Autor: Joaquim Ribeiro Barbosa - “Quincas”
Se Diamantina soubesse dar-se respeito, uma das disciplinas obrigatórias nos lares, nos currículos escolares e em todo e qualquer lugar, deveria ser o cultivo, a vigilância e a preservação da Serra do Cruzeiro. Desde tenra idade, as crianças aqui nascidas ou que aqui passassem a morar seriam batizadas ecologicamente e ungidas com os sagrados óleos da admiração, da reverência e do enlevamento com que a natureza incrustou esta cidade por entre penedias tão grandiosas, únicas e complementares ao casario, aos becos e ruelas que vão transpondo graciosamente empedrados, grupiaras e frinchas de serra. Mais que singular privilégio, o simples e raro prazer de viver numa paisagem ao mesmo tempo imponente e semelhante a tosco presépio deveria inculcar nas pessoas a sensação de êxtase e o sentimento de culpa por meramente se acostumarem com sua altanaria e já nem reagirem à sanha predadora dos que a consideram um monte de pedras como outro qualquer. A quem, não conseguisse apreender a magia colorida com que os raios do sol poente a clareiam a cada entardecer com diferente e nunca repetida luminosidade, e nem lograsse captar a pureza com que as névoas a guarnecem de delicados cachecóis, caberia rogar aos céus que lhe concedessem a graça da sensibilidade ou esperar dos homens o julgamento de sua predatória rudeza.
Na época em que Diamantina se preparava para receber o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, o ministro Weffort, que tanto se encantou com a cidade que até manifestou desejo de comprar uma de suas casas, e os vários emissários da Unesco que aqui estiveram cobraram de nossas autoridades empenho na preservação da belíssima moldura de Diamantina. Além de demarcarem fortemente a personalidade visual do antigo Tijuco, essas franjas da Cordilheira do Espinhaço fazem parte da paisagem e se tornaram indissociáveis da sua imagem. Quando da assinatura da honrosa outorga, a Unesco exigiu de Diamantina a rápida elaboração de um Plano Diretor e a demarcação de uma poligonal na Serra dos Cristais, acima da qual nenhuma construção poderia ser levantada. Infelizmente, porém, nossos prefeitos nunca demonstraram sensibilidade, energia e visão para coibir severamente a devastação desse importante componente paisagístico. Não fosse o Ministério Público, parte maior ainda da serra já estaria invadida pelo crescimento desordenado, apesar de o também negligente Iepha ter tombado toda a área e ser supostamente responsável pela sua preservação.
Continua na Voz de Diamantina Edição 578 de 08 de setembro de 2012
Confira nesta edição:
- Por que voar em céu azul?
- 111 dias de greve. Três anos de atraso.
- A incompetência se anula nas inverdades
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