Autor: Joaquim Ribeiro Barbosa - “Quincas”
Na divisa do altar-mor, o antigo e trincado sino Simão, agora depositado sobre duas vigas de madeira, a tudo assistia em silenciosa humildade. Gravadas em sua estrutura metálica, entre a efígie de uma cruz e a data 1896, três iniciais se destacavam: J.A.G. De quem seriam? Do sineiro que o fundiu ali mesmo, no povoado? De alguém que o doara à Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em agradecimento por copiosas bamburras? E aquele vergão de solda que percorria sua face e atravessava a cruz que o ornamentava? Quem ousara ferir o bronze e o estanho de sua moldagem com tão grosseiro remendo?
No seu modesto cantinho, longe do campanário, o badalo dependurado em uma de suas garras de sustentação, Simão fora ali entronizado como preciosa relíquia. Durante décadas, ele anunciara nascimentos, casamentos, mortes, chamara a comunidade para missas de ação de graças, alegrara festas, acompanhara foguetórios e subidas de mastros, reboara por aquelas paragens badaladas de júbilo, de gratidão, de luto. Aquela cicatriz metálica era uma tentativa de recuperar sua trinca. Nada é mais humilhante para esses velhos e sonoros instrumentos do que o som de taquara rachada. Daí, certamente, a altivez com que o calejado Simão se postava em seu novo nicho. Próximo de uma das estações da via-sacra e ao lado da placa com o nome dos padrinhos do sino que o substituiu na torre, ele parecia até orgulhoso de ter como sucessor o sino Luiz, que seria assim batizado em homenagem a Luíza, uma das filhas do Mendanha mais queridas e que tantas vezes o fizera soar para enriquecer os ritos da Igreja. A velha filha de escravos o conhecera menino, o som à flor do bronze; convivera muito com ele e se entristecera com o enrouquecer de sua voz. Com que alegria ela agora escutaria, lá nas alturas, as badaladas do sino Luiz num reboar que pareceria vindo das entranhas de quem lhe inspirara o nome.
Continua na Voz de Diamantina Edição 579 de 15 de setembro de 2012
Confira nesta edição:
- Balaio de Pitacos
- Relatório Final da CPI da Câmara Municipal de Diamantina
- Doze de Setembro, sinônimo de data cívica
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