quarta-feira, 30 de março de 2011

Garimpando na internet: contos de Diamantina

Garimpando na internet encontramos um grande tesouro: o site  Contos de Diamantina. Desenvolvido por um professor de História do Ensino Fundamental , o site disponibiliza documentos, fotos, artigos, lendas, mitos, contos, causos da cidade e região. Enfim, uma riquíssima   e extensa fonte de informações para quem quer  ampliar o conhecimento sobre a história regional.

Trasncrevo abaixo uma das preciosidades disponíveis  no excelente  Contos de Diamantina:

A iluminação em Diamantina

Nos antigos tempos, a nossa cidade era iluminada, primeiro, a azeite fumarento, com grandes lampiões de folha, suspensos por correntes, ás esquinas das ruas. Veio, depois, a iluminação a querosene, em lampiões, feita por arrematação, e havendo empregados para ascender, ás 6 horas da tarde, e apagar ás 12 horas da noite, os lampiões, os quais faziam o serviço, carregando escadas ás costas.

O interessante é que no período lunar, não havia iluminação; os lampiões eram retirados dos postes, e passavam por uma limpeza, sendo recolocados depois da lua cheia.

Quando havia espetáculos no velho Teatro de Santa Isabel, os lampiões a querosene sé eram apagados meia hora depois que aqueles terminavam.

Veio-nos , em seguida, a iluminação a gás de acetileno, que pouca ou nenhuma vantagem oferecia. Afinal, veio a luz elétrica, a principio muito boa e, depois, péssima com o aumento do consumo.

Diamantina, hoje, tem ótima luz.

Em certa ocasião que a cidade ficou ás escuras, o saudoso Juca Boi arranjou pedaços de archotes e os colocou nos lampiões.

A propósito da tradicional festa do Divino, nos antigos tempos de Diamantina, contavam os antigos: Certa vez, foi sorteado imperador um velho de vida irregular, que vivia em união ilícita.

Isto explica-se, porque, nos antigos tempos, não havia seleção na escolha de pessoas, para servir como festeiros.

O homem ficou tão comovido e contente com a escolha do Divino, que foi logo á igreja do Amparo; e, diante do trono, abre os braços e assim se exprime; “Ah! Seu Divino, até que, enfim, você me desabusou; vou-me casar com a bruaca velha e...”.

É excusado dizer que o casamento, se efetuou logo.

Quem diria? – O pitoresco Bairro do Rio Grande, onde hoje, se cuida da vida espiritual dos homens e se prodigaliza a caridade aos velhinhos desamparados, justamente ao alto da rua do Areão, era o ponto em que, nos antigos tempos de Diamantina, se executavam os infelizes condenados á morte.

Ainda há poucos anos, encontravam-se, ali, dois tocos dos postes do tringulo da forca.

Contavam os nossos antepassados as cerimônias impressionantes que precediam á cena horrível do enforcamento aterrador.

Precedia-na, pela manhã, na velha Sé, a missa em que o sentenciado recebia a sagrada comunhão.

Após a missa, formava-se o prestito fúnebre de um vivo-morto, composto da Guarda Municipal e do Destacamento Policial, de autoridades judiciais, conduzindo em direção ao local da forca, o condenado, vestido de túnica branca dos sentenciados, já com o laço da corda ao pescoço, e acompanhado pelo caixão mortuária, carregado á cabeça de outro sentenciado.

Seguia-no o Vigário da Paróquia, revestido de sobrepeliz e estola preta; o carrasco, que vinha especialmente, de Ouro Preto; e a banda de música local, que executava, durante o percurso, alguns trechos de uma marcha fúnebre, comovente e impressionante.

No local, a execução do condenado constituía a tragédia mais compungente que se pode imaginar!

É que o desgraçado, já enforcado pelo laço, suportava ainda enganchado no pescoço, o maldito carrasco, agindo com as mãos e fazendo força sobre os ombros do asfixiado, até que este pesasse meio palmo de língua para fora.

Consumada a cena, o carrasco cortava a corda, caindo ao solo o desgraçado, cujo cadáver era conduzido pelos presos da cadeia ao Cemitério do Burgalhau, hoje desaparecido.

Excusado é dizer que a banda de música, ao regressar de nefanda e burlesca tragédia, punha-se a tocar dobrados alegres!...

O último enforcamento que se verificou em Diamantina, foi em 1849, há mais de 90 anos.

Um episódio se deu, por ocasião desse último enforcamento. É que, no ato de ser enforcado o desgraçado, a corda arrebentou, e houve quem se prontificasse a vir buscar, na cidade, nova corda, para o suplício do infeliz.

REIS, Xisto, Voz de Diamantina, 1947.

Um comentário:

  1. Comento: Quanto à falta de corda, há também um relato, não me lembro mais onde li, dando conta de que o carrasco, vindo de Vila Rica, perdera a corda e que o comércio do Tijuco negara-se a vender-lhe uma nova para a ignomínia do enforcamento. Vou ver se acho.
    Johnny, dá pra dar uma dica?
    Abço.

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