domingo, 16 de outubro de 2011

Arquitetura modernista sobressai na paisagem colonial

Fonte: Jornal Hoje em Dia - Ernesto Braga -  15/10/2011 – Foto de Frederico Haikal

hotelDIAMANTINA - No meio dos casarios coloniais construídos em Diamantina no século XVIII, imóveis com fachadas modernas, erguidos na primeira metade da década de 1950, levam a assinatura do gênio Oscar Niemeyer, de 103 anos. Referência mundial da arquitetura modernista, ele deixou sua marca na cidade do Vale do Jequitinhonha antes de ser convidado pelo filho mais ilustre da terra, o presidente Juscelino Kubitschek, para projetar Brasília.

Apaixonado pelo estilo barroco de Diamantina, o arquiteto argentino Gonzalo Monterroso, de 61 anos, se mudou há seis para a cidade. Seu trabalho é resgatar o passado por meio da restauração de imóveis coloniais que contam a história do Arraial do Tijuco, elevado a município há 173 anos. Nesta semana, ele acompanhou o Hoje em Dia em uma volta modernista pela cidade colonial.

O passeio foi pelos quatro imóveis com a chancela de Niemeyer em Diamantina. O Hotel Tijuco, a Escola Estadual Professora Júlia Kubitschek e o Clube Social são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo o Iphan, a moradia de professores da Rua Macau do Meio não é reconhecida pelo escritório do arquiteto, no Rio de Janeiro. Mas a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), proprietária do imóvel, confirma que ele foi projetado por Niemeyer.

“Para impedir que lotes vagos no Centro Histórico fossem alvo da rapinagem imobiliária, Lúcio Costa, na época à frente do Iphan, trouxe Niemeyer para que os espaços fossem preenchidos pela arquitetura modernista brasileira, de valor tão expressivo quanto o barroco colonial”, afirma Gonzalo. No prédio do Hotel Tijuco, inaugurado em 1951, o especialista destacou o formato do trapézio invertido, com fachada inclinada de vidro e madeira. “Niemeyer usou lajes sem viga, tornando os salões mais espaçosos, e colunas em formato de ‘V’ na entrada. O prédio tem a mesma altura do casarão colonial ao lado, para não invadir o espaço do imóvel barroco”.

O prédio pertenceu ao Estado e foi a leilão em 1989. Ele tem 27 apartamentos no segundo andar, 16 de frente para a Rua Macau do Meio. “Os banheiros foram reformados há dois anos, mas os azulejos originais foram preservados. Os turistas procuram pelas coisas relacionadas a Niemeyer como se fossem peças de arqueologia”, afirma o gerente do hotel, Rony Odillainer Silva. A escada vazada de concreto foi substituída por uma de madeira com o mesmo tom da tábua corrida do piso. Móveis dos anos 50 dão um clima nostálgico ao ambiente.

O estilo é o mesmo da Escola Júlia Kubitschek, inaugurada em 1954. A inclinação da fachada é maior do que a do hotel. Por causa de trincas e outros problemas estruturais, colunas que não apareciam no projeto original precisaram ser construídas dentro do imóvel. “Eu acredito que essa seja a obra em que Niemeyer tenha chegado ao grau máximo de inclinação”, diz Gonzalo. Outros elementos da arquitetura de Niemeyer são paredes vazadas, para a entrada de ar e iluminação, ou de pedras, além das colunas ovais. Na rampa que leva ao segundo andar, foram colocados gradis que não apareciam no projeto original, para dar mais segurança aos alunos. Na entrada, os jardins floridos enfeitam o prédio, da mesma forma que no Hotel Tijuco.

“A marquise apenas sobre a porta de entrada da escola, tornando a fachada mais plástica, é mais uma característica de Niemeyer”, afirma Gonzalo. Dentro do prédio de dois andares, outra obra-prima de um gênio brasileiro enfeita a escola: um painel (sem título) de 240 centímetros de altura por 250 de largura, pintado em 1954 por Emiliano Di Cavalcanti. “Essa pintura foi presente do autor a JK e estava guardada. Ela foi restaurada e colocada na parede em dezembro de 2001”, afirma Maria José Fernandes de Oliveira, ajudante de serviços gerais da escola.

Ao contrário do Hotel Tijuco e da Escola Júlia Kubitschek, os outros dois imóveis projetados por Niemeyer se encontram em péssimo estado de conservação. Inaugurado em 1950, o Clube Social foi a primeira obra do arquiteto na cidade. Ele se transformou em praça pública. A cobertura do ginásio é sustentada por arcos revestidos de pastilhas. No prédio, onde funciona uma academia de ginástica, há infiltrações, pichações e muito lixo espalhado.

Ferragens expostas na estrutura que sustenta a cobertura do ginásio são o sinal do risco de desabamento. “Não dá para dizer o que é original aqui”, lamenta Gonzalo. Segundo o Iphan, a Prefeitura de Diamantina tem um projeto de revitalização do espaço, previsto para sair do papel no ano que vem.

Os problemas se repetem na moradia dos professores da UFVJM, imóvel que por muitos anos foi usado para festas universitárias. Única obra de Niemeyer, em Diamantina, com telhado colonial, o prédio tem janelas de vidro com veneziana de madeira.

Por causa da descaracterização do espaço, o prédio não é reconhecido pelo escritório de Niemeyer. “São quartos conjugados com um banheiro bem no meio. O salão aberto tinha mureta muito baixa. Uma pessoa acabou caindo e morreu. Por isso, uma estrutura metálica foi acrescentada para aumentar a segurança”, ressalta Gonzalo. A UFVJM informou que também tem projeto para revitalizar o imóvel, mas não há data definida para o início da reforma.

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