Sob a liderança do incansável e combativo Quincas, o Jornal Voz de Diamantina está divulgando a campanha "Sino Cidadão", que visa a restauração dos sinos das igrejas de Diamantina que estão trincados. Uma quantia inical foi levantada por meio de apadrinhamento dos sinos, porém o montante arrecadado não foi suficiente para a restauração de todos eles. Para dar continuidade à campanha serão vendidos, em sistema de pré-aquisição, exemplares do livro "Linguagem dos Sinos", basedo na pesquisa de Erildo Nascimento.
Mais informações podem ser obtidas pelo seguinte endereço eletrônico: vozdediamantina@gmail.com
Trasncrevemos abaixo um texto publicado aqui no Passadiço Virtual em maio de 2009 que mostra a riqueza da linguagem dos sinos:
A percussão dos sinos.
Texto: Djalma Corrêa
Pouco se fala sobre esta forma percussiva que se instala no Brasil desde o seu descobrimento. Ela se faz presente na primeira missa rezada no Brasil (Porto Seguro 1500). Desde então em cada fortificação, igreja ou capela construída torna-se obrigatório a instalação de um ou mais sinos usados como meio de comunicação.
As invasões, revoltas, fugas, cerimônias festivas e religiosas, mortes e outros acontecimentos ao longo de nossa historia foram marcados pela presença sonora dos sinos, com seus toques dobres e repiques.
A igreja estabeleceu de uma forma bastante vaga padrões a serem seguidos ao se tocar os sinos, alguns deles obedecidos até hoje. Um exemplo é o toque de aviso fúnebre, sempre realizado no dia do falecimento. O dobre dos sinos onde o badalo do sino menor responde em contratempo ao dobre do sino maior. Se o falecido for homem este sinal se repete 3 vezes e se mulher 2 vezes.
São inúmeros toques diferenciados dos sinos, cada um com seu significado específico. Diversas variações e criações foram aparecendo na linguagem comunicativa dos bronzes que através dos sineiros noticiavam os acontecimentos locais.
Um aspecto curioso e interessante é o de que por ser uma atividade física e às vezes árdua, coube ao escravo a função de tocar os sinos. Estes escravos guardavam em suas memórias células rítmicas que sempre foram tocadas pelo Gam (Agogô), instrumento sempre utilizado nos ritos religiosos Africanos(tipo de campânula metálica, primeira forma do sino). Por uma associação às vezes inconsciente estas células rítmicas de origem Africana foram sendo incorporadas ao toque dos sinos ou seja o toque do Agogô se ouvia no alto das torres.
Em Cuba, Haiti, Porto Rico, Brasil e países onde a mão negra desempenhou esta função estas características rítmicas mostram-se claras diferenciando-se dos toques dos países onde não foram os escravos e seus descendentes os encarregados de repicar os sinos.
Essa linguagem percussiva dos sinos, pode ser ouvida ainda hoje em várias cidades mineiras do ciclo do ouro como Ouro Preto, Mariana, Diamantina e São João Del Rei.
Nesta ultima cidade é de se destacar a riqueza e criatividade dos toques e repiques, e o surgimento de novos sineiros. Estes jovens criaram uma série de repiques com características rítmicas lúdicas chamadas:
Batucada- Repique alegre e festivo onde os badalos fazem uma verdadeira batucada.
Batucada Franciscana- Variação da batucada comum com maior complexidade rítmica.
Batuquinho- Semelhante ao repique da batucada sendo mais rápido e mais simplificado.
Renovando e ao mesmo tempo mantendo a tradição da linguagem sineira os ritmos brasileiros são tocados nas torres das igrejas até hoje.
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