Rumo à Universidade Federal Guimarães Rosa (UFGR)
Com a expansão da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – atualmente instalada em Diamantina e Teófilo Otoni – para as cidades de Unaí e Janaúba, aprovada pelo Conselho Universitário no último dia 07 de outubro, uma série de questões se coloca para a comunidade universitária e para a extensa região de Minas envolvida com a expansão.
Uma das questões será a necessidade de reformulação da estrutura universitária, em seu conjunto. Haverá a necessidade de constituição não apenas dos espaços físicos e dos recursos humanos dos dois novos campi, mas também de reorganização do corpo administrativo da Universidade: Planejamento, Orçamento, Recursos Humanos, Tecnologia da Informação, Obras, Transporte, Compras e Licitações, Comunicação, Pesquisa, Extensão e Cultura, Assistência Estudantil etc. A demanda de trabalho, com os novos campi e seus respectivos cursos, corpo docente, discente e técnicoadministrativo, aumentará significativamente também no município sede. Daí a premência de projetarmos, desde já, o crescimento orgânico da Universidade, em interação com o Ministério da Educação e toda a comunidade universitária.
Outra questão diz respeito ao nome da nova Universidade que surge com a expansão. Dentre as possibilidades de escolha do nome da instituição, encontra-se uma que esteja balizada por uma personalidade condizente à história e à cultura da região, ou regiões, em que a Universidade se insere ou está prestes a se inserir. Neste caso, o melhor nome será o de João Guimarães Rosa (1908-1967), escritor nascido em Cordisburgo (na região central do Estado, nas proximidades de Curvelo, onde temos a Fazenda Experimental do Moura) e que povoou seus contos, novelas e romances com a cultura do sertão de Minas Gerais e, de maneira muito especial, com a de todo o Norte do Estado.
Segunda notícia publicada no portal da Universidade, “a proposta de incorporar esses campi à UFVJM foi apresentada pelo Governo Federal, no dia 16 de agosto, e ratificada pelo Ministério da Educação, considerando que a UFVJM representa a única Instituição Federal de Ensino Superior com sede na metade norte do Estado e no pressuposto de promover uma maior densidade à UFVJM”.
A escolha do atual nome da Universidade, dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, fundamenta-se em uma importante luta política e cultural do movimento dessas regiões desde a década de 1970. Na condição de legado deste movimento, entendemos que uma Universidade Federal Guimarães Rosa estará em consonância com a concepção de um espaço de busca do saber, da cultura, da arte e de transformação do pensamento, respondendo aos ecos da história cultural e local, dos valores regionais e populares em interação com o saber erudito, marca da ficção roseana.
O nome e a obra de Guimarães Rosa há muito ganharam o Estado de Minas, o Brasil e o mundo. A arte e a linguagem que o autor tão bem soube extrair a partir da cultura, da geografia, da sabedoria e do modo de vida das populações de Minas, especialmente do Centro-Norte do Estado, é sobejamente conhecida e apreciada em muitos países, reconhecimento manifesto nas muitas traduções que sua obra recebeu.
A interação entre os saberes tradicionais e acadêmicos e a diminuição das distâncias e fronteiras do conhecimento – desafios da Universidade hoje – encontram no nome de Guimarães Rosa um caráter exemplar. Uma Universidade multicampi, que se pretenda cosmopolita interna e externamente, que seja capaz de articular regiões tão distintas como as dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, do Norte e do Noroeste de Minas, encontra, em Guimarães Rosa, a riqueza de possibilidades e o desafio da convivência de linguagens e modos de vida, ao mesmo tempo simples e complexos, a intrincada mineiridade que se formou no correr do tempo e ao longo do espaço.
Corrente em prol da UNIVERSIDADE FEDERAL GUIMARÃES ROSA
Se formos adotar o nome de Juscelino Kubitschek na "nova" universidade - devido ao fato dele ser uma figura de vultuosa importância no contexto diamantino e mesmo macional - temos de colocar em pauta outras figuras de idêntica importãncia: Olympio Mourão Filho e Geraldo Sigaud! Adotar o nome de um presidente (com todos os problemas ideológicos que lhe acarretam) como insígnia de uma universidade é, no mínimo, um disparate. É reforçar velhas estruturas coloniais que sobrevivem graças à memória empoeirada que constrata com o verniz que se aplica sobre figuras como JK e Chica da Silva. É agir de forma anti-histórica e não conhecer as ambiguidades que caracterizaram as atividades políticas de JK entre 1956 e 1960. Sou da opinião que se for necessário mudar o nome da universidade, que seja o nome da cidade que constitui a sede/campus central (assim como a São Jõao Del Rei, Lavras, Viçosa, Uberlândia e outras tantas espalhadas pelo Brasil). Naturalmente, teríamos a Universidade Federal de Diamantina (UFDI ou UFD).
ResponderExcluirMas se for para fortalecer um nome que represente a força de um novo movimento que revigore as estruturas arcaicas e coloniais existentes na atual universidade (deja vu daquilo que ocorre nas relações sociais do jequitinhonha), Guimarães Rosa tem mais significância que JK. A não ser que UFJK queira aludir a John Kennedy University.
Mesmo reconhecendo a importância de personagens como JK e Guimarães Rosa, particularmente não gosto muito da ideia de dar nome de pessoas a cidades, ruas e instituições. Talvez a referência ao Norte de Minas seja a mais adequada ao que vai representar essa nova configuração da universidade. O debate está aberto..
ResponderExcluirExato, Fernando. Essa coisa de dar nomes de "vultos históricos" a ruas,instituições etc. lembra-nos as velhas práticas positivistas. Prática fundada num memorialismo que inventa tradições e legitima determinadas estruturas sociais, políticas e culturais. Como eu disse: a denominação de UF Guimarães Rosa teria justificativa na oposição à proposta de UFJK. Esta última denominação não só me parece uma piada como soaria ridículo. Ora, JK pode ter imensa importância aos memorialistas diamantinos, quiçá, mineiros. No restante do Brasil e do mundo JK não passa de uma entre outras tantas figuras políticas no cenário da segunda metade do século XX. O campus II já se chama JK, não basta? Essa insistência deixa de ser homenagem e passa à louvação. Tanto culto pode terminar em fanatismo, em mediocridade e falta de senso crítico à atual gestão da UFVJM. Na minha opinião, Universidade Federal de Diamantina resolvia esse falso dilema ufvjmiano.
ResponderExcluirConcordo com Rodrigo que o melhor nome seria Universidade Federal de Diamantina onde é a sede. A maioria das universidades de minas tem nome da cidade onde começaram com Juiz de Fora, Viçosa, Lavras, Ouro Preto dentre outras. UFD é um ótimo nome e fácil de usar.
ResponderExcluirPelo Amor de Deus minha gente, que bobagem é essa de colocar Guimarães Ros ano nome da Universidade?! Será que isso tem explicação? Claroi que isso não passa de uma falta do que fazer de gente que quer atrapalhar os processos... alias, adianta fazer petição pública na internet? CLARO QUE Não! já tivemos prova disso quando a expansão para Janauba e Unaí foi aprovada. Ou seja, isso tudo é perda de tempo.
ResponderExcluirComo um típico diamantinense, nosso colega Brant define a dinâmica do poder local: é perda de tempo esse negócio de mudar o nome da universidade, pois segundo ele "atrapalharia os processos" (?); tudo está decidido em favor daqueles que podem mais contra aqueles que não podem nada. Foi assim no tempo da Chica, foi assim no tempo de JK e assim será para sempre no Arraial do Tijuco. Sorte daqueles que chegaram antes aqui, empossaram-se das lavras e até hoje tratam os demais como serviçais ou escravos. Se esse comportamento não é prepotência, só pode ser ignorância e mediocridade.
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