo Ribeiro perder o controle do Opala no qual transportava o ex-presidente e bater em um caminhão na pista contrária.
Na ocasião, a culpa caiu sobre Josias Nunes de Oliveira, motorista de um ônibus da Viação Cometa que teria feito Geraldo perder o controle do carro. Geraldo foi absolvido em dois julgamentos e, para familiares e amigos, o mistério permanece.
Agora, a OAB-MG quer que o caso seja devidamente esclarecido. O processo com a investigação da morte – que contabiliza 2.629 páginas – será encaminhado à Comissão da Verdade. E são nessas páginas que estão diversos “furos” dos responsáveis pelas investigações, segundo o advogado William Santos, da comissão de direitos humanos da OAB-MG.
“Queremos que seja tudo refeito. Vamos mandar o processo e outras peças para mostrar a farsa”. Entre as peças estará um depoimento do secretário particular e amigo de Juscelino Kubitschek, Serafim Jardim, de 76 anos. Ele também classifica a investigação sobre o acidente como uma “farsa total”.
Depois de 20 anos de luta, Serafim Jardim conseguiu, em 1996, que o caso fosse reaberto, mas a nova investigação chegou à mesma conclusão da apuração original.
Porém, um laudo feito a partir da exumação dos restos mortais de Geraldo Ribeiro no Cemitério da Saudade, revelou um fragmento de metal “de forma cilindro-cônica, medindo sete milímetros de comprimento e diâmetro médio de dois centímetros” no crânio do motorista.
A exumação foi feita no Instituto Médico Legal (IML) da capital mineira, mas a Polícia Civil descartou a possibilidade de o fragmento ser de um projétil. “Disseram que era prego de caixão”, comentou Jardim.
A OAB afirma ainda que os responsáveis pelas investigações colheram o depoimento de apenas nove passageiros do ônibus – e nenhum deles confirmou a versão da colisão com o Opala –, sendo que havia 33 pessoas no veículo, além do motorista.
As fotos dos corpos do presidente e do motorista também desapareceram da documentação, diz a entidade. “Esse processo é uma incoerência do início ao fim”, avalia Santos.
Ele lembra que um eventual crime que tenha ocorrido já está prescrito desde 1996, mas salienta que o caso precisa ser esclarecido.
Jardim diz que deposita, na comissão, a esperança de “corrigir a história”. Os delegados responsáveis pelas investigações não foram localizados pela reportagem.
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