quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Bambães, meu belo

Foto: Arquivos do Zé da Sé, com informações do Sr. Nélio Lisboa (veja mais aqui)

Igrejinha do BambãesA capela da foto não existe mais, mas o cruzeiro bastante modificado ainda está lá. O local é conhecido como o cruzeiro de Bambães e muitas são as histórias populares sobre esse personagem. Uma das narrativas que estão no imaginário dos diamantinenses diz que certa vez Bambães foi ferido e tido como morto,mas no dia seguinte ele apareceu naquele local, fingindo estar tocando violão, instrumento que ainda não tinha, mas tinha muita vontade de tocar.

No famoso livro “ Minha vida de menina” de Helena Morley o famoso Bambães também é citado:

“Hoje andou pela cidade a passeata de Bambães. Ele põe no andor um sino todo enfeitado e sai pela rua repicando e pedindo esmolas para a igrejinha que ele está fazendo no Rio Grande. É muito engraçado. Os meninos vão atrás acompanhando, e eu acho que ele alegra muito as ruas.

Bambães é baixinho, gorducho, muito alegre e só trata todo mundo de “Meu Belo”. Todos gostam del e. Mas ninguém lhe dá esmolas, porque dizem que ele tira é para ele. Eu não creio.

Meu pai diz que é só vendo essa igreja pronta, com cem réis de cada um, é que ele acredita. Eu penso mesmo que eu não era nascida, quando Bambães começou esta capela, e, desde que eu me entendo, ela está na mesma.

Vovó é das poucas pessoas que dão esmola maior, e acha que é preciso igreja no Rio Grande. Todos dizem que não se precisa mais igreja na cidade, que já tem muitas.”

A professora Betânia Gonçalves Figueiredo do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais também cita Bambães em seu artigo, cujo título é “Barbeiros e cirurgiões: atuação dos práticos ao longo do século XIX”.

Havia também, circulando pelas cidades de Minas, os barbeiros ambulantes. Um deles tornou-se conhecido em Diamantina também por apresentar características de détraqué. Bambães, que chamava a todos de "meu belo", é citado por dois memorialistas da cidade como sujeito simpático, que circulava pelas ruas fazendo brincadeiras e exercendo seu ofício (Morley, 1966, p. 218; Arno, 1906, p. 89). Neste exemplo, o barbeiro exercia sua atividade de forma ambulante, perambulando pelas ruas e oferecendo seus serviços.”

O Sr. Nélio Lisboa getilmente nos enviou mais detalhes desse personagem:

Complementado as informações à respeito do Bambães e sua Igrejinha, consta ainda no "Acervo Histórico e Fotográfico Zé da Sé" que: Bernardino Vieira do Couto - Vulgo "Bambães" Iniciou e deu corpo a uma Capela, na Praça do Cruzeiro, local onde os Bandeirantes plantaram os primeiros ranchos do povoado, ficando esta inacabada. Ele era Oficial de Carpinteiro. A Igrejinha levava o nome e seria consagrada a Nossa Senhora da Soledade, de sua devoção. O Bambães, sem recursos financeiros, vinha para a rua com a meninada da redondeza, carregando dois sinos em andores, cujas cordas ele puxava cá de baixo, bimbalhando-os sem cessar e cantando uma quadrinha mais ou menos assim:

" As esmolas que deres ao sino

Em favor da virtude e humanidade,

Tudo pode fazer a voz divina

Pelo bem e amor à eternidade."

Afável e cortês, seu tratamento para todos era de "Meu belo", acabando por ficar conhecido pela saudação que foi incorporada ao seu nome, apesar de ser uma figura grotesca. No dia 1º de março de 1895 foi criada em Diamantina a Sub-Estação dos Correiros e o Bernardino foi nomeado Suplente de Carteiro. Fechando os olhos sem ver concluido o que idealizara e ocupara anos de sua vida, não achou continuador que lhe completasse a empreitada e o tempo foi se encarregando rapidamente de desfazer o que o esforço humano construira. Ameaçando ruir, a sua Capelinha foi demolida por ordem do Prefeito Francisco Neto Mota.

(Fontes do Acervo consultadas: Efemérides -Célio Hugo Alves Pereira-pgs 92/93- 1ª Edição 2007 e Vultos e Fatos de Diamantina- 2002- Soter Couto -fl 89/90).

Com certeza, após essas ricas histórias, verdadeiras ou não, podemos concluir que Bambães foi um personagem marcante da cidade durante a passagem do século XIX para o XX e que precisa ser reasgatado. Caso você conheça alguma outra narrativa, favor enviar para passadicovirtual@gmail.com.

2 comentários:

  1. Onde, extamente,ficava a capela?

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  2. Pedroca,
    Pelo que entendi atualmente lá existe somente o cruzeiro, que fica perto do Supermercado Cordeiro.
    Vou tentar confirmar essa informação..
    Inté+

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