sexta-feira, 3 de setembro de 2010

(Opa)cidade

Autoria: Juliana Leal, no interessante Felicidade Clandestina.

Convivia cotidianamente com a complexidade e até ousava, vez ou outra, apontar respostas. Provisórias e necessárias, para garantir o que lhe garantiria a sobrevivência.

Física.

Quântica.

Líquido vital extraído a despeito do seu querer (nem sempre queria...) e que a levaria, quando tudo aquilo terminasse, enfim... a um lugar onde o cálcio seria o mesmo, mas o negrume daquilo que os tinha envolvido, em vida, não havia sido elo de absolutamente nada. Não passava de uma semelhança incômoda.

E antes mesmo que emitisse seu primeiro suspiro de terror. O primeiro de tantos outros que ecoariam ininterruptamente e simultaneamente na epiderme salítrica desse lugar (da irregularidade das pedras e do medonho excesso de janelas)... Pra quê tanta janela, meu Deus? Se o que mais queria era ser menos... menos... cada vez menos...

Dessa náusea de me sentir nua neste inverno cortante sob o qual a herança do verbo (oral, natural, maldoso — muitas vezes — ingênuo, curioso...), alforriado dos grilhões da discrição médio-burguesa, tece, afiado, afinado, camadas e camadas de tecidos inúteis sobre a pele. Difíceis de renovar.

Suspiros que ecoariam também — percebia, percorrendo o circuito sinuoso do caminho — no olhar curioso da moça lavando roupa no Rio Grande de concreto. Sem saber, por razões que muitos de nós já sabemos, que entendemos, que contatamos, que ...

... que, subindo um pouco mais pra olhar e se olhar (lá do alto... e no alto...), não veria nada além de uma película opaca que irritava a simetria mofada daquela paisagem barroca. Barrosa. Borrosa...

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