Quando em Portugal o rei recebeu notícia do descobrimento de diamantes no Brasil, não coube em si de contente. Logo que a novidade se espalhou por Lisboa, foi tamanha a alegria dos portugueses que mandaram repicar os sinos, organizaram procissões, celebraram Te Deum e renderam graças ao Todo Poderoso.
D. João V mandou de presente algumas amostras de diamantes ao Papa, e recebeu muitas congratulações dos outros monarcas da Europa.
Ora, antes de se descobrirem as minas de diamantes, já Portugal nadava em riqueza por causa do ouro do Brasil. A capital do reino tornara-se uma das mais ricas e mais belas da Europa. O rei mandou edificar o palácio de Mafra e o aqueduto de Lisboa com o ouro que foi de Minas, e fez ainda muitos outros gastos. Imagine-se agora com o descobrimento do diamante, sabendo-se que o diamante valia mais que o ouro!
Doloroso contraste! Enquanto os portugueses deliravam de contentamento, os brasileiros ralavam-se de tristeza, imaginando que, assim como tinham sofrido da Metrópole tantos vexames por causa das minas de ouro, — maiores vexames iriam agora sofrer por causa das minas de diamante. Se assim os brasileiros pensavam, pior veio a acontecer.
A princípio a mineração do diamante era livre: cada um podia minerar, desde que tivesse carta de data. “Carta de data” era um papel que dava direito à pessoa de minerar. Mas durou pouco.
Não levou muito tempo, o rei proibiu que se tirassem diamantes: quem minerasse escondido e fosse descoberto, seria degredado para a África por 10 anos, e perderia todos os seus bens. Essa proibição durou 7 anos.
Depois foi criado o imposto da capitação, isto é, por escravo que trabalhasse na mina o senhor teria de pagar um tanto de imposto.
Depois o rei nomeou um funcionário encarregado de fiscalizar a mineração — chamava-se Intendente dos Diamantes.
Foi criada uma lei ordenando que o diamante de mais de 24 quilates pertenceria ao rei: o escravo que o achasse e o entregasse ficaria forro. Se fosse encontrado por homem livre, este receberia 400$000 de gratificação.
Finalmente, o rei resolveu conceder a mineração dos diamantes só a uma pessoa. Essa pessoa ficaria sendo o único que poderia minerar. Em compensação teria de pagar ao rei, todos os anos, uma grande soma — muitos milhões de cruzados. Durou 32 anos este sistema.
O 1º arrematante foi o sargento-mor João Fernandes de Oliveira. O 2º foi este mesmo, associado a Francisco Ferreira da Silva. O 3º foi Felisberto Caldeira Brant, de quem falaremos na história seguinte. O 4º foi o desembargador João Fernandes de Oliveira, filho do primeiro contratante de igual nome.
Todos os contratadores de diamantes, exceto Felisberto Caldeira Brant, impediam que mais alguém minerasse: de sorte que, enquanto enriqueciam, o resto do povo vivia na miséria. O desembargador João Fernandes de Oliveira enriqueceu tanto que veio a ser o homem mais rico de Portugal e do Brasil!
A pessoa que minerasse escondido chamava-se garimpeiro. O garimpeiro que era pilhado tinha de entregar todos os seus bens. E se não tinha bens? Nesse caso era preso e metido no tronco. Às vezes acontecia o garimpeiro fugir na hora em que era descoberto. Que sucedia então? Os rondantes das minas o perseguiam até prendê-lo. Se o garimpeiro resistia à prisão, ali mesmo o matavam sem mais nem menos, como se mata um animal acuado. Os mais felizes eram enterrados na estrada. Quando não, lançavam seus corpos no ribeirão mais próximo, ou os deixavam insepultos para serem devorados pelos urubus.
Não levou muito tempo e o rei anulou o contrato com João Fernandes, obrigando-o a entrar para os cofres com onze milhões de cruzados. João Fernandes entrou com essa quantia. Seus haveres ficaram um pouco abalados, mas ele não deixou, por isso, de continuar a ser o homem mais rico da Colônia.
Depois desse fato, o rei mandou que a extração de diamantes se fizesse por conta dele. Chamava-se Real Extração. Para isso criou-se um regulamento especial, denominado Regimento Diamantino. Esse regimento continha as proibições mais absurdas, e impunha penas severas aos contrabandistas de diamantes. O povo chamava-lhe Livro da Capa Verde, porque o único exemplar dele que veio ao Tijuco (Diamantina) fora encadernado com capa de marroquim verde. Qualquer pessoa podia ler o Livro da Capa Verde, pedindo licença, mas era proibido tirar uma cópia.
Não obstante, muitas cópias foram tiradas, e algumas ainda existem em Diamantina. Durou 56 anos a Real Extração. Os diamantes extraídos durante esse tempo montaram a 1 milhão e 320 mil quilates.
O povo do Tijuco tinha horror ao Livro da Capa Verde. Eram tais os vexames e violências mandados executar por esse livro que só pronunciar o nome — Livro da Capa Verde — enchia de medo a quem ouvisse.
Cansado de sofrer a opressão do Regimento Diamantino, — um dia o povo do Tijuco revoltou-se. Foi no ano de 1821, um ano antes da Independência do Brasil. Por toda parte, nas ruas, nas sacadas das casas, o povo gritava:
— Fora o Livro da Capa Verde!
— Abaixo o Intendente!
Não levou um ano e proclamou-se a Independência do Brasil. A nossa pátria respirou livre e desafogada. Agora as minas de diamante seriam de seus legítimos donos, e cada um poderia minerar em suas grupiaras.
Quando chegou ao Tijuco a notícia da proclamação da Independência por D. Pedro, quando lá repercutiu o brado do Ipiranga — foi um delírio. O povo celebrou grandes festas. As ruas encheram-se de gente que, acima e abaixo, gritava:
— Viva a Liberdade!
— Viva a Independência!
— Viva o Brasil!
— Viva o Império!
— Viva D. Pedro!
Não tardou muito que um homem do povo fizesse um discurso, lançando a idéia de queimar-se na praça pública o “Livro da Capa Verde”, o livro renegado que durante cinqüenta anos vexara o povo daquela região. Todo o povo apoiou. Dirigiram-se em massa para ir buscar o livro amaldiçoado. Fez-se uma fogueira na praça pública. O livro foi lançado às chamas no meio do regozijo de todos.
Enquanto isso se dava, uns gritavam, outros aplaudiam, outros batiam palmas. Ao mesmo tempo os sinos repicavam, as bandas de música tocavam, os foguetes espoucavam no ar! Foi uma hora de festa!
Em poucos segundos o Livro da Capa Verde ficou reduzido a cinzas.
Só depois que a fogueira acabou de arder é que o povo se dispersou. Mas o entusiasmo não parou.
Os gritos continuaram:
— Viva a Liberdade!
— Viva a Independência!
— Viva o Brasil!
— Viva D. Pedro!
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