Um dos primeiros posts do Passadiço Virtual (01/02/2009) abordava a passagem de João Gilberto por Diamantina e a possível influência da cidade nos caminhos definidores da Bossa Nova. Esse tema está sendo alvo de grande discussão no blog do jornalista Luiz Nassif. Talvez alguém da cidade possa ajudar nessa discussão acrescentando algum comentário. Clique aqui para acessar o blog do jornalista.
"Entre 1952 e 1955, João Gilberto estreou como compositor, com Você Esteve com Meu Bem? (uma co-parceria com Russo do Pandeiro, gravada por Marisa), e como intérprete, com o compacto Quando Ela Sai. Quem ouve este último nem reconhece João, cantando num estilo bem diferente do atual. Foi uma fase, como as de Picasso, definiria depois. E a fase terminou logo que João percebeu que não estava evoluindo. Não tinha renda fixa, morava de favor e passava as noites de bar em bar, tocando violão emprestado. Percebeu que, se quisesse mesmo uma mudança, era ele quem teria de mudar geograficamente. Caetano Veloso, afinal, estava certo: a Bossa Nova nasceu com João em Juazeiro... quando ele voltou para sua cidade natal aos 24 anos.
Antes de voltar a Juazeiro, porém, João Gilberto teve dois outros endereços. Passou sete meses em um hotel em Porto Alegre, RS, sustentado pelo amigo e cantor Luís Telles. Depois, foram mais oito meses em Diamantina, MG, na casa da irmã, Dadainha. Foi uma espécie de ano sabático que não durou um ano e não teve nada de sabático: João trabalhou como um artesão de sua música, obcecado em descobrir aquela batida do violão e aquele jeito de cantar que embalavam seus sonhos. Estava desenraizado do mundo, mas criava as raízes da personalidade profissional que o consagraria sua compulsão metódica, seu experimentalismo repetitivo, sua busca perfeccionista.
Diz-se que os moradores de Diamantina mal viam a cara de João. Ele não saía de casa. Raramente tirava o pijama, um hábito que manteve por vários anos, quando se tornou quase um eremita em seu apart-hotel no Leblon, no Rio, na década de 80. Passava o dia todo no banheiro de Dadainha, cujos ladrilhos proporcionavam uma acústica perfeita. Quando saía de lá era para serenar a sobrinha, Marta Maria, recém-nascida."
Fonte: Revista Bravo (Abril Editora)
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