segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Filme sobre Tiradentes, rodado em Diamantina com atores do Galpão, concorre ao Urso de Ouro

Fonte: Hoje em Dia
Marcelo Gomes exibe uma voz rouca, quase inaudível. Desde quando a organização do Festival de Berlim anunciou “Joaquim” entre os filmes concorrentes de sua 67º edição, na terça passada, o cineasta pernambucano não parou mais de dar entrevista.
“Uma das grandes maravilhas é ser convidado para um festival desse tamanho e importância, o que traz uma visibilidade grande para um filme de orçamento pequeno. Essa divulgação é fundamental para a gente”, observa Marcelo.
Para os mineiros em especial, há um outro motivo para comemorar: na telona da Berlinale estará a história não de um Joaquim qualquer, mas a de Joaquim Silvério dos Reis, que entrou para a história como Tiradentes.
“Meu objetivo foi fazer uma crônica social do Brasil colônia e não uma novela. Interessava-me mais o cotidiano desse relato histórico (sobre a Inconfidência Mineira)”, que levou nove anos para tirar o longa-metragem do papel.
Os atrasos de cronograma ocorreram principalmente pela saída de um investidor espanhol. “Foi bom para ganhar um tempo de leitura, instrumentalizando o roteiro para o lugar que queria chegar”, destaca


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Com seis casos confirmados, Diamantina tem surto de malária

Fonte: Estado de Minas

Um surto de malária identificado no município de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, trouxe alerta para as autoridades sanitárias estaduais e preocupa a população. No dia 19 de dezembro foram confirmados pelos técnicos da Secretaria de Estado de Saúde (SES) seis casos de pessoas infectadas pelo Plasmodium vivax, uma das cinco espécies de protozoários que infectam o homem com a doença e o mais comum dos micro-organismos. 


Em todo o estado de Minas Gerais foram registrados sete casos em 2016. Além dos seis de Diamantina, outro paciente desenvolveu a doença em Simonésia, na Zona da Mata. No ano de 2015 inteiro, foi registrado apenas um caso, em Lima Duarte, também na Zona da Mata. O último tratado em Diamantina foi um caso importado, em 2012, segundo o Datasus. O local que é tratado pela Diretoria de Vigilância Ambiental/Superintendência de Vigilância Epidemiológica Ambiental e Saúde do Trabalhador/Subsecretaria de Vigilância e Proteção à Saúde como o Local da Provável Infecção (LPI) é o garimpo de Areinha, que fica a 140 quilômetros do centro de Diamantina e tem uma população que chega a 2 mil garimpeiros, muitos deles vivem na sede do município. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O busto de Sá no Largo de Dom Joâo


Autor: Wander Conceição.

Há muito, tenho evitado emitir opiniões sobre diversas coisas e situações que envolvem Diamantina. Como possuo o hábito de falar a verdade, não maquiar minha opinião, e não me portar como bom cordeirinho, na maioria das vezes que me expresso sobre temas ácidos, recebo o rótulo de polêmico. Para grande número de pessoas é muito mais fácil e cômodo seguir o fluxo geral às cegas, ainda que em seu íntimo carreguem a convicção de que discordam frontalmente da direção tomada.
É extremamente ridícula e deprimente a postura de um súdito tentando mostrar para seus pares que possui uma realeza maior do que a do rei. Penso que a causa desse desvio de conduta está em dois vícios principais: a vaidade exacerbada e a inveja. Inflamados esses dois, eles são capazes de alimentar a arbitrariedade, a vingança, a ira, a perseguição, a empáfia, a arrogância, a prepotência, a injustiça, a intransigência, a covardia, a falsidade, dentre outras habilidades.
Tenho estudado bastante a política de Diamantina. Há um traço marcante em nossos comandantes, característica que vem desde os tempos coloniais: a vaidade exacerbada! Por vezes brinco que essa situação ocorre em conseqüência da praga do pajé Pirakassu, mas quem sabe essa maldição não seria verdade?  Uma maioria ampla dos nossos governantes municipais agiu exatamente assim. Apenas suas opiniões são corretas, mesmo frente a opiniões contrárias de profundos conhecedores das diversas demandas.
Então, essa situação de Diamantina ser atualmente Patrimônio Cultural da Humanidade gera um paradoxo hilário. Nossos comandantes adoram estufar o peito e falar desse título, mas várias de suas ações são totalmente contraditórias ao compromisso que Diamantina assumiu com a UNESCO: “As singularidades têm de ser preservadas para conhecimento das gerações futuras”. Mas aí, na prática, eles agridem a lógica, a obviedade.
Dessa vez, o que me fez sair de meu silêncio foi uma pequena peça de escultura, um simples busto. Sábado próximo passado, no Largo Dom João, banda de música, um alarido danado, trânsito embaraçado, discurso, egos inflamados! Um negócio bem ao gosto da classe política! Tudo isso para inaugurar um cantinho ao lado do prédio onde funcionou o CESU, que foi cimentado. No meio do alvoroço, quando observei melhor, vi o busto de Francisco Sá lá no centro do Largo Dom João, no lugar do antigo pirulito.
Incontinenti, uma recordação saltou da gaveta do esquecimento e ocupou a gaveta da lembrança de minha memória. Aquela era a peça que o ex-prefeito Gustavo Botelho Júnior, cerca de dez anos passados, havia retirado da praça do Bonfim e enfiado num porão qualquer! Essa foi apenas uma de suas várias agressões ao nosso patrimônio.
Entre exemplos diversos, seu governo decidiu que a Serra de São Francisco chama-se é Serra dos Cristais. Ora, a formação das cidades mineiras é extremamente semelhante. Os exploradores que adentraram o território mineiro escolhiam os nomes de seus santos de devoção para batizar os territórios conquistados. Assim, ao estacarem diante do lamaçal onde três riachos se encontravam, os aventureiros que fundaram o Arraial do Tijuco deram ao morro a sua esquerda o nome de Santo Antônio – sobre o qual a cidade foi edificada – e ao paredão a sua direita o nome de São Francisco. Por isso, no período em que Diamantina esteve dividida em duas freguesias católicas, uma chamava-se Santo Antônio e a outra, São Francisco. Mas o ex-prefeito, possuidor de maior realeza que a do rei, decidiu que o nome “daquele serro curvado que mura a cidadezinha” era outro.
Dos diversos Tênis Clubes construídos pelo governo do estado em Minas Gerais na década de 1940, apenas o de Diamantina teve como sede social uma obra do arquiteto Oscar Niemeyer. A história do nosso Tênis Clube é singularíssima. Possuía um time de vôlei feminino respeitadíssimo, que chegou a ser campeão mineiro. Daquela piscina de 25 metros saíram alguns campeões brasileiros de natação. Mas o ex-prefeito decidiu separar a obra de Niemeyer do corpo geral do clube, num ato arbitrário e inconseqüente, no apagar das luzes de seu segundo mandato.
Enumerar suas ações equivocadas aqui demandaria espaço, tempo e paciência. Voltemos então ao busto! João da Matta Machado, eleito deputado da província de Minas Gerais para o biênio 1878-1879, recebeu um relatório do monsenhor Augusto Júlio de Almeida, vigário geral da diocese de Diamantina. Baseado nas memórias do general José Vieira Couto de Magalhães sobre navegação fluvial para agilizar a inter-relação entre territórios brasileiros, o relatório propugnava pela construção de uma estrada de ferro que chegasse até Diamantina. Esse sonho passou por diversas etapas, por diversos governos municipais, por diversos atores e adentrou o século XX.
Falecido o governador de Minas Gerais, João Pinheiro da Silva, em 25 de outubro de 1908, Julio Bueno Brandão assumiu o governo do estado e nomeou Juscelino Barbosa seu secretário de Finanças. Barbosa era natural da cidade de Chapada do Norte, região nordeste de Minas, e havia estudado no Seminário de Diamantina. O presidente da República, Afonso Augusto Moreira Pena, faleceu em 14 de junho de 1909. O vice-presidente, Nilo Procópio Peçanha, assumiu o governo federal e nomeou Francisco Sá seu ministro da Viação, Transportes e Obras Públicas. Sá era natural de Grão Mogol, cidade da região norte de Minas. Também havia estudado no Seminário de Diamantina. A ação conjunta de Barbosa e Sá, movidos pelos laços afetivos que desenvolveram com Diamantina, culminou com a assinatura do decreto federal nº 7.455, em 08 de julho de 1909, pelo ministro e pelo presidente da República, autorizando a construção de um ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil até nossa cidade.
O descaso do ex-prefeito Gustavo Botelho para com o busto de personalidade de tamanha importância, não somente para Diamantina, mas para toda a região norte e nordeste mineira, foi uma agressão ao nosso patrimônio. Aliás, Gustavo Botelho é também o grande responsável pelo soterramento do virador de máquinas da Estrada de Ferro. Retirar ou não o busto de Francisco Sá da praça do Bonfim, que estava sendo reformada na época, é outra discussão. Talvez fosse até melhor que ficasse edificado no mirante da virada da avenida homônima, até porque a praça do Bonfim chama-se, na verdade, Monsenhor Neves. Mas o fato é que esse busto jamais poderia ser enviado parra a gaveta do esquecimento, como ocorreu com o virador.
Contudo, tentar reparar um erro com outro erro ainda mais grosseiro, num ato arbitrário e inconseqüente de final de mandato do prefeito Paulo Célio de Almeida Hugo, ajustado muito mais com a vaidade exacerbada do que com o sentido de preservação patrimonial, é querer remendar o soneto. A poesia, que já era de péssima qualidade, acabou se tornando sofrível.
Nos últimos dias, as discussões giraram em torno de se retirar ou não se retirar o pirulito; de se colocar ou não se colocar aquele aterro circular; se ele deveria ser menor ou do exato tamanho em que foi projetado; de se retirar ou não se retirar os estacionamentos nas áreas laterais. Houve até quem defendesse a idéia de se deixar tudo como estava e adicionar um monte de vacas ao trânsito, para ficar bastante parecido com a Índia. Tudo bobagem, pois algo precisava ser feito, e não se pode negar que o trânsito melhorou. Parabéns ao prefeito Paulo Célio! Mas aí ..., o busto de Sá foi colocado no largo de João!
Em 05 de maio de 1844, o padre Antônio Ferreira Viçoso, superior geral dos lazaristas no Brasil, foi consagrado bispo da diocese de Mariana. Coube a Dom Viçoso iniciar a reforma da Igreja Católica em Minas Gerais. Era necessário se colocarem em prática os cânones estatuídos pelo Concílio de Trento. A Igreja Católica empreendia esforços no sentido de conquistar sua auto-afirmação como instituição autônoma, soberana e independente em todo o mundo, centralizada na autoridade do Papa como seu chefe supremo. Como as normas a serem adotadas eram definidas em Roma, esse movimento ficou conhecido como o processo de “romanização” da Igreja Católica, que se esforçava em unificar suas ações no mundo, tomando os ditames de Roma como princípios de identidade.
A Coroa portuguesa, respaldada pelo regime do Padroado estabelecido com a Igreja Católica desde 1456, impediu que as ordens religiosas regulares se estabelecessem em Minas Gerais. No território mineiro predominaram as associações religiosas de formação leiga. Portanto, a essência da reforma iniciada por Dom Viçoso consistia em se imprimir os traços fundamentais do perfil tridentino nos sacerdotes. Por conseguinte, a reforma teria que passar, necessariamente, pelo seminário, num ambiente austero de disciplina, que aprimorasse o caráter e o aprendizado do clero, oferecendo-lhe sólida formação moral, intelectual e eclesiástica.
Estrategicamente, Dom Viçoso enviou quatro de seus melhores sacerdotes para estudar na Europa e os preparou para a missão de ajudar a avançar no Brasil a reforma que se buscava. Depois de prontos, o padre Luis Antônio dos Santos assumiu a diocese do Ceará; o padre Pedro Maria de Lacerda assumiu a diocese do Rio de Janeiro; o padre Silvério Gomes Pimenta assumiu, posteriormente, o lugar de Dom Viçoso; o padre João Antônio dos Santos assumiu a diocese de Diamantina.
Foi a primeira diocese que se desmembrou de Mariana, com o objetivo expresso de ordenar a reforma católica em todo o norte e nordeste de Minas Gerais. Por essa razão, posteriormente, nasceram as dioceses de Araçuaí e de Montes Claros, como também a prelazia de Paracatu, sufragâneas da diocese de Diamantina. Dom João recebeu, portanto, missão árdua. Ao ser consagrado bispo, sua mais urgente e precípua missão foi edificar o seminário, isso sob obrigação grave.
Ao Dom João Antônio dos Santos coube toda a edificação material da Igreja Católica em Diamantina. Além disso, deixou o caminho preparado para a edificação intelectual da diocese, realizada pelo seu sucessor, Dom Joaquim Silvério de Souza. Dom João escolheu o antigo largo do Curral, na época considerado subúrbio de Diamantina, para dar início à reforma, pois foi onde construiu o seminário, o eixo principal de tudo. Assim, puxou a cidade para a parte alta do morro de Santo Antônio, cujo espaço recebeu, logo depois, o nome do prelado.
Agora, nos aparece o prefeito Paulo Célio, tomado de uma realeza maior que a do rei, num ato arbitrário, colocando o busto de Francisco Sá no largo do morro de Santo Antônio. Esse local, de fato, de direito, de obviedade, pertence ao Dom João Antônio dos Santos, porque representa todo um esforço mundial de uma instituição milenar em melhorar a condição dos multiplicadores de seus cânones.
O poder é passageiro e efêmero! Quatro anos esgotam-se rápidos, são apenas como o dia de ontem que passou! E agora José? Resta ao prefeito Paulo Célio deixar a prefeitura melancolicamente, com cerca de 80% de desaprovação da população diamantinense. E o mais fantástico sobre esse último ato do prefeito é que a porta de saída desemboca somente em um desfiladeiro estreito: as teias implacáveis do crivo da história.