sexta-feira, 30 de março de 2012

Leia nesta semana na Voz de Diamantina

CASARÃO DOS ORLANDI VIRA MOEDA DE POLITICAGEM PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

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Raymond Aron, famoso pensador francês, dizia que a política não coabita com a moral. Não é, pois, descabido afirmar que ao assistir à última reunião da câmara, por internet e em tempo real, eu me senti em desconcertante voyeurismo. Como a vislumbrar - pelo buraco da fechadura da Web - cenas que as pessoas só cometem entre quatro paredes. Não que os parlamentares exibissem suas “vergonhas” ou praticassem atos libidinosos. Nada disso! Ou pior que isso: parte deles expunha a nem sempre escamoteável alma política. Alguns, através das palavras; outros, em rumorosos silêncios. Não se tratava de nenhuma orgia e nem havia sexo explícito. Mas era chocante a desfaçatez implícita em ensaiadas argumentações e em mutismos comprometedores. E assim, entre apartes e acaloradas discussões, apesar de apenas escutar vozes dissonantes, eu enxergava nobres edis em pugilato verbal entremeado de salamaleques de vossa excelência para cá e para lá.

Quando a cortina virtual se abriu e no palco do legislativo perfilaram os atores daquela noite, o espaço da plateia se encheu de aguerrido público. Que, diferentemente de outras encenações, se compunha de secretários, funcionários do governo e moradores do Bairro Cazuza. O que era compreensível. Grandes têm sido as dificuldades desta gestão para dar sentido ao Teatro Santa Isabel. Acrescentar-lhe uma Escola de Artes seria exposição gratuita de incompetência. E ademais, para boa parte dos ali presentes, o resultado daquela sessão poderia garantir-lhes os empregos, as interesseiras conversas de pé-de-ouvido e outros jogos de influência. Era crucial aplaudir os parlamentares que lutassem por favoritismos tão sabujamente conquistados. Nem que fosse por meio de discretos sorrisos, combinados meneios, cúmplices olhares. Essa claque bem amestrada e ensaiada é que certamente encorajou o prolixo fantoche do governo a soltar a voz e proclamar a importância de autorizar o padre-prefeito a vender o Casarão dos Orlandi. Tão caloroso ele se mostrou que mais parecia um garnisé. De peito aprumado, gestos loquazes e canto tonitruante, ele se impôs no terreiro. Tirante o vereador Marcos Fonseca, que defendeu o enriquecimento das artes que o bom aproveitamento daquele prédio poderia significar, e o fugidio Tarcísio que, sem descer do muro, protelou o impasse, não se ouviu um só pio ou destoante cocoricó.

Continua na Voz de Diamantina Edição 555 de 31 de março de 2012

Joaquim Ribeiro Barbosa - “Quincas”

Confira nesta edição:

  • Mais um Balaio de Pitacos
  • Coro dos Anjos em Pirapora
  • Turismo e Lixo – Associação Incompatível
  • Enfoque Social
  • Lulu e a Hora Dançante

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