terça-feira, 2 de julho de 2013

O mérito da doação do terreno da Rua da Glória, pela Santa Casa, para a instalação da Faculdade de Odontologia em Diamantina

Autor: Wander Conceição

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Nos primeiros meses do ano de 1953, um grupo de professores argentinos, especialistas da área de odontologia, fez a opção de se exilar no Brasil, em decorrência da campanha repressiva aos intelectuais argentinos antagonistas ao governo do presidente Juan Domingo Perón. Desembarcaram em Belo Horizonte, onde solicitaram guarida ao professor Pedro Paulo Penido, antigo diretor do Serviço Odontológico da Polícia Militar mineira, mas na época, ocupando o cargo de magnífico reitor da Universidade de Minas Gerais. Amigo particular de Juscelino Kubitschek de Oliveira desde a contra revolução de 1932, o professor Penido procurou o então governador, solicitando-lhe ajuda para definir a situação daquele grupo de professores argentinos.

Havia em Diamantina a idéia fixa de fundação de uma Faculdade de Odontologia e Farmácia, que ganhou força durante a instituição da Sociedade Anônima criada com o propósito de fundação do Colégio Diamantinense em 1934. Esse tema voltara a ser fortemente discutido em 1951, no seio da Associação Comercial e Industrial de Diamantina, quando aquela instituição passara a enviar memorandos, solicitando ações em favor do melhoramento da cidade, ao governador recém-eleito.

Diante da solicitação do professor Pedro Paulo Penido, o governador Juscelino Kubitschek

percebeu, naquele acontecimento, a possibilidade de se criar a tão sonhada Faculdade de Odontologia em Diamantina, aproveitando, para formar o seu corpo docente, o grupo de professores argentinos, exilados no Brasil. Com esse propósito, no sábado, 11 de abril de 1953, Juscelino Kubitschek chegou, inesperadamente, a Diamantina, onde se reuniu com o prefeito Lomelino Ramos Couto, para tratar da fundação da referida Faculdade e verificar a possibilidade de sua inauguração imediata. Naquela reunião, resolveu-se que o prefeito ficaria responsável pela parte administrativa, encarregado de conseguir o terreno para a construção do prédio da Faculdade e de escolher os funcionários que atuariam no corpo administrativo da nova instituição.

cirlei1A prefeitura vislumbrou a construção do prédio em um lote situado em área nobre da cidade, de propriedade da Santa Casa de Caridade de Diamantina, passando a intermediar, entre a Santa Casa e o governo do estado, as negociações para sua aquisição. Esse terreno localizava-se na parte posterior da Santa Casa, estendendo-se pela rua da Glória, no qual, no final do século XIX, plantou-se extensa videira, para complementar a produção vinícola do Colégio Nossa Senhora das Dores. Entretanto, como o estatuto da instituição não permitia a venda de bens imóveis, o terreno era inalienável. Rezava ainda o estatuto, que toda renda oriunda de bens patrimoniais, obrigatoriamente, teria que ser investida no patrimônio da Santa Casa, não podendo ter outra finalidade de consumo. A única solução encontrada foi a formalização de uma permuta.

Na parte frontal superior do terreno, com entrada pela rua da Caridade, havia o antigo prédio provedor “Comendador Brant”, que funcionara como hospício para abrigar os considerados alienados, construído ao final do século XIX. O local, nas décadas anteriores àquele ano de 1953, oferecera assistência a pacientes acometidos de tifo, sarampo e tuberculose. Na parte posterior do referido prédio do hospício, existiam duas alas laterais anexas, compridas e sem divisória, construídas de forma contraposta, com celas individuais para abrigar os considerados loucos. Tanto o prédio, como também as alas anexas, estavam muito danificados, por conseqüência, sem higiene alguma.

Os termos da permuta foram fechados com o governo do estado na seguinte condição: O governo receberia, por doação, a parte do terreno da Santa Casa voltada para a rua da Glória, para construção da Faculdade de Odontologia. Em contrapartida, se obrigaria a demolir as duas alas anexas com as celas individuais para loucos, há muito obsoletas, como se obrigaria também a construir o pavilhão Santa Rita, ao lado do antigo hospital de alienados.

O pavilhão Santa Rita foi construído com o propósito de otimizar o atendimento, dividindo-o em três partes distintas, com instalações sanitárias individualizadas, para oferecer um pouco mais de conforto aos pacientes. A primeira parte, para abrigar as parturientes, a segunda, para as patologias clínicas, e a terceira, como pequeno isolamento das patologias infecto-contagiosas. O governo do estado ainda doou para a Santa Casa uma mesa para cirurgia, da marca Mercedes, boa quantidade de instrumentos cirúrgicos e parte de um laboratório para análises clínicas, com microscópio e reagentes para exames.

Este documento publicado agora pelo atual provedor, Juscelino Brasiliano Roque, é o registro dos termos da doação do terreno que a Santa Casa fez ao governo do estado, em 30 de junho de 1953. Embora os professores argentinos tenham voltado para o seu país no início do ano seguinte, em face de algumas mudanças que aconteceram na situação política da Argentina, o processo de implantação da Faculdade de Odontologia já estava em curso bem adiantado, acelerado, principalmente, pela negociação incontinenti do terreno, efetuada com a Santa Casa. Novos professores de Belo Horizonte foram contratados e o curso teve início no mês de abril de 1954, sendo utilizadas as dependências do prédio do Grupo Escolar Júlia Kubitschek. No primeiro semestre do ano seguinte, as aulas passaram para o casarão da rua Jogo da Bola, nº. 08, ao lado da Casa de Chica da Silva. A construção da sede própria da Faculdade de Odontologia iniciou-se já no ano de 1953. Ao final do mês de maio de 1955, considerando-se que algumas salas construídas na parte superior do prédio na rua da Glória já reuniam condições de acomodar os alunos, a secretaria, o instrumental e o pequeno museu em formação na escola, operou-se a mudança definitiva da Faculdade de Odontologia para seu prédio próprio, situado à rua da Glória.

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