segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pequi, fruto do sertão


Fonte: Jornal Hoje em Dia (clique aqui)

Uma proposta de reformulação para os critérios de proteção do pequizeiro está em discussão na Assembleia Legislativa, no centro de uma grande polêmica, como noticiou muito recentemente o Hoje em Dia. Por si só, o pequi já justifica a incontestável relevância do tema, considerando as suas múltiplas dimensões. Mas é também fundamental o contexto no qual se desenvolve o debate, pois se trata de discutir mecanismos de preservação do cerrado, esse ecossistema variado e rico que se encontra ameaçado.

Nascido em Bocaiuva, no Norte de Minas, conheço bem o valor do cerrado e do pequizeiro, uma de suas mais representativas espécies vegetais. Nunca é demais lembrar que a forte paisagem do cerrado é o cenário de onde partiu a grandiosa obra de Guimarães Rosa, o Grande Sertão: Veredas. É um território de vastos e amplos caminhos, fazendo-se presente em vários estados brasileiros. Do centro-norte de Minas, o cerrado se estende por Goiás, Tocantins, passa pelo centro-sul da Bahia e segue sua sina interiorana, em regiões variadas. Nele, o pequizeiro se contorce, mas ergue-se forte, como uma testemunha da vida do cerrado, que é também chamado de sertão, de Gerais.

O pequi é uma daquelas coisas que vão muito além de si mesmo. Ele é o bom alimento, tem forte dimensão social e amplas possibilidades econômicas, mas também guarda uma vigorosa carga simbólica, cultural da terra.

Na minha infância, comprovei de perto sua presença entre os sertanejos, pois vi como as famílias pobres, no tempo do pequi, melhoravam sua condição alimentar.  É também uma planta generosa, que dispensa cuidados. Por isso mesmo, nos perguntamos como uma planta tão generosa quanto essa, que alimenta pessoas, além de se abrir a outras tantas aplicações, esteja ameaçada de extinção.

Como podemos ter sido tão displicentes com um patrimônio tão rico quanto esse. É necessário e urgente, então, pensarmos em alternativas economicamente viáveis e ambientalmente responsáveis que nos permitam continuar usufruindo dos benefícios do pequi garantindo o mesmo para gerações futuras e conservando o cerrado.

A preservação é fundamental. Mas penso que ela deva ser pensada e discutida na perspectiva do desenvolvimento sustentável, conciliando as dimensões econômica, ambiental, cultural e social. Temos a obrigação de cuidar do meio ambiente, mas também temos os desafios de acolher as famílias.

Para isso, também precisamos crescer, gerar empregos, produzir alimentos. Sei que não podemos fazer concessões que abram brechas para exploradores sem responsabilidade com as gerações futuras. Mas o nosso desafio não é unidimensional e o ambiental tem de estar sempre articulado com o social para dar sustentabilidade aos projetos de desenvolvimento.

Autor: Patrus Ananias - Analista Legislativo da ALMG, ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e professor da PUC-MG. E-mail:ananiaspatrus@gmail.com

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