O apito dos trens, o burburinho do entra e sai dos vagões, acenos de despedida e abraços de reencontro ficaram num passado distante de muitas cidades do interior de Minas depois da desativação dos trens de passageiros. Com o fim desses personagens célebres das Gerais, muitas estações foram condenadas ao abandono e à degradação. Mas a história do palco de chegadas e partidas das locomotivas que desafiaram as sinuosas montanhas para ligar lugarejos, cidades e pessoas de um ponto ao outro acaba de ganhar um novo capítulo.
A Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, o Ministério Público Federal, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) firmaram termo de compromisso com cinco municípios mineiros para a proteção e a preservação dos bens ferroviários. As prefeituras terão prazo de quase dois anos para recuperar e dar uma destinação sociocultural às estações de Miguel Burnier (em Ouro Preto) e Lobo Leite (em Congonhas), ambas na Região Central, Campanha (Sul de Minas), Lassance (Norte) e Chiador (Zona da Mata).
As administrações assumiram a obrigação de fazer obras emergenciais e de restaurar os prédios. Até o início de abril, as prefeituras devem providenciar o tombamento dos imóveis em âmbito municipal e elaborar os projetos de restauração dos prédios, que serão apresentados ao Iphan. O instituto terá prazo de 90 dias, a partir da data de recebimento, para analisar os documentos. As restaurações deverão ocorrer em, no máximo, 12 meses, a contar da data de aprovação do projeto, com recursos dos municípios. A supervisão e a fiscalização das obras ficarão a cargo do Iphan, que deverá ainda expedir as orientações e recomendações de natureza técnica para as intervenções. Quem descumprir o acordo está sujeito a multa diária de um salário mínimo (R$ 465).
Minas Gerais tem 1,5 mil bens da extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA). A maioria, segundo o coordenador das Promotorias de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda, está completamente abandonada. “As estações fizeram parte do cotidiano de muitas pessoas e foram largadas de forma abrupta. Ficou uma lacuna em vários locais. Muitos perderam a razão de ser com a retirada do transporte de passageiros, como as regiões de Barra Mansa (RJ), Lavras (Sul de Minas) e Miguel Burnier. Algumas povoações se transformaram em verdadeiras cidades fantasmas”, afirma.
Até agora, a responsabilidade sobre as estações foi transferida para 10 municípios. Há seis meses, foi assinado termo de compromisso também para a preservação de Mariano Procópio (distrito de Juiz de Fora, na Zona da Mata), Andrelândia (Sul de Minas), Conselheiro Mata (distrito de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha), Velho da Taipa (em Conceição do Pará, no Centro-Oeste do estado) e Uberaba (Triângulo). “O interessante é que não foi uma imposição. Todas as cidades que fazem parte do acordo quiseram e nos procuraram”, relata o promotor.
As cidades comemoram o repasse da gestão das estações às prefeituras. Em Congonhas, o processo de restauração da Lobo Leite promete ser simples, com a substituição de telhas e esquadrias, conserto de portas e janelas, uma vez que o imóvel não apresenta problemas estruturais, como trincas e rachaduras. O diretor de Patrimônio Histórico da cidade, Maurício Geraldo Vieira, ressalta a importância da iniciativa: “Reivindicávamos a estação havia muito tempo. É um espaço centralizado e chave para a prefeitura, que paga aluguel de posto de saúde e dos Correios. Queremos criar também um espaço no qual as pessoas podem ter cursos de dança e teatro, fazer uma horta e várias outras atividades que as façam se sentir parte desse patrimônio”, diz.
Depois de registrada no livro do tombo, a estação de Miguel Burnier vai integrar um importante conjunto ferroviário. O secretário de Patrimônio e Desenvolvimento Urbano de Ouro Preto, Gabriel Gobbi, chama a atenção para o transporte. “No Brasil se discute muito a questão ferroviária e, por isso, é preciso pensar no meio ferroviário como algo maior no futuro. Além disso, é um bem cultural protegido e um local que pode ter alguma funcionalidade. Essas estações podem integrar um projeto com pontos de visitação cultural, no contexto da história do Brasil”, sugere.
Bastava um passeio de Diamantina a Conselheiro Mata pra ser um sucesso turístico total. Não dá pra ir a Ouro Preto e não fazer o passeio de lá até Mariana na Maria fumaça. É como ir a Pirapora e não passear no único barco a vapor em atividade no mundo, o Benjamim Guimarães.
ResponderExcluirUma pena. Primeiro o homem destrói, pra depois ter que reconstruir.
Rodrigo,
ResponderExcluirRealmente seria muito bom se o trem voltasse a circular por aqui. Algumas cidades já estão desenvolvendo ações nesse sentido, mas infelizmente a força da indústria automobilística é muito grande.