De certa forma, pode-se considerar que Diamantina tem sua contribuição na criação da Bossa Nova. A revista Bravo conta um pouco dessa história:
Entre 1952 e 1955, João Gilberto estreou como compositor, com Você Esteve com Meu Bem? (uma co-parceria com Russo do Pandeiro, gravada por Marisa), e como intérprete, com o compacto Quando Ela Sai. Quem ouve este último nem reconhece João, cantando num estilo bem diferente do atual. Foi uma fase, como as de Picasso, definiria depois. E a fase terminou logo que João percebeu que não estava evoluindo. Não tinha renda fixa, morava de favor e passava as noites de bar em bar, tocando violão emprestado. Percebeu que, se quisesse mesmo uma mudança, era ele quem teria de mudar geograficamente. Caetano Veloso, afinal, estava certo: a Bossa Nova nasceu com João em Juazeiro... quando ele voltou para sua cidade natal aos 24 anos.
Antes de voltar a Juazeiro, porém, João Gilberto teve dois outros endereços. Passou sete meses em um hotel em Porto Alegre, RS, sustentado pelo amigo e cantor Luís Telles. Depois, foram mais oito meses em Diamantina, MG, na casa da irmã, Dadainha. Foi uma espécie de ano sabático que não durou um ano e não teve nada de sabático: João trabalhou como um artesão de sua música, obcecado em descobrir aquela batida do violão e aquele jeito de cantar que embalavam seus sonhos. Estava desenraizado do mundo, mas criava as raízes da personalidade profissional que o consagraria sua compulsão metódica, seu experimentalismo repetitivo, sua busca perfeccionista.
Diz-se que os moradores de Diamantina mal viam a cara de João. Ele não saía de casa. Raramente tirava o pijama, um hábito que manteve por vários anos, quando se tornou quase um eremita em seu apart-hotel no Leblon, no Rio, na década de 80. Passava o dia todo no banheiro de Dadainha, cujos ladrilhos proporcionavam uma acústica perfeita. Quando saía de lá era para serenar a sobrinha, Marta Maria, recém-nascida.
Fonte: Revista Bravo (Abril Editora)
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