quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Diamantina agora é universidade

Publicado no Jornal Público, Portugal – clique aqui para ler o texto completo.

Neste beco tem garrafeira gourmet e o último livro de Tony Judt. É São Paulo, Rio, Brasília? Não, é Diamantina, nas montanhas de Minas Gerais.

Diamantina sustentou Portugal com ouro e diamantes. Depois ficou um presépio de casinha, janela de guilhotina e igreja barroca sem a riqueza de Ouro Preto. O dono de uma loja de ferragens com 200 anos pode aparecer-nos a falar do avô de Penafiel.

Essa é a história-para-trás-das-costas.

A história-para-a-frente é esta: Diamantina agora é universidade, 30 cursos. E olhem o trio que acaba de entrar na garrafeira gourmet. Três jovens professoras de Direito, às compras, na hora de almoço. Têm salário para vinho chileno e azeite do Alentejo. E têm discurso, cada uma o seu.

A mais desapontada com Lula é a mulata Lisieux - nome assim mesmo francês -, que parece uma sindicalista de mão na anca, mas dirige a faculdade: "Vivemos muito tempo com o centro-direita, e o Lula no poder trouxe a ideia de que os pobres podem fazer a mudança. Essa ruptura de que o povo fala pelo povo foi importante. Mas no poder Lula tornou-se centro-direita, por causa dos grupos de pressão. Eu gostaria que ele fosse o que ele era."

Thais, uma especialista em Bioética que podia ser dupla de Penélope Cruz, tempera a indignação: "Eu também queria que ele fosse mais ele. Mas a grande vantagem do Lula é mostrar que os brasileiros podem sair de qualquer lugar e chegar à presidência."

"Mas isso é uma mentira!", protesta Lisieux. "Ele vende um sonho americano. Foi para o meio do sistema e conseguiu, mas não é para todo o mundo." Thais esclarece: "Não queria dizer só chegar à presidência, mas a qualquer lugar melhor. É a ideia de que eu posso ficar melhor se sair da inércia." E as duas envolvem-se num debate sobre a corrupção e os votos comprados.

A última do trio, Christiane, dá uma nota optimista: "A Justiça Eleitoral tem feito uma boa campanha para explicar às pessoas que não devem vender o seu voto, que o candidato não pode portar-se assim." Thais concorda: "É. Há outra consciência de que você não pode vender o seu voto. Está-se trazendo para o universo de cada um o que significa eleger alguém."

Ao mesmo tempo, o Brasil é aquele país que produz candidatos como Tiririca, um comediante de televisão, lembra Lisieux. "A campanha dele é assim: "Você sabe o que faz um deputado federal? Eu também não. Vote em mim que eu te conto." E este homem pode ter 900 mil votos em São Paulo! Ou seja, as pessoas desconhecem qual é o papel dos políticos." Dizem: "Já que é uma palhaçada, vou votar no Tiririca"", explica Thais. "É um voto de protesto. Mas ele está gastando três milhões e meio de reais na campanha."

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