Liberação de verba para reforma da igreja, em Itapanhoacanga, está emperrada há 11 anos
Fonte: Ernesto Braga - Do Hoje em Dia - 1/08/2011
ITAPANHOACANGA – Símbolo da época em que esse pequeno distrito de Alvorada de Minas, na Região Central do Estado, era o mais rico garimpo de ouro do Serro Frio (arraial que deu origem ao Serro), a Igreja Matriz de São José, edificação barroca construída entre 1746 e 1787, clama por socorro.
Em estado de conservação deplorável, o imóvel, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1971, necessita de revitalização emergencial em sua estrutura física e elementos artísticos. Impedida de fazer a reforma por conta própria, devido ao tombamento do bem, a comunidade aguarda liberação de recursos desde 2000.
Zelador da igreja há mais de sete décadas, Pedro Antônio de Carvalho Filho, de 84 anos, conhecido na cidade de cerca de 1 mil habitantes como “Pedula”, mostra, com muita tristeza, todos os problemas que ameaçam o imóvel localizado na principal via de Itapanhoacanga, por onde passou a riqueza do ciclo do ouro a caminho de Ouro Preto. E não são poucos: paredes esburacadas, remendadas e mofadas por infiltrações; estrutura de madeira do telhado danificada por cupins e com telhas quebradas, gerando goteiras; buracos no assoalho de tábuas e pilares com a base comprometida.
A rede elétrica original não funciona mais e fiação exposta é encontrada por toda a edificação. O risco de incêndio é grande e, para agravar a situação, os dois extintores pendurados na parede estão vazios, segundo Pedula. Os elementos artísticos também estão se deteriorando com a ação do tempo. Doze painéis pintados no forro da nave da igreja apresentam fissuras. Em um dos quadros há uma frase com a assinatura do autor: “No ano de 1787, pintou essa pintura Manoel Antônio da Fonseca, por mandado do capitão José Pereira Bonjardim, que por sua eterna devoção deu as tintas ao bem”.
O púlpito de uma das laterais da nave, feito de cedro, está escorado. As medalhas de madeira que ornamentavam as portas caíram e foram guardadas em uma caixa de compensado. Talhas e colunas esculpidas no altar estão danificadas, o sino foi pendurado de forma improvisada e a sacristia virou depósito.
Parte do muro de pedras que cerca a igreja, construído na mesma época da edificação barroca, desmoronou. “A igreja está em tempo de cair sobre nossas cabeças. Antes de ficar velho, eu mesmo subia no telhado para fazer pequenos reparos, mas agora não aguento mais. O Patrimônio também nos orienta a não mexer. Faz dó só olhar”, lamenta Pedula.
Segundo a professora Silvânia Moreira de Oliveira Reis, de 46 anos, a comunidade já fez várias mobilizações cobrando a reforma da igreja de São José. “Fizemos abaixo-assinado, procuramos o Iphan, o Ministério Público Estadual e enviamos cartas à Arquidiocese de Diamantina. A situação é tão precária que tivemos de retirar as imagens e peças sacras da igreja e levar para um local mais seguro”, afirma.
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