Chamam você de gênio recluso. O que você pensa desses dois adjetivos: gênio e recluso?
Se eu não tirasse uma parte da minha vida, principalmente nos anos 50, quieto como lá em Diamantina, recluso, quieto, sentindo meu Eu, não sairia a Bossa Nova. Portanto, recluso é um adjetivo que não quer dizer antissocial. Eu sou caseiro, gosto de ficar em casa, gosto de tocar meu violão, de assistir os noticiários, assistir à missa cedinho na TV, de conversar com meus amigos da internet, os velhos e os novos. Tem cada menino novo e umas moças novas que sabem tudo de música brasileira. Alguns citam temas que eu nem sabia existir. Incrível aprendizado. Agora, se entende como recluso não gostar de restaurantes, de festas, da sociedade --aí podem me chamar de recluso. Eu gosto das coisas simples e da minha casa. Talvez por isso sinto tão com essa questão do despejo. Eu não sou gênio. Gênio é o Einstein, Bach, Jobim, Caymmi, Mozart, Beethoven, Newton. Eu batalhei em cima do meu ofício, que é tocar, tocar, tocar e tocar. As pessoas então julgam, sempre em primeiro lugar. Vivemos numa república democrática, onde ainda existe "condessa". Estranho, mas é assim. Tudo bem. Sensatez é sempre bom para o ser humano. Atitudes impensadas, impulsivas, a favor do ego, geram karma. Por exemplo: você sabia que a condessa que está me despejando construiu uma senhora mansão sobre um manguezal no sul da Bahia? Cadê o Ibama? Parece que os moradores do local não gostara muito disso.
Voltando à Bossa Nova. O que você se lembra da invenção da batida de violão que se tornaria o cerne do movimento, nos anos 50?
Os anos 50 que você diz foram os tempos de Diamantina, em Minas? Não é que [a batida] nasceu ali, mas foi ali que tive a oportunidade de treinar bastante. Tive muita paz naquela casa. Tinha poucos amigos ali. Conseguia me concentrar bastante. Tocava muito as coisas do [Dorival] Caymmi e do Noel [Rosa] lá. Às vezes, 19, 20 horas por dia, sem parar.
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