Autor: Joaquim Ribeiro Barbosa - “Quincas”
Vai-me crescendo a percepção de que nós, filhos, moradores ou adotados por Diamantina, não temos isenção para falar de suas belezas, de seus encantamentos, desse estilo invulgar que a torna tão singularmente diferente, recatada e excitante fêmea em que o cio nunca se abranda. Pela simples razão de que coabitamos com ela noite e dia, enfeitiçamo-nos com seus cheiros, acariciamos apaixonadamente suas curvilíneas ruelas, e sua musicalidade mais nos parece o ar vital que respiramos. No entanto, quando menos esperamos, surge alguma inovação, alguma maneira diferente de cantar, de tocar, de fazer arranjos melódicos, ousada provocação às serestas, às vesperatas, aos concertos e a tantos outros respiros musicais com que esta cidade vai se oxigenando magicamente.
Na última sexta-feira flagrei a noite diamantinense num ambiente pouco conhecido e frequentado: o pátio interno do Museu do Diamante. Quem imaginaria que aquele espaço acolhedor, mas tão simples e despojado, se transformaria num palco intimista para a musicalidade diamantinense? Quando lá cheguei e me assentei numa das cadeiras enfileiradas sobre um tablado de madeira, pensei que ia molhar-me em sua gélida umidade. Todo mundo agasalhado e tiritando na noite friorenta de maio, nem uma fugidia estrela brilhava no sempre bonito céu destas montanhas. Mas tão logo Wander Conceição deu início à sua proposta de Jobiniano diálogo entre cordas, sopros, percussões, e pôs-se a apresentar alguns companheiros instrumentistas que integram a Orquestra Jovem de Diamantina e o corpo docente do Conservatório Lobo de Mesquita, o ambiente começou a ganhar luz própria, chegando a resplandecer sob os acordes de violinos, flautas, sax, celos, trombone, contrabaixo, bateria e um trio de vozes femininas que rasgavam o pálio da noite com boêmia sensualidade.
Já de muito não escutava a voz e o dedilhar de Wander. Desde que se recolheu a escrever um livro sobre João Gilberto, nos tempos em que ele morou entre nós e por estas esquinas e ladeiras descobriu a batida da bossa nova, esse incansável pesquisador se apartou da música. Mas só aparentemente. Naquela noite inimaginável, naquele pátio insuspeito do museu, Wander revelou claramente como foi influenciado e se impregnou do virtuosismo de Tom Jobim, Vinícius de Morais e outros poetas, letristas e músicos que se embasbacaram com a genialidade do ritmo complexo, inovador e irresistível criado por um baiano sistemático, arredio e seu dileto amigo, um solitário violão.
Continua na Voz de Diamantina Edição 563 de 26 de maio de 2012
Confira nesta edição:
- Balaio de Pitacos
- Passo importante para a instalação do Parque Tecnológico da UFVJM em Diamantina ao lado do Aeroporto JK e em estreita sintonia com o IFET
- Residência médica cada vez mais próxima de Diamantina
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