Fonte: Correio Braziliense - Thaís Cieglinski
Passados quase 50 anos do fim do governo do presidente Juscelino Kubitschek, o imaginário brasileiro ainda guarda com grande admiração o tempo em que o país desenvolveu-se de forma acelerada. A celebração de ideias inovadoras se espalhou pelas mais variadas esferas da vida brasileira, incluindo a produção cultural, em especial a música. Da celebração do novo - que fez o samba descer o morro e misturar-se a elementos do jazz norte-americano - nasceu a bossa nova, que acabou configurando-se como trilha sonora dos anos dourados de JK.
Lembrar da intimidade entre aquele que ousou fundar uma nova capital no Centro-Oeste e os movimentos artísticos que à época floresciam no país é o objetivo do Viva Brasília - Um Tributo a JK, iniciativa conjunta entre o Correio Braziliense, o BRB Cartões e o BRB Seguros. Marcado para o fim desta semana na Praça Central do Museu Nacional, no Conjunto Cultural da República, o evento dá início às comemorações dos 50 anos de Brasília. Para tanto, além de uma grande exposição multimídia, a festa contará com apresentações de grandes músicos brasileiros, como não poderia ser diferente em uma festa que pretende celebrar o homem que amava serestas e vivia cercado de grandes nomes da arte nacional.
Enquanto comandava as obras de construção da capital, Juscelino encantava intelectuais com suas ideias, que pretendiam colocar o país em um novo patamar de desenvolvimento, inclusive cultural. "A intensificação da industrialização transformou a música e o músico em produtos altamente comercializáveis. A bossa nova foi um marco na internacionalização da música brasileira", observa a historiadora Adriana Evaristo Borges, autora da dissertação de graduação (pela Universidade Federal de Goiás) Presidente bossa nova: um estudo da interface entre música e política (1956-1960).
Dois dos principais expoentes da nova e moderna música brasileira, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, renderam-se aos arrojados projetos do presidente. Convidados por ele, compuseram, em 1958, Sinfonia da Alvorada. Escrita em cinco atos, a obra narra a saga da construção da cidade. Ainda traz no encarte um texto em que Vinicius descreve sua satisfação em participar de uma empreitada tão grandiosa e fala da amizade com Juscelino e Oscar Niemeyer.
Beco do Mota
Um dos convidados para o Viva Brasília - Um Tributo a JK, o cantor Milton Nascimento, viveu um inusitado encontro com o fundador da capital. Em 1971, na época do Clube da Esquina, o cantor conheceu Juscelino, em Diamantina (MG), terra natal do presidente. O encontro se deu enquanto a revista O Cruzeiro produzia reportagem com os músicos do movimento e a Manchete fotografava JK pelas ruas da cidade. As duas equipes acabaram se esbarrando e a ideia de uma foto registrando o momento foi imediata. Ao redor de Juscelino, Milton, Fernando Brant e os irmãos Lô e Márcio Borges posaram para os fotógrafos ao som de Beco do Mota, canção composta pelo grupo sobre o local diamantinense conhecido por abrigar prostíbulos.
"Quando nós cantamos para o presidente JK, que conhecia bem a história do Beco, ele ficou todo corado, segurando o riso e dizendo: 'Vocês são de morte!'. E nós, dependurados nos ombros dele, com a maior intimidade", conta Márcio Borges. Ele lembra ainda de ter ouvido a frase "Nada de Peixe Vivo!", sem confirmar se ela teria sido dita, em meio a muitos risos, por JK ou por Milton Nascimento. A canção - que será apresentada pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional na abertura da homenagem, marcada para as 19h desta sexta-feira, 25 - era a favorita de Juscelino.
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