terça-feira, 23 de julho de 2013

Adolescentes trabalham em situações perigosas na região de Diamantina

Fonte: Faculdade de Medicina da UFMG

trabalho-infantil2O trabalho adolescente pressupõe a existência de condições adequadas para sua execução,como supervisão e atividades que não sejam perigosas ou insalubres, conforme definido em lei. No entanto,tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG aponta uma realidade bem diferente desse ideal. O estudo, realizado em Diamantina, na Região Central de Minas Gerais, com 136 adolescentes entre 14 e 19 anos, encontrou 44% dos jovens envolvidos em alguma ocupação perigosa.  “Todos se encontram em alguma situação de risco. O risco é inerente ao trabalho e pode ser minimizado, não anulado”, explica Christiane Motta, autora do estudo.

A pesquisadora, também professora de Enfermagem na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM), identificou uma separação bem clara dos riscos entre os gêneros.“Os meninos foram mais suscetíveis aos riscos ergonômicos, como o uso constante de forma física e o trabalho repetitivo, enquanto as meninas sofreram mais com as características do ambiente, como poeira e pó, ventilação, mudanças de temperatura, umidade, barulho e contato com substâncias em alta temperatura”, aponta.

Essa separação é é resultado do perfil de atividades desenvolvidas por cada gênero. Enquanto 37% dos meninos estavam empregados na construção civil, ramo mais representativo na amostra para este gênero, as meninas estiveram mais associadas ao trabalho doméstico 56%. Em ambos os sexos o comércio foi a segunda atividade com mais adolescentes empregados: 27% dos meninos e 25% das meninas.

Além dos riscos, a falta de supervisão e até mesmo a inadequação dos jovens para o tipo de serviço são problemas comuns. “As atividades desenvolvidas na construção civil apresentam risco ergonômico elevado, além de serem perigosas, sendo proibidas por lei de serem realizadas por adolescentes”, explica Christiane. “Já o trabalho doméstico inclui várias situações que contribuem para o desenvolvimento de diversas doenças ocupacionais e podem trazer risco de acidentes, como o contato com poeira e pó e o manuseio de substâncias em altas temperaturas”.

Incentivo
Apesar dos riscos identificados, Christiane destaca que o trabalho adolescente é incentivado pela sociedade. “Além da necessidade, a cobrança da família e o desejo de terem mais independência financeira são fatores importantes para o jovem decidir entrar no mercado de trabalho”, afirma. O fato de serem mão de obra mais
barata também contribui para o desejo dos empregadores de contarem com estes trabalhadores.

Segundo a pesquisadora, isso é reflexo de uma cultura que entende o trabalho precoce como importante elemento na formação da identidade, relacionando-se diretamente com um futuro promissor. “A sociedade ainda está presa à ideia de que se o adolescente começar a trabalhar cedo estará mais apto ao mercado de trabalho”, comenta. “Por outro lado, existem poucas iniciativas do governo que ofereçam alternativas,
contribuindo para uma formação educacional de qualidade e a construção de uma visão política e social, cooperando com a formação profissional dos jovens e a inserção destes de forma produtiva e consciente no mercado de trabalho”.

Metodologia
A pesquisadora utilizou dados do cadastro familiar no Programa Saúde da Família para identificar os adolescentes trabalhadores, tanto na zona urbana quanto na zona rural. Visitas domiciliares foram realizadas para a aceitação e autorização de pais e adolescentes para a aplicação do questionário, o mesmo recomendado pelo programa de Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adolescentes Economicamente Ativos do Ministério da Saúde.

Para este estudo, a autora dividiu as zonas urbana e rural de Diamantina em diferentes setores, de acordo com as equipes do programa Saúde da Família dedicadas a eles, para delimitar a região a ser trabalhada. Apenas dois setores, escolhidos por sorteio, foram visitados – um na zona urbana, outro na zona rural.

De acordo com Christiane, apesar deste estudo ter se concentrado na questão dos riscos a que estes adolescentes estão submetidos, o banco de dados montado inclui também informações que podem servir
de base para vários outros estudos na área. “O questionário aplicado é bem abrangente, compreendendo
dados sociodemográficos, histórico ocupacional, características do ambiente de trabalho e o histórico de
saúde ocupacional”, destaca.

Serviço

Título: Caracterização dos riscos laborais em populações de adolescentes trabalhadores
Nível: Doutorado
Programa: Saúde da Criança e do Adolescente
Autora: Christiane Motta Araújo dos Santos
Orientador: Alysson Massote Carvalho (Instituto Presbiteriano Gamon – Lavras/MG)
Coorientador: Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Defesa: 17/05/2013

Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG
jornalismo@medicina.ufmg.br

Foto: http://caritas.org.br

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