domingo, 13 de março de 2011

Colecionadores são apaixonados por objetos que contam histórias

Fonte: UAI

É paixão, definem aqueles que mergulham no cotidiano em busca de preciosidades. Quase obsessão, pode-se suspeitar, já que para formar acervos de milhares de itens, levaram, no mínimo, metade da sua existência, quando não a vida inteira. E pelo prazer de achar o que procuram, todos já fizeram alguma extravagância, como gastar mais do que podiam. Não se importam. Está no sangue essa possibilidade. A “raça” é antiga. Muita vezes, são figuras de confiança de diretores de instituições e colecionadores, com serviços importantes para a arte e a cultura. Graças a eles existem acervos que contam a história do ser humano e das civilizações de jeito muito particular.

Renato Assumpção e Silva, de 79 anos, é dono da Assumpção Livros & Antiguidades, instalada no sexto andar Edifício Malleta. “Sou o mais antigo livreiro de Belo Horizonte”, afirma vaidoso. Ele é famoso por localizar livros para gente ilustre, como os bibliófilos Amilcar Martins ou José Midlin (1914-2010). “Sou antes de tudo um apaixonado pelo livro e pela leitura”, frisa. “Busco o que quero ler e o que os amigos pedem para comprar”, conta. “Gosto de ler obras importantes e nas melhores edições”, afirma o fã de edições caprichadas, com tiragem limitada, assinadas pelos autores e ilustradas. E mais: lê os livros segurando na lombada (“para não rachar”), encapa os volumes e não faz anotações nas páginas. “Assim o livro continua novo”, ensina.

Foi como amigo do dono e depois cliente que Renato Assumpção conheceu o “famoso segundo andar” da Livraria Oscar Nicolai, de Belo Horizonte, que importava obras raras. “Comprei vários volumes com satisfação, sem me importar com o preço”, conta. “Não tem livro caro ou barato, tem livro que vale o preço”. Inclusive porque sabia que podia vendê-los mais tarde. E garante que há mercado para livros raros, que é modesto em Belo Horizonte, mas significativo no Rio de Janeiro e São Paulo. “As pessoas querem o que elas não têm. E aí procuram o livreiro para buscar”, explica. Foi às voltas com encomendas que chegou a livros do século 17 e 18. Como o dicionário do século 19, de Jean-François Champollion (1790-1832), o homem que decifrou a escrita egípcia.

“Minhas atividades me deixaram muito conhecido em todo Brasil e as pessoas me enviam informações”, conta Renato. Ele explica que chegou aos títulos raros depois que um livreiro carioca, sem condições de comprar biblioteca de uma pessoa de Diamantina ligou para ele. Renato viajou até a cidade do Vale do Jequitinhonha e descobriu que o acervo era da antiga chácara dos bispos, adquirida por um admirador de livros antigos. Como estava procurando quantidade, comprou os 2,5 mil livros. Descobriu mais tarde, em meio ao material, os dois volumes de Corografia brasílica, de 1842, “em perfeito estado”. E “um José Anchieta”, do século 17 . E “cerca de 15 livros de excelente categoria”, classifica. Vendidos, pagaram a viagem e a empreitada.

O cultivado amor pelos livros do professor Renatinho, como é conhecido por amigos, vem do fato de ter convivido a vida inteira com bibliotecas, com direito a fuçar à vontade. A do pai, a do livreiro Amadeu Rossi, a de Oscar Nicolai. Ele já comprou, projetou e organizou bibliotecas. Na universidade, nos anos 1960, “saía catando livros em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro” para ele e os amigos estudarem. “Livro não era fácil como é hoje”, recorda. Reuniu livros ao longo da vida para formar a livraria que tem hoje, imaginada como modo de complementar aposentadoria e continuar fazendo o que gosta. “Todo mundo tem livro raro dentro de casa, só que não sabe disso”, diz. E garante que Minas Gerais é campo fértil nessa área.

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