Levantamento realizado em nove cidades reúne histórias dos sineiros mais antigos e seus repertórios, utilizados para "conversas" com a comunidade
Um vasto material que reúne textos, entrevistas e vídeos sobre a linguagem dos sinos nas igrejas será avaliado pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, no próximo dia 3 de dezembro, na cidade de São João del-Rei. A proposta apresentada pelo escritório local do Iphan pede o registro como patrimônio imaterial para O Toque dos Sinos em Minas Gerais, tendo como referência São João del-Rei e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
O material começou a ser compilado em 2001, por iniciativa da comunidade de São João del-Rei. A solicitação chegou ao Iphan que, em 2002, deu início a uma grande pesquisa sobre o assunto. Além do material já existente, o contato direto com os sanjoanenses foi importante para estabelecer que essa forma de expressão não era exclusiva, apesar de o município guardar especificidades no que se refere à prática da comunicação com o toque dos sinos. Assim, outras oito cidades foram acrescidas à pesquisa com base nas referências a sineiros e toques de sinos, com histórias e lendas em torno deles: Ouro Preto, Mariana, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro, Tiradentes e Catas Altas, a única entre elas que não tem o sítio urbano tombado pelo Iphan.
A necessidade de salvaguardar
A partir da confirmação de todo um repertório de toques a ser apreendido, preservado e, em alguns casos, recuperado, o Iphan preparou o dossiê que será apresentado ao Conselho Consultivo. O documento avalia que os sinos vêm sendo substituídos por instrumentos eletrônicos, com aval da própria Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, devido às dificuldades para a manutenção da estrutura que viabilize o toque dos sinos em diferentes momentos da liturgia católica. Segundo a CNBB, o custo da manutenção é elevado e exige a disponibilidade de uma ou mais pessoas para tocar os sinos sempre que necessário.
Outro aspecto que chama a atenção para a necessidade de proteção desse bem cultural é o registro de grande número de sinos rachados, sem badalo ou sem local apropriado para serem instalados. Os equipamentos eletrônicos possuem uma praticidade mais adequada aos dias atuais já que podem ser instalados em qualquer lugar, acionados por qualquer pessoa, programados para tocar em qualquer intervalo de tempo e com uma diversidade de repertório que pode chegar a 300 músicas diferentes.
Entretanto, apesar de toda diversidade e modernidade, o Iphan - MG afirma que o toque dos sinos ainda está presente e sua relação com a população das cidades inventariadas reforça a possibilidade de reconhecimento desse bem como patrimônio. O toque dos sinos é elemento capaz de revelar a diversidade sociocultural característica e presente nessas comunidades. Seus habitantes se reconhecem e se distinguem dos de outras cidades a partir do repertório desses toques e do som diferenciado de cada um daqueles bronzes, por exemplo.
Ainda hoje, nas cidades inventariadas, os toques são religiosos e têm finalidade social e, até mesmo, de defesa civil. Com sinais bem característicos, os nomes dos toques dos sinos, principalmente os repiques, foram criados pelos sineiros ainda no tempo colonial e preservados na tradição oral. Muitos deles são onomatopéicos, exprimindo o som ou ritmo que produzem. Os toques mais conhecidos são Ângelus, A Senhora é Morta, Toque de Exéquias, Toque de Cinzas, Toque de Finados, Toque de Passos, Toque de Treva, Glória de Quinta-feira Santa, Toque da Ressurreição, Toques de Te Deuns, Toque das Rasouras e Procissões, Toques de Incêndio, Toques de Agonia, Toques Fúnebres, Toques Festivos, Toque de Parto, Toque chamada de sineiros, Toque chamada de sacristão, Toque de Posse de irmandade, Toque de Almas, Toque de Missas, Toque de Natal, Toque de Ano Novo, Toque das Chagas ou Morte do Senhor.
Oi, Fernando! Enquanto isso, os sinos de Dtina. continuam com aquele som de taguara rachada? Abraço
ResponderExcluirEpa: taQuara!
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