Fonte: Walter Sebastião - EM Cultura
Tiradentes e a Inconfidência Mineira de um lado; Chica da Silva de outro. Estes são os ícones de Minas Gerais cultivados pelo cinema brasileiro. Alterando um pouco a rotina de mergulhos nas lendas e histórias do século 18, sem deixar de pontuar o quanto a época continua incendiando a imaginação contemporânea, chega às telas este mês o documentário Estrada Real da cachaça. É o longa-metragem de estreia de Pedro Urano, um diretor de fotografia carioca, filho de mãe mineira. Trata-se, como o nome indica, de um filme sobre a cultura da cachaça. Bebida, como conta o diretor, feita no Brasil inteiro, mas que tem em Minas uma produção que é sinônimo de qualidade. “Aqui se leva a fabricação e o consumo a sério”, afirma Pedro.
O projeto surgiu em 2004, quando Pedro Urano esteve no Norte de Minas Gerais, trabalhando como diretor de fotografia do curta Diário do sertão, filmado na região de São Romão. Como ele conta, são de lá as cachaças de que ele gosta. Como a cultura da pinga é forte na região, ficou o desejo de fazer um filme sobre o assunto. “Pesquisando, descobri que a cachaça é muito presente na cultura brasileira, mas raramente como protagonista. Achei que merecia um filme só dela”, justifica. “Não é filme sobre algo, mas através de algo.”
Preparando o filme, o diretor deparou-se com uma questão pouco formulada: por que Minas Gerais é referência quando se fala em cachaça se não foi nem é referência de produção açucareira? Procurando a resposta, chegou à Estrada Real, nome contemporâneo para vias entre o litoral e o interior, usadas para circulação de produtos da região e importados. “No filme, não só evoco algumas delas, mas crio uma estrada real: a que começa em Januária e termina em Paraty, do sertão à floresta tropical”, brinca o cineasta, lembrando que são cidades com nomes de famosas marcas de cachaça.
Segundo Pedro Urano, seu filme é popular e sofisticado como é a cachaça. O documentário tenta ser sensorial, sensual, construído com sons e imagens, com abordagem poética. Fruto de quase cinco anos de elaboração para conseguir um aspecto “quase mágico” da produção da bebida, dos tonéis de fermentação, com a cana de açúcar borbulhando, sem fogo aceso. Desafio foi encontrar imagens para o transe provocado pela bebida, mostrar o século 18, viajantes cruzando longos percursos em terras estranhas, sujeitos a assaltos e ataques de animais e populações invisíveis e hostis, como os índios.
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