Na semana que vem, José Mendonça completa 92 anos. Como ele mesmo gosta de dizer, trabalhou a vida toda, de manhã, de tarde e de noite, e isso só lhe fez bem. Hoje, com a memória em forma, pode se orgulhar de uma história de vida construída na imprensa e na universidade. Parte dessas lições está no livro José Mendonça – A vida revelada, que será lançado nesta quinta-feira, na Biblioteca Pública, dentro do projeto Sempre um papo. Escrito pelos jornalistas Flávio Friche, Manoel Marcos Guimarães e pela pesquisadora Maria Auxiliadora de Faria, o livro é ao mesmo tempo história pessoal e retrato de época. Testemunha profissional de um período marcante da vida brasileira, José Mendonça fez do jornalismo uma barricada em defesa de valores éticos e democráticos, como demostram as dezenas de depoimentos que ajudam a compor o painel apresentado pelo livro.
O volume é dividido em três partes. Na primeira, de corte mais biográfico, é contada a história de vida de José Mendonça, de sua infância vivida em Diamantina, dos estudos no seminário, do gosto pelas línguas – entre elas o latim, da qual se tornaria tradutor – e da história. Em Belo Horizonte, ainda moço, começa a dar aulas para sobreviver, entrando em seguida no ofício ao qual entregaria sua vida: o jornalismo. As convicções católicas, profundamente plantadas no seminário de Diamantina, estarão presentes na militância no jornal O Diário, mais conhecido como Diário Católico.
A segunda parte trata exatamente do jornalismo. Os autores contextualizam a criação do jornal católico da Arquidiocese de Belo Horizonte dentro do horizonte político da época. Na avaliação de dom Cabral, faltava à Igreja um órgão que levasse à população a visão de mundo e de política da instituição. Desde a década de 1930, o diário cumpriu esse papel. José Mendonça trabalhou ao lado de nomes como Edgar da Matta Machado, Guilhermino César e Milton Amado, entre outros. O ofício de jornalista o levaria a assumir ainda a sucursal de O Globo em Minas, além de trabalhar como correspondente do grupo Folha, de São Paulo. São inúmeros os episódios onde a postura equilibrada de José Mendonça permitiu enfrentar as ameaças à liberdade de imprensa, nos períodos ditatoriais do Estado Novo e dos primeiros anos do regime militar instalado em 1964.
Ainda no âmbito do jornalismo, José Mendonça esteve presente na fundação do sindicato da categoria, do qual foi o segundo presidente. Na terceira seção do livro entra em cena o professor Mendonça, como ficou conhecido por várias gerações de jornalistas. Fundador do curso de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais, ao lado de Anis José Leão e Adival Coelho de Araújo, trabalhou na universidade de 1962 até a aposentadoria compulsória, em 1992. Durante 30 anos trouxe para a UFMG as qualidades que o tornaram distinto no meio profissional: o saber profundo da língua, a visão ética do jornalismo, o conhecimento das humanidades. E, sobretudo, a mansidão de modos que não abrandava a determinação em termos de valores.
José Mendonça – A vida revelada
Lançamento quinta-feira, às 19h30, na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, anexo Francisco Iglésias (Rua da Bahia, 1.889, 2º andar, sala de cursos. Informações: (31) 3261-1501 ouwww.sempreumpapo.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário